Alejandra Pizarnik, nascida em 29 de abril de 1936, foi uma poetisa, ensaísta e tradutora argentina. Em seus poemas e diários, Pizarnik retrata sentimentos de angústia, de melancolia, incompatibilidade com o mundo, fantasias e mundos oníricos que beiram a loucura.
A partir da leitura de seus textos é como se pudéssemos espiar o seu próprio mundo interno, com suas estranhezas, melancolias, sonhos e desejos. Durante certo tempo, a escritora fez terapia com o psicanalista León Ostrov, com quem trocava muitas cartas. Algumas destas correspondências foram reunidas no livro Cartas, incluindo este célebre texto a seguir:
Simplemente, no soy de este mundo… Yo habito con frenesí la luna… No tengo miedo de morir; tengo miedo de esta tierra ajena, agresiva… No puedo pensar en las cosas concretas; no me interesan… Yo no sé hablar como todos. Mis palabras suenan extrañas y vienen de lejos, de donde no es, de los encuentros con nadie… ¿Qué haré cuando me sumerja en mis mundos fantásticos y no pueda ascender? Porque alguna vez va a tener que suceder. Me iré y no sabré volver. Es más, no sabré siquiera que hay un “saber volver”. Ni lo querré acaso.
(Simplesmente, não sou deste mundo… Habito a lua com frenesi… Não tenho medo de morrer, tenho medo desta terra alheia, agressiva… Não posso pensar em coisas concretas; não me interessam… Eu não sei falar como todos. Minhas palavras soam estranhas e vem de longe, de onde não é, dos encontros com ninguém… o que farei quando me submerja em meus mundos fantásticos e não possa ascender? Porque alguma vez há de acontecer. Irei e não saberei voltar. Mais do que isto, não saberei sequer que existe um “saber voltar”. Tampouco o desejaria)
Extração da pedra da loucura
Feita esta breve apresentação para ilustrar um pouco de sua aura, apresentaremos a seguir alguns fragmentos de seu livro “Extração da pedra da loucura” publicado pela editora Relicário. O título desta obra também é como se nomeia um dos quadros do pintor Hieronymus Bosch.
FRAGMENTOS PARA DOMINAR O SILÊNCIO
“As forças da linguagem são as damas solitárias, desoladas, que cantam através da minha voz que escuto ao longe. E longe, na negra areia, jaz uma menina densa de música ancestral. Onde está a verdadeira morte? Quis alumiar-me à luz da minha falta de luz. Os ramos morrem na memória. A jazente aninha-se em mim com a sua máscara de loba. A que não pôde mais e implorou por chamas e ardemos.”
O SONHO DA MORTE OU O LUGAR DOS CORPOS POÉTICOS
“Toda a noite escuto o chamamento da morte, toda a noite escuto o canto da morte junto ao rio, toda a noite escuto a voz da morte que me chama. E tantos sonhos unidos, tantas possessões, tantas imersões em minhas possessões de pequena defunta num jardim de ruínas e de lilases. Junto ao rio a morte me chama. Desoladamente desgarrada no coração escuto o canto da mais pura alegria. E é verdade que acordei no lugar do amor porque ao ouvir o seu canto disse: é o lugar do amor. E é verdade que acordei no lugar do amor porque com um sorriso de dolo eu ouvi o seu canto e disse-me: é o lugar do amor (mas trémulo mas fosforescente).”
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“Também cantou na velha taberna próxima do porto. Havia um palhaço adolescente e eu disse-lhe que nos meus poemas a morte era minha amante e a minha amante era a morte e ele disse: os teus poemas dizem a verdade exacta. Eu tinha dezasseis anos e não tinha outro remédio para além de procurar o amor absoluto. E foi na taberna do porto que cantou a canção. Escrevo com os olhos fechados, escrevo com os olhos abertos: que se desmorone o muro, que o muro se transforme em rio.”
SALA DE PSICOPATOLOGIA
“Mas curar o quê? E começar a curar por onde? É verdade que a psicoterapia na sua forma exclusivamente verbal é quase tão bela como o suicídio. Fala-se. Mobília-se o cenário vazio do silêncio. Ou, se há silêncio, este transforma-se na mensagem. – Porque está calada? Em que pensa? Não penso, pelo menos não executo o que chamam pensar. Assisto ao inesgotável fluir do murmúrio.”