Rena Faber lança obra sobre autodescoberta, amor próprio e presença em um mundo cada vez mais (des)conectado de si

Poesia é (re)descoberta de si. Esta é a frase que melhor resume o livro “Dentro do meu corpo mora um rio” (Editora Patuá, 108 págs.), primeira obra de poesia da mineira Rena Faber (@rena.faber), que é jornalista e pós-graduada em psicanálise. Através de um olhar perspicaz e analítico do mundo, a autora faz um traçado poético que serve como farol para quem busca por autoconhecimento e transformação. O texto da orelha é assinado pela atriz, escritora e artista Liana Ferraz e a quarta capa conta com comentário da autora best-seller Ryane Leão.

A obra será comercializada na Casa Gueto, durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) 2024, que acontece de 9 a 13 de outubro. A autora também tem evento de lançamento marcado em seguida, em Belo Horizonte (MG),  no dia 19, das 15h às 17h, no Espaço Comum Luiz Estrela (Rua Manaus, n° 348, Santa Efigênia), dentro da programação do Festival de Primavera.

O livro é dividido em seis partes que, apesar de funcionarem de maneira linear, também se entrelaçam e levantam questões que vivemos inúmeras vezes ao longo da nossa jornada.  “Morte e Vida”, “Corpo”, “Criança e Anciã”, “Intuição”, “Mulher” e “Lar” são os capítulos que costuram a obra e  guiam esse mergulho na paisagem interna do leitor.  Ao falar sobre esses temas, a autora traz à tona forças arquetípicas que moram dentro de todos nós, independente de gênero, classe social, idade ou cultura. 

Embora o livro conte com vários poemas que evocam questões diretamente relacionadas às mulheres, o tema do feminino é ampliado para além do literal.”Quando escrevo poemas sobre mulheres, não estou falando apenas sobre uma experiência de gênero, mas sobre um resgate do sensível”, explica Rena. 

Para a autora, o que precisamos é “rever nossa rota” para evitar cairmos repetidamente no que ela chama de “ciclo de exaustão”. “Vivemos em uma época moldada por valores patriarcais, onde somos constantemente estimulados para sermos mais produtivos e, nessa lógica do desempenho, ficamos cada vez mais distante de nós mesmos”, analisa.

“Dentro do meu corpo mora um rio” também propõe que repensemos a relação do ser humano com a natureza. Em um de seus poemas, chamado Medicina, a autora relembra o lugar onde passou a infância, no interior de Minas Gerais: “Aprendi a buscar a cura em banhos de rio, pés descalços e canto de pássaro”.

Para além de uma vivência pessoal, a reconexão com a natureza aparece como uma questão coletiva e uma forma de criar novos futuros. “Há tempo demais o homem tem se colocado como o centro do mundo e enxergado a humanidade como algo à parte. Gosto quando o Ailton Krenak lembra que o Rio Doce, para os Krenaks, é chamado de Watu, uma entidade que transcende o sentido físico do rio e é considerada um avô. Você não explora o que entende como sagrado”, reflete Rena. 

O elemento da água e a simbologia dos rios 

Todos os elementos da natureza – água, fogo, terra e ar – têm presença forte durante a narrativa. De acordo com a autora, o elemento da água foi o escolhido para ser protagonista no título da obra porque “está relacionado com as nossas emoções e a capacidade que temos de navegar nelas”. “Acredito que essa é a habilidade mais importante para o mundo moderno. Não é à toa que a Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que a depressão pode se tornar a doença mais comum dos próximos 20 anos.”

Em relação à simbologia do rio, Rena conta que em uma leitura mais imediata, o rio traz a ideia de fluxo, mas em análise mais profunda, também fala sobre renascimentos. “Em várias mitologias, ele aparece como o lugar onde as pessoas iam depois da morte e era decidido o caminho daquela alma. Poderia-se ir ‘rio acima’ – uma existência mais abundante – ou ‘rio abaixo’ – voltar a repetir padrões – que não nos ajudam no nosso crescimento. Se ampliamos a simbologia desses mitos, percebemos que fazemos essa escolha – por expansão ou ‘mais do mesmo’ – todos os dias”, justifica.

Poesia é barco para atravessar nossa paisagem interna 

Aos 31 anos, a poeta Rena Faber tem uma longa trajetória ao lado das palavras. Nascida em Belo Horizonte, capital mineira, é graduada nos cursos de Publicidade & Propaganda e Jornalismo, ambos pela PUC Minas. Recentemente, concluiu uma pós-graduação em Psicanálise pela PUC do Rio Grande do Sul. Além de lançar “Dentro do meu corpo mora um rio”, Rena tem participação na antologia Nós, do Selo off Flip, e na Coletânea 45 Escritoras Neolatinas Contemporâneas, da Philos. Ambas serão lançadas durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) 2024.

Com referências da psicologia e da filosofia, de Carl Jung a Ailton Krenak, Rena frisa algumas de suas referências literárias, como Clarissa Pinkola Estés, Ana Martins Marques e Manoel de Barros, além de dois grandes nomes da nossa escrita que também compõe seu novo livro,  Ryane Leão e Liana Ferraz.

Dentro do meu corpo mora um rio”, como a própria autora diz, é uma obra de coragem e um voto de confiança nas palavras que pulsam dentro. “Esse livro é meu passado, presente e futuro. Com erros, tropeços, cansaços, mas também com gargalhadas, estrelas cadentes, pés descalços, balanço de rio e de rede. É a lembrança de que meu lar mora no corpo, onde encontro os conselhos que preciso para seguir. Talvez, daqui a alguns anos, esse livro seja um lugar para onde eu possa voltar e lembrar que sou água corrente, infinita e indomável”, finaliza.


Garanta o seu exemplar no site da Editora Patuá:
https://editorapatua.com.br/dentro-do-meu-corpo-mora-um-rio-poemas-de-rena-faber/


Confira o poema “Inícios” (pág. 31), de Dentro do meu corpo mora um rio”

Para todos os jeitos de voar:
uma pipa, um pássaro, uma mulher
Para tudo que vamos amar:
um corpo, um poema, uma raiz
Para todas as travessias:
na terra, na água ou em si
Há sempre alguém com olhos curioso
que dá o primeiro passo
sem medo do tropeço

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