O peso dos segredos enterrados nas palavras de Giovanna Rivero em “Terra fresca da sua tumba”

Terra fresca da sua tumba1, da escritora boliviana Giovanna Rivero e com tradução de Laura Del Rey, é uma coletânea de seis contos que mergulha profundamente nos abismos da condição humana, explorando temas como vingança, violência, traumas, e as fronteiras entre o real e o imaginário. Publicado no Brasil em 2021, o livro se destaca pela habilidade da autora em conjugar o grotesco com o poético, criando uma atmosfera sombria que desafia os limites do horror literário.

Rivero constrói suas narrativas com uma prosa inquietante, onde cada palavra parece escolhida para provocar uma reação visceral no leitor. Os contos abordam diferentes cenários e personagens, mas todos compartilham um ponto em comum: a exploração das camadas mais sombrias da psique humana. As histórias são povoadas por fantasmas, corpos em decomposição, e segredos enterrados, literalmente, sob a superfície.

Um dos aspectos mais marcantes do livro é a forma como a autora utiliza o terror como um meio de reflexão cultural. Rivero aborda questões como a violência de gênero, a morte, e a relação conflituosa entre tradição e modernidade, sem nunca cair em moralismos ou didatismos.

Ao contrário, a autora permite que o horror floresça como uma metáfora para as cicatrizes que a história e a sociedade deixam nas pessoas. Ela consegue transformar o grotesco em algo quase belo, criando uma tensão entre o fascínio e a repulsa que mantém o leitor preso do início ao fim. Outro ponto que merece destaque são as personagens femininas, que desempenham um papel central na obra assumindo a responsabilidade de narrar tanto suas próprias histórias quanto as de outras pessoas.

No entanto, o livro não é uma leitura fácil. A narrativa pode ser desafiadora para alguns leitores, pois é possível experienciar, com a escrita de Rivero, o ato de revirar, de fato, uma tumba de temas desconfortáveis. A recompensa, porém, é uma obra que oferece uma profunda reflexão sobre a condição humana, embalada em um estilo literário intrépido.

A morte é bonita?, Amador lhe perguntava incansavelmente.

E Coronado respondia que, de todas as coisas que já haviam acontecido a ele nesse mundo, a morte era a melhor. É uma luz, Coronado dizia, sem abrir os olhos ou enrugar as pálpebras, porque certamente era verdade; certamente se tratava de uma luz que já não feria, que não lacerava as últimas células. (Conto: Peixe, tartaruga, urubu)

No mais, Giovanna Rivero entrega uma coleção brilhante, que desafia o leitor a enfrentar os horrores que muitas vezes preferimos ignorar. Terra fresca da sua tumba é um exemplo de como a literatura de horror pode ser utilizada para explorar questões sociais e psicológicas de maneira expurgante. É uma leitura recomendada para aqueles que buscam algo mais perturbador do que o terror convencional.

Você pode encontrar o livro aqui, aqui e aqui.

  1. Terra fresca da sua tumba, Giovanna Rivero. Tradução Laura Del Rey. Jandaíra, 2021. ↩︎

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