“O Prazer é Todo Meu”(2023): desmistificando o prazer na terceira idade

Em tempos em que se tornou cada vez mais normal discutir a “necessidade” de cenas de sexo no cinema, e com filmes cheios de pessoas lindas, mas tratadas como bonecos assexuais, nunca se fez tão importante trazer a sexualidade para nossas telas novamente. O Prazer é Todo Meu, escrito e dirigido por Vanessa Sandre, coloca isso em pauta pelo que é, talvez, um dos elos menos discutidos dessa temática que é o prazer feminino na terceira idade.

Idosos fazendo sexo ou buscando qualquer forma de prazer, costuma ser alvo de piadas, vide diversas variações da imagem do “vovô tarado” e afins. No pior dos casos, isto é usado para elicitar terror ou nojo nos espectadores, como em X – A Marca da Morte, onde o par de vilões são idosos, interpretado por dois atores jovens cobertos de uma maquiagem absolutamente grotesca, convidando a uma repulsa gratuita e ainda conta com uma cena de sexo entre os dois com uma trilha sonora sombria, como se o mero ato fosse horrível em si.

O Prazer é Todo Meu lida com o assunto com humor, mas sua protagonista, Amélia (Margarida Baird), não é o alvo da piada, e suas tentativas em redescobrir sua sexualidade possuem certa graça pela sua relação de fascínio envergonhado com o assunto. É evidente seu espanto quando uma amiga, Adelaide (Arly Arnaud), confessa que não casou virgem, e é desse choque de realidade que vem o riso. É como um coming of age tardio, em que no lugar de um adolescente descobrindo o que fazer na hora H, temos uma vovó de cabelos brancos assistindo um vídeo sobre como ter o melhor orgasmo da sua vida.

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Mas não se trata sobre o sexo de maneira física ou fisiológica somente, mas sim como forma de conexão consigo e com o outro. Presente no filme, está a silenciosa figura de Otto (Luiz Carlos Conti), marido de Amélia, que, em um primeiro momento, ela também deseja trazer nessa jornada. Seu olhar demorado e carinhoso para o esposo durante o café da manhã deixa isso claro, assim como sua primeira tentativa na cama de um contato mais próximo, íntimo, na forma de um “carinho gostoso”. Contudo, ela só recebe de volta a indiferença.

Então, como já entrega o título, o prazer será todo dela. Sozinha, à meia luz, seu corpo passa a ser visto de forma sensual, como merecedor do prazer desfrutado por muitos, mas que a idade lhe parece negar. Não mais diante do espelho, ela se toca e se redescobre como um ser sexual. Afinal de contas, nada mais natural que o tesão.

Filme visto durante a 7ª Mostra Lugar de Mulher é no Cinema

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