Os mistérios de “Rebecca”, a personagem ausente de Daphne Du Maurier

Publicado em 1938 e imortalizado no cinema pela adaptação de 1940 dirigida por Alfred Hitchcock, Rebecca é uma obra inesquecível, marcante como a personagem título, a qual, aliás, surpreendentemente não é a protagonista da história.

Rebecca é, na verdade, o nome da primeira esposa de Maximilian de Winter, um viúvo que se casa com a protagonista, cujo nome nunca é sequer revelado e é referida nos diálogos sempre apenas como a segunda Sra. de Winter.

A edição de Rebecca lançada pela editora Darkside (2023)

É através da perspectiva dessa jovem, inocente, tímida e imatura, que nos é apresentada a narrativa. Antes de se casar com Maximilian, a Sra. de Winter era dama de companhia, pois sua situação de vida não a permitia muitas opções, sendo órfã e sem propriedades. É em uma viagem com a senhora que acompanhava que ela conhece Maximilian, um homem mais velho, viúvo e misterioso, que não revela muito sobre o seu passado, mas aprecia sua companhia.

Joan Fontaine e Laurence Olivier em Rebecca (1940), de Alfred Hitchcock

Após se casarem, a protagonista vai morar com Maximilian em sua mansão, a famosa Manderley, uma antiga propriedade de renome na região, mantida por uma grande equipe de criados. Entre eles, encontra-se a governanta, Sra. Danvers, uma mulher fria e um tanto arrogante, que tinha muito afeto por Rebecca e faz questão de deixar isso claro. A Sra. Danvers menciona Rebecca com frequência, bem como o fazem parentes de Maximilian e vizinhos que visitam o casal. Tais frequentes menções à Rebecca fazem com que a protagonista sinta-se inadequada, pois todos parecem sempre cheios de elogios à memória da falecida, ao seu jeito extrovertido e cativante, qualidades as quais ela não acredita possuir.

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A presença de Rebecca é constante, pois tudo na casa a pertencia: as peças de roupa e jogos de cama carregam seu perfume, as folhas no escritório contêm suas iniciais, e isso tudo assombra a protagonista. Para piorar a situação, a relação dela com o marido nos primeiros meses de casado parece esfriar: ela nota Maximilian cada vez mais distante e acredita que ele não a ama, pois pensa que ele ainda sente falta da esposa falecida. A verdade, no entanto, é muito mais sombria, e os capítulos finais são um desenrolar de mistérios e um suspense acelerado que prende o leitor em cada vírgula.

Detalhes da edição de Rebecca pela Darkside

Com uma atmosfera Gótica, a ambientação da obra nos remete a clássicos como Morro dos Ventos Uivantes, sendo Manderley uma residência imponente e habitada por um passado que não vai embora. Já a jornada pessoal da protagonista, de uma jovem órfã, deslocada no mundo, para uma mulher mais forte com um grande senso de pertencimento, nos remete muito a Jane Eyre.

A mansão Manderley, em Rebecca (1940), de Alfred Hitchcock

A obra também foi adaptada em um mais recente filme lançado na Netflix em 2020, com direção de Ben Wheatley. O filme tem uma fotografia

Uma leitura intrigante e envolvente, Rebecca é definitivamente inesquecível. Adquira aqui a edição da Darkside, que conta com texto introdutório com tudo o que você precisa saber sobre a obra.

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