Limerência: as projeções e vulnerabilidades de Júlia Gamarano em “Ao meu único desejo”

Com publicação pela editora Cachalote, selo de publicação da Aboio editora em parceria com a Lavoura Editorial, “Ao meu único desejo” é o segundo livro da poeta carioca Júlia Gamarano (@juliagamarano). Destacando-se principalmente pela intensidade de seu texto, a jovem escritora estreou em 2023, com a coletânea de poemas “Toda beleza tem que morrer” (Editora Patuá).

“Ao meu único desejo” é descrito pela autora como “um estudo sobre limerência”, isto é, um fenômeno cognitivo marcado por uma afetividade obsessiva em relação ao outro, que se mantém mesmo com a rejeição ou a não-correspondência do outro. Neste caso, o eu-lírico de Gamarano dedica-se a falar de uma figura masculina não nomeada e mais velha do que ela, num denso monólogo que, na realidade, vai se revelando autorreferente e projetivo, sem qualquer compromisso com a experiência da realidade.

Os poemas que compõem a obra são repletos de referências eruditas e populares, que também aparecem em outras línguas, como o inglês e o grego. Essas referências são cruciais para entendermos quem é o eu-lírico de Júlia Gamarano, uma mulher jovem, complexa e sarcástica, que enfrenta o desafiador processo de transição entre a adolescência e a fase adulta.

Deste modo, o tema do desejo, da sexualidade e do amor são todos cercados pela perda da inocência, manifestada ora pela delicadeza, ora pela emulação de uma postura vulgar. E, nesse emaranhado de emoções, o leitor também toma contato com assuntos como distúrbios alimentares, saúde mental e cultura da pedofilia.

A autora, Júlia Gamarano, documenta este processo sendo ela própria uma jovem adulta. Nascida no ano de 2000, no Rio de Janeiro, ela atualmente vive em São Paulo e é estudante de Letras Português/Russo na Universidade de São Paulo (USP).

“Ao meu único desejo” está em pré-venda no site da Editora Aboio até o dia 9 de junho. Garanta o seu exemplar aqui.

Texto de Laura Redfern Navarro

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