Carolina de Jesus, autora de “Quarto de Despejo”, ganha um site exclusivo sobre sua vida e obra

No dia 14 de março, data de nascimento de Carolina de Jesus (1914-1977), o Instituto Moreira Salles vai lançar um site exclusivo sobre a vida e a obra da escritora. Acessível neste endereço, o site reúne extensa informação sobre a trajetória e a produção literária da escritora mineira, que se tornou internacionalmente conhecida com a publicação, em 1960, de seu livro Quarto de despejo.

“Tem uma proposta central neste site, que é o de ser um ponto de encontro, onde admiradores, estudiosos, leitores e todas as pessoas que se sentem tocadas por Carolina poderão compartilhar aspectos preciosos de sua vida e obra em movimento”, diz a professora e pesquisadora Fernanda Miranda, responsável pela concepção do projeto. Fernanda esteve à frente da pesquisa literária nos manuscritos de Carolina para a exposição Carolina Maria de Jesus, um Brasil para os brasileiros, exibida no IMS Paulista (2021) e no Museu de Arte do Rio – MAR (2023), entre outras instituições.

O site se organiza em quatro seções: Biografia, Obras, Arquivo Vivo e Encontros. A primeira, ilustrada com fotografias, reportagens e reproduções de manuscritos, traça uma linha do tempo, que começa com o nascimento do avô da escritora, Benedicto José da Silva, em 1862, 26 anos antes da abolição da escravatura. Há ainda vídeos, um deles com a filha Vera Eunice falando sobre a mãe, ou com a própria Carolina em seu sítio em Parelheiros, na periferia de São Paulo, para onde se mudou em 1969.

Leia também: Por que ler Carolina de Jesus?

A seção Obra destaca os livros mais conhecidos – Quarto de despejoCasa de alvenaria e Diário de Bitita ganham cada um ambiente próprio – e lista toda sua produção. Carolina é autora de uma obra extensa, que passa por diversos gêneros literários: poesia (ela se autodefinia como poeta), romance, contos, provérbios. Também é possível ler na íntegra o primeiro de dois cadernos do manuscrito Um Brasil para os brasileiros, sob a guarda do IMS. O manuscrito foi editado e publicado na França e depois traduzido para o português com o título Diário de Bitita, com diferenças substanciais entre eles. O visitante pode ainda ouvir todas as faixas do disco Quarto de despejo, lançado pela RCA Victor em 1960.

Já a seção Arquivo Vivo reúne cartas escritas e recebidas por ela e um extenso material sobre a exposição Carolina Maria de Jesus – Um Brasil para os brasileiros, incluindo os depoimentos gravados pelas 12 conselheiras da mostra, entre elas Elisa Lucinda, Conceição Evaristo e Carmen Silva. E ainda traz o registro de cantores, como Virgínia Rodrigues e Wanderson Lemos, interpretando canções da escritora. Também está ali a reportagem histórica do jornalista Audálio Dantas publicada na revista O Cruzeiro em 20 de junho de 1959, que tornou a escritora conhecida no Brasil.

“A Carolina tem uma trajetória bem longa com o jornalismo. Entre as escritoras negras brasileiras, é a que provavelmente mais foi fotografada e mapeada pela imprensa. A ideia é ir colocando essas reportagens aos poucos”, diz Fernanda.
 

Por último, a seção Encontros, dividida entre Pesquisa, Escrita e Sala de Aula, espaço mais colaborativo no site. “Queremos construir um banco de teses para que as pessoas consigam acessar o conhecimento que tem sido produzido sobre a Carolina na universidade, mas que não seja excludente”, explica Fernanda. Assim, cada tese no site é apresentada de modo informal, em vídeo, pelo próprio autor. A aba Escrita traz depoimentos de autores cujas obras se relacionam de modos diferentes com Carolina. E, em Sala de Aula, o objetivo é que professores compartilhem trabalhos que vêm sendo realizados com seus alunos. O site já entra no ar com um vídeo em stop motion feito em sala de aula por alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) de Vila Atlântica, São Paulo, coordenados pela professora Maisa Paes.

“O site é um projeto em andamento, vai se fazendo com o tempo, muito conteúdo ainda vai ser produzido”, explica Fernanda, que tem expectativa nos materiais e depoimentos que ainda serão colhidos, com o objetivo de constituir arquivos de memória vivos no presente. Além disso, o site incentivará o público a contribuir com a sua construção, enviando comentários e sugestões no seguinte e-mail: site܂carolina@ims܂com܂br

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