Cabeça de galinha no chão de cimento, de Ricardo Domeneck, busca retorno às origens, aos ancestrais, às memórias da infância e adolescência no interior
Com uma dezena de livros publicados no Brasil nos últimos vinte anos, antologias na Holanda, Alemanha e outras a caminho, Ricardo Domeneck, nascido no interior paulista e radicado em Berlim, é uma das vozes mais autênticas da poesia brasileira contemporânea e uma referência na lírica amorosa homoerótica.
Cabeça de galinha no chão de cimento, de Ricardo Domeneck, aprofunda outra senda de sua produção: a do retorno às origens, aos ancestrais, às memórias da infância e adolescência no interior, fortemente contrastadas pelo tempo e pela experiência de vida no exterior, numa tentativa de compreensão de seu lugar e de seu estar no mundo.
Nesse exercício psicanalítico e antropológico, vêm à tona anseios, conflitos e traumas, bem como elos e intuições poderosas, que aqui se desdobram numa lírica dos afetos e da alteridade — seja em relação aos antepassados, a poetas de sua geração ou a outras espécies animais —, sempre atravessada pelo erotismo, que, como já apontou o crítico Gustavo Silveira Ribeiro, atua em sua poética como “um campo de força a partir do qual pensar não só os seus próprios gozos e lástimas, mas também algumas das contradições mais agudas do seu tempo”.
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Na orelha do livro, Eduardo Sterzi comenta:
Para aquele que se dispõe a observar, como diz no incipit de um poema, a “história da terra/ no próprio corpo”, o cafuné, esse gesto aparentemente singelo que concentra muitas das contradições e das complexidades de uma sociedade ferida definitivamente pela colonização e pelo escravismo (e que, não por acaso, se prestou a um exercício de psicanálise histórica por Roger Bastide), pode ser a herança por excelência, “herança milenar”, transmitida diretamente pelas mãos da mãe e do pai e capaz de ultrapassar “as datas de validade/ das eras geológicas/ e das mudanças de governo”, muito mais duradoura do que “a madeira dos móveis”, que “empena”, ou o metal das “moedas/ do tempo do Imperador”, que “enferruja”.
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Sobre o Ricardo Domeneck:
Ricardo Domeneck nasceu em Bebedouro, SP, em 1977, e vive e trabalha desde 2002 em Berlim, na Alemanha. Poeta, contista e ensaísta, publicou dez volumes de poemas e dois de contos, entre os quais se destacam: Cigarros na cama (Livraria Berinjela, 2011), Medir com as próprias mãos a febre (7 Letras, 2015) e Odes a Maximin (Garupa, 2018) no campo da poesia; Manual para melodrama (7 Letras, 2016) e Sob a sombra da aboboreira (7 Letras, 2017), em prosa.
Uma seleção de todo o seu trabalho foi reunida em Mesmo o silêncio gera mal-entendidos: antologia 2000-2020 (Garupa Edições, 2021). Foi coeditor da revista Modo de Usar & Co. (2007-2017) e atualmente edita a revista Peixe-boi. Tem antologias de poemas publicadas na Alemanha (Körper: ein Handbuch, 2013), na Holanda (Het verzamelde lichaam, 2015), e seu livro Ciclo do amante substitu ível (7 Letras, 2015) foi publicado na Espanha (Ciclo del amante sustituible, 2014). Estão em preparo sua segunda antologia poética em alemão (Verlagshaus Berlin, Berlim) e sua primeira em inglês (World Poetry Books, Nova York).