Escavar histórias algumas vezes torna o passado mais presente do que o próprio presente e nessa algaravia de tempos sobrepostos em anacronia, descobrimos histórias cuja existência reinventam nossas possibilidades de existência. Dessa vez, quem me trouxe isto foi a poeta japonesa chamada Fumiko Nakajo que viveu no começo do século XX, entre a década de 20 e 50 e morreu de maneira trágica aos 31 anos. Curiosamente, ela morreu com a idade que a poesia tanka, estilo adotado pela autora, tem como forma: o uso de 31 versos.
A sua biografia foi, desde o começo, repleta de percalços, alguns pelas desigualdades de gênero do próprio ser mulher, outros pelas tragicidades próprias da vida. Ela desde cedo quis fazer poesia, mas acabou dentro de um casamento arranjado com um marido que não amava e cujo desamor era recíproco. Após uma traição escancarada, ela pede divórcio e passa a ser vista pela cidade como a mulher divorciada. Com dois filhos, passa a se esquivar do mundo, exceto pelo grupo de poesia que participa e começa a ganhar destaque.
Quando tudo parecia querer se ajustar, Fumiko descobre um câncer de mama, realiza mastectomia e passa a viver com uma saúde frágil de um câncer que reaparece. Enquanto isso, seus poemas são publicados em Tóquio e ela começa a atingir um sucesso literário que acompanha a deterioração de sua saúde.
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E como eu descobri a sua história? Através de um filme japonês de 1955 de uma diretora e atriz chamada Kinuyo Tanaka. Com uma sensibilidade ímpar e com atenção aos detalhes, o filme retrata a experiência de vida de Fumiko através de um “ethos feminino”, o que antecipa em muito um cinema contemporâneo que busca retratar as mazelas deste “ser mulher”.
De uma poeticidade constante, o filme surpreende por uma agilidade nos cortes de cena e por conduzir o espectador para o interior da história de Fumiko. Muitas vezes assistimos as cenas de uma janela ou de uma porta entreaberta, como espectadores da via crucis da poeta. Enquanto isso, no entanto, Tanaka nos arrasta também para a cidade, para o movimento exterior do mundo que entra antítese com o tempo poético que a existência de Fumiko passa a ganhar.
Fumiko Nakajo e Kinuyo Tanaka: duas mulheres geniais da literatura e cinema japonês que todo mundo tem que conhecer.
Veja o trailer completo do filme aqui: