“Paterson”: conheça a obra-prima de William Carlos Williams

Depois de uma vida inteira dedicada a inventar um idioma radical em que predominam a justeza e a beleza, William Carlos Williams decide escrever Paterson, sua obra-prima, história, ao mesmo tempo, de um homem, de uma cidade, de um país e de uma cultura com todas suas tensões e contradições.

Monumento poético da literatura norte-americana do século XX, Paterson é um longo poema que combina verso, prosa, arquivo, corte, montagem e um lirismo de objetividade cativante. Nele, a poesia do alto modernismo em língua inglesa encontra um registro que a tudo deseja abarcar.

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Paterson foi escrito ao longo dos anos de 1940 e 1950 e sua versão integral só foi publicada postumamente, em 1963. Desde então, o poema tem feito a cabeça de várias gerações e artistas, entre eles, Jim Jarmusch que dirigiu o filme homônimo em homenagem ao livro. Arthur Nestrovski escreve no texto de orelha do livro:

“Eis um épico de pés descalços, pisando firme na areia da realidade. Um grande poema democrático em ‘idioma americano’. O gênio do poeta e as circunstâncias do momento fazem dele, agora talvez como nunca, um poema do nosso tempo.”

Na edição da Companhia das Letras, de 1987, com tradução de José Paulo Paes chamada Poemas, também podemos ler um trecho da obra. Confira:

Prefácio


O rigor da beleza é o alvo da busca. Mas como se poderá encontrar a beleza se ela está encerrada na mente, para além de toda admoestação?

     Compor um começo
     com particularidades
     e torná-las gerais, arrolando
     a soma, por meios imperfeitos –
     Farejando as árvores,
     um cão qualquer
     num bando de cães. O que
     mais ali? E que fazer?
     Os outros debandaram –
     atrás de coelhos.
     Só o estropiado permanece – sobre
     três pernas. Coça-te adiante e atrás.
     Engana e come. Desenterra
     um osso embolorado

Pois o princípio indubitavelmente é
o fim – já que de nada sabemos, puro
e simples, para além
de nossas próprias complexidades.

                              E no entanto
não há nenhum retorno: rolando para fora do caos,
prodígio de nove meses, a cidade
o homem, uma identidade – e nunca poderia
ser de outra maneira – uma
interpenetração, em ambos os sentidos. Rolando
para fora! obverso, reverso;
o bêbado o sóbrio; o renomado
o grosseiro; um só. Na ignorância

um certo saber , saber
não-disperso, seu próprio desbarato.

                                 (A múltipla semente,
apinhada de detalhes, azedada,
fica perdida no fluxo e a mente,
distraída, vai-se flutuando com a mesma
escuma)

A rolar, a rolar prenhe de
números.

                     É o sol ignorante
erguendo-se no rastro de
erguidos sóis vazios, pelo que neste mundo
jamais um homem poderá viver a gosto no seu corpo
a não ser morrendo – e sem saber-se
morrendo; este no entanto é o
desígnio. Renova-se a si mesmo .
de tal modo, em soma e subtração,
andando para cima e para baixo.

            e o ofício,
subvertido pelo pensamento, a rolar para fora, cuide-se
ele de não se voltar tão-só para a
escrita de poemas estagnados…
Mentes como camas sempre feitas,
                          (mais pedregosas que uma praia)
relutantes ou incompetentes.

                              A rolar, o topo para cima,
sob, empuxo e retrocesso, um grande estardalhaço:
alçado feito ar, transportado, multicolorido, um
detrito dos mares –
da matemática a particularidades –
                                 dividido como as orvalhadas
neblinas flutuantes, que as chuvas vão lavar e
recongregar num rio, um rio que corre
e que dá voltas:

                                conchas e animálculos
geralmente, e assim até ao homem,                             

                                 até Paterson.

Sobre o autor

William Carlos Williams nasceu em Rutherford, nos Estados Unidos, em 1883, filho de pai inglês e mãe porto-riquenha. Clínico geral e pediatra, deixou uma extensa obra literária, que inclui poesia, prosa, ensaio e teatro. Williams é considerado um dos principais nomes do modernismo norte-americano, e foi laureado postumamente com o prêmio Pulitzer em 1963.

Ficha Técnica

TítuloPaterson

Autor: William Carlos Williams

Tradução, posfácio e notas: Ricardo Rizzo

Formato: 13,5 x 20 cm

Páginas: 372 pp

Preço: R$ 89,90

ISBN: 978-65-84574-86-1

Preço e-book: R$ 54,90

ISBN e-book: 978-65-84574-75-5

Envio da caixa aos assinantes: agosto

Lançamento de Paterson nas livrarias: 1/9/2023

Editora: Círculo de Poemas

Ficha Técnica Plaquete

TítuloMapa do céu na terra

Autora: Carla Miguelote

Formato: 13,5 x 20 cm

Páginas: 24

ISBN: 978-65-84574-68-7

Preço da plaquete: R$ 40,00

Envio da caixa aos assinantes: agosto

Lançamento de Mapa do céu na terra nas livrarias: 1/9/2023

Editora: Círculo de Poemas

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