Os 10 melhores poemas de Sylvia Plath

A americana Sylvia Plath foi uma grande poetisa, contista e romancista do séc XX. Mas por trás de suas sóbrias e elucidativas palavras, de seu sucesso literário, e de seu aparente casamento perfeito, havia uma jovem mulher tristemente atormentada pela depressão, que a levou ao suicídio em 1963. Os melhores poemas de Sylvia Plath são marcados por força, crueza e potência, com referências a suas experiências cotidianas e constantemente marcada pela presença da morte. Plath, que perdeu o pai quando criança, tentou o suicídio diversas vezes, até o dia em que se matou com a cabeça dentro do forno enquanto as crianças dormiam. Uma trágica e triste história de uma grande poeta.

O NotaTerapia separou os 10 melhores poemas de Sylvia Plath. Confira:

Ariel

Êxtase no escuro,
E um fluir azul sem substância
De penhasco e distâncias.

Leoa de Deus,
Nos tornamos uma,
Eixo de calcanhares e joelhos! – O sulco

Fende e passa, irmã do
Arco castanho
Do pescoço que não posso abraçar,

Olhinegra
Bagas cospem escuras
Iscas –

Goles de sangue negro e doce,
Sombras. Algo mais

Me arrasta pelos ares –
Coxas, pelos;
Escamas de meus calcanhares.

Godiva
Branca, me descasco –
Mãos secas, secas asperezas.

E agora
Espumo com o trigo, reflexo de mares.
O grito da criança

Escorre pelo muro
E eu
Sou flecha,

Orvalho que avança,
Suicida, e de uma vez se lança
Contra o olho

Lesbos

Crueldade na cozinha!
As batatas sibilam.
É tudo Hollywood, sem janelas,
A luz fluorescente oscila como terrível enxaqueca,
Nas portas, tiras de papel furtivas –
Cortinas de palco, permanente de viúva.
E eu, amor, sou uma mentirosa patológica,
E minha filha – olha só pra ela, de cara no chão,
Títere sem fios, louca pra sumir –
Como ela é esquizofrênica,
Seu rosto rubro e pálido, um pânico,
Você botou os gatinhos dela pra fora de sua janela
Num tipo de cisterna
Onde eles vomitam e cagam e gritam e ela não pode ouvir.
Você diz que não a suporta,
A bastarda é uma menina.
Você, que queimou suas válvulas como rádio ruim
Limpa de vozes e histórias, do estático
Barulho do novo.
Você diz que eu devia afogar os gatinhos.
O fedor!
Você diz que eu devia afogar minha filha.
Ela vai se degolar aos dez se é doida aos dois.
Lesma gorda, o bebê sorri
Dos polidos losangos de linóleo laranja.
Você poderia comê-lo.
É um menino.
Você diz que seu marido não lhe satisfaz.
A mamãe judia guarda o sexo dele como pérola
Você tem um bebê, eu tenho dois.
Eu devia me sentar na Cornuália e me pentear.
Eu devia usar calças tigradas, ter affair.
Devíamos nos encontrar em outra vida, no ar,
Eu e você.

Enquanto isso há um fedor de gordura e merda de bebê.
Meu último calmante me deixou grogue e lerda.
A fumaça da cozinha, a fumaça do inferno
Nossas cabeças flutuam, opostos venenosos,
Nossos ossos, nossos cabelos.
Eu a chamo de Órfã, órfã.
Você está doente.
O sol lhe dá úlceras, o vento, tuberculose.
Um dia você foi bonita.
Em Nova York, em Hollywood, os homens diziam:
“Acabou? Garota, você é brilhante”.
Você atuava, atuava pelo agito
O marido impotente se arrasta para um café.
Tento mantê-lo em casa,
Velho pára-raios para o relâmpago,
Banhos de ácido, céus cheios vindos de você.
Ele despenca do morro de pedra calçada,
Carrinho castigado.
As faíscas são azuis.
As faíscas azuis são lançadas,
E se refratam como quartzo num milhão de pedaços.
Oh jóia! Oh valorosa! Naquela noite a lua
Arrastou sua bolsa de sangue, animal
Doente
Sobre as luzes do porto.
E então voltou ao normal,
Dura e branca e distante.
O brilho escamado na areia me matou de medo.
Continuamos pegando punhados, adorando,
Moldando como massa, corpo mulato,
Os grânulos sedosos.
Um cão veio buscar seu marido cachorrinho. Ele foi atrás.

Agora silenciosa, ódio
Até o pescoço,
Grosso, grosso.
Não falo.
Empacoto as batatas duras como roupas boas,
Empacoto os bebês,
Empacoto os gatos doentes.
Oh pote de ácido,
É amor que o preenche.
Você sabe quem odeia.
Ele está abraçado ao seu grilhão perto da porteira
Que se abre para o mar
Que invade, preto e branco,
E então é vomitado novamente.
Todo dia você o enche de alma, como um jarro.
Você está tão exausta.
Sua voz, meu pingente,
Morcego doido por sangue que suga e esvoaça
É isso. É isso.
Você me espia da porta,
Bruxa triste. “Toda mulher é uma puta.
Não consigo me comunicar.”

Vejo sua décor engraçadinha
Cercando-a como um punho de bebê
Ou uma anêmona, aquele mar,
Aquele cleptomaníaco, doçura.
Ainda estou crua.
Digo que posso voltar.
Você sabe para que servem as mentiras.

Mesmo em seu céu Zen não devemos nos encontrar.

Veja também:

Outono da rã

O verão envelhece, mãe impiedosa.
Os insetos vão escassos, esquálidos.
Em nossos lares palustres nós apenas
Coaxamos e definhamos.

As manhas se dissipam em sonolência.
O sol brilha pachorrento
Entre caniços ocos. As moscas não chegam a nós.
O charco nos repugna.

A geada cobre até aranhas. Obviamente
O deus da plenitude
Está morando longe daqui. Nosso povo rareia
Lamentavelmente.

40 graus de febre

Pura? Que vem a ser isso?
As línguas do inferno
São baças, baças como as tríplices

Línguas do apático, gordo Cérbero
Que arqueja junto à entrada. Incapaz
De lamber limpamente

O febril tendão, o pecado, o pecado.
Crepita a chama.
O indelével aroma

De espevitada vela!
Amor, amor, escassa a fumaça
Rola de mim como a echarpe de Isadora, e temo

Que uma das bandas venha a prender-se na roda.
A amarela e morosa fumaça
Faz o seu próprio elemento. Não irá alto

Mas rolará em redor do globo
A asfixiar o idoso e o humilde,
O frágil

E delicado bebê no seu berço,
A lívida orquídea
Suspensa do seu jardim suspenso no ar,

Diabólico leopardo!
A radiação faz que ela embranqueça
E a extingue em uma hora.

Engordurar os corpos dos adúlteros
Tal qual as cinzas de Hiroshima e corroê-los.
O pecado. O pecado.

Querido, a noite inteira
Eu passei oscilando, morta, viva, morta, viva.
Os lençóis opressivos como beijos de um devasso.

Três dias. Três noites.
água de limão, canja
Aguada, enjoa-me.

Sou por demais pura para ti ou para alguém.
Teu corpo
Magoa-me como o mundo magoa Deus. Sou uma lanterna —

Minha cabeça uma lua
De papel japonês, minha pele de ouro laminado
Infinitamente delicada e infinitamente dispendiosa.

Não te assombra meu coração. E minha luz.
Eu sou, toda eu, uma enorme camélia
Esbraseada e a ir e vir, em rubros jorros.

Creio que vou subir,
Creio que posso ir bem alto —
As contas de metal ardente voam, e eu, amor, eu

Sou uma virgem pura
De acetileno
Acompanhada de rosas,

De beijos, de querubins,
Do que venham a ser essas coisas rosadas.
Não tu, nem ele

Não ele, nem ele
(Eu toda a dissolver-me, anágua de puta velha) —
Ao Paraíso.

Papai

Você não serve, você não serve,
Não serve mais, sapato negro
Em que eu vivi como um pé
Por trinta anos, branca e pobre,
Mal me atrevendo a um espirro sequer.

Eu tive de matar você, papai.
Você morreu antes que eu pudesse
– Peso de mármore, saco repleto de Deus,
Estátua medonha com um dedão gris
E uma cabeça onde o estranho Atlântico
Derrama o verde-vagem sobre o azul
Nas águas da magnífica Nauset.
Eu rezava para recuperá-lo
Ach, du.

Na língua alemã, na vila polonesa
Aterradas pelo rolo-compressor
Das guerras, guerras, guerras.
Mas o nome do lugar é comum.
Diz meu amigo polaco
Que há uma ou duas dúzias.
Assim nunca soube onde você
Fincou seus pés, suas raízes,
Com você nunca pude falar.
A língua presa no maxilar.
Arapuca de arame farpado.
Ich, ich, ich, ich,
Mal conseguia dizer.
Em todo alemão vi você.
E a linguagem obscena
Uma locomotiva, uma locomotiva
Em vapores me leva como Judia.
Uma Judia para Dachau, Auschwtiz, Belsen.
Passei a falar como uma Judia.
Acho que bem posso ser Judia.
A neve do Tirol, a cerveja clara de Viena
Não são lá muito puras ou genuínas
Com minha ancestral cigana, minha estranha sina
E meu baralho de tarô, meu baralho de tarô
Eu devo ser um pouco Judia.
Você sempre me meteu medo,
Com sua Luftwaffe, seu papo furado.
E o seu bigode asseado
O olho ariano, bem azulado.
Homem-panzer, homem-panzer, oh Você
Não Deus, mas uma suástica.
Tão negra que nem céu vara.
Toda mulher adora um Fascista,
A bota na cara, o bruto
Coração de um bruto da sua laia.
Você está de pé na lousa, papai,
Na imagem que levo comigo,
Em vez do pé, o queixo fendido,
Mas não menos diabo por isso, oh não
Não menos que o homem que em dois
Partiu meu belo e rubro coração.
Eu tinha dez anos quando o enterraram.
Aos vinte, eu tentei morrer
E voltar, voltar pra você.
Achei que mesmo os ossos serviram.
Mas me puxaram saco afora,
Juntaram meus pedaços com cola.
E aí eu soube o que fazer.
Eu fiz um modelo de você,
Homem de negro, Meinkampf no jeito
À tortura e ao torniquete afeito.
E eu disse aceito, aceito
Então, papai, finalmente acabei.
Arranquei o telefone negro da raiz,
As vozes já não rastejam até aqui.
Se matei um homem, matei dois
– O vampiro que me disse ser você
E sugou meu sangue por um ano afora,
Sete anos, se quiser saber
Papai pode voltar a se deitar agora.
Há uma estaca em seu coração negro
E os homens da vila jamais gostaram de você.
Estão espezinhando, dançando sobre você.
Eles sempre souberam que era você.
Papai, papai, seu canalha, acabei.

Canção de Amor da Jovem Louca

Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
(Acho que te criei no interior da minha mente)

Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
Entra a galope a arbitrária escuridão:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama,
Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para a insanidade.
(Acho que te criei no interior de minha mente)

Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo do inferno:
Retiram-se os serafins e os homens de Satã:
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

Imaginei que voltarias como prometeste
Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome.
(Acho que te criei no interior de minha mente)


Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão
Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo
Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro:
(Acho que te criei no interior de minha mente.)

A chegada da caixa de abelhas

Encomendei esta caixa de madeira
Clara, exata, quase um fardo para carregar.
Eu diria que é o ataúde de um anão ou
De um bebê quadrado
Não fosse o barulho ensurdecedor que dela escapa

Está trancada, é perigosa.
Tenho de passar a noite com ela e
Não consigo me afastar.
Não tem janelas, não posso ver o que há dentro.
Apenas uma pequena grade e nenhuma saída

Espio pela grade.
Está escuro, escuro.
Enxame de mãos africanas
Mínimas, encolhidas para exportação,
Negro em negro, escalando com fúria.

Como deixá-las sair?
É o barulho que mais me apavora,
As sílabas ininteligíveis.
São como uma turba romana,
Pequenas, insignificantes como indivíduos, mas meu deus, juntas!

Escuto esse latim furioso.
Não sou um César.
Simplesmente encomendei uma caixa de maníacos.
Podem ser devolvidos.
Podem morrer, não preciso alimentá-los, sou a dona.

Me pergunto se têm fome.
Me pergunto se me esqueceriam
Se eu abrisse as trancas e me afastasse e virasse árvore.
Há laburnos, colunatas louras,
Anáguas de cereja.

Poderiam imediatamente ignorar-me.
No meu vestido lunar e véu funerário
Não sou uma fonte de mel.
Por que então recorrer a mim?
Amanhã serei Deus, o generoso — vou libertá-los.

A caixa é apenas temporária.

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Rival

Se a lua sorrisse, teria a sua cara.
Você também deixa a mesma impressão
De algo lindo, mas aniquilante.
Ambos são peritos em roubar a luz alheia.
Nela, a boca aberta se lamenta ao mundo; a sua sincera,

E na primeira chance faz tudo virar pedra.
Acordo num mausoléu; te vejo aqui,
Tamborilando na mesa de mármore, procurando cigarros,
Desconfiado como uma mulher, não tão nervoso assim,
E louco pra dizer algo irrespondível.

A lua, também, humilha seus súditos,
Mas de dia ela é ridícula.
Suas reclamações, por outro lado,
Pousam na caixa do correio com regularidade encantadora,
Brancas e limpas, expansivas como monóxido de carbono.
 
Nem um dia se passa sem notícias suas,
Vadiando pela África, talvez, mas pensando em mim.

Lady Lázaro

Eu fiz outra vez.
Um ano em cada dez
Eu dou um jeito –

Como milagre ambulante, minha pele
Brilhante como um abajur nazi,
Meu pé direito

Um peso de papel,
Meu rosto um fino, prosaico
Linho judaico.

Retire o pano
Oh meu inimigo.
Eu aterrorizo? –

As órbitas, o nariz, a dentadura completa?
O hálito azedo
Sumirá em um dia.

Logo, logo a carne
Que a cova comeu vai voltar
E eu, mulher sorridente.
Tenho só trinta anos.
E como o gato tenho nove mortes.

Esta é Número Três
Que lixo
Para aniquilar a cada década.

Que milhão de filamentos.
A multidão mascando amendoim
Se junta pra assistir

Desembrulham minhas mãos, pés –
O grande strip tease.
Cavalheiros, damas

Eis minhas mãos
Meus joelhos.
Posso ser pele e osso,

Ainda assim sou a mesma mulher, idêntica.
Na primeira vez eu tinha dez anos.
Foi um acidente.

Na segunda vez eu quis
Acabar com tudo e nunca mais voltar.
Rolei fechada

Como concha do mar.
Tiveram de chamar e chamar.
E tirar os vermes de mim como pérolas pegajosas.

Morrer
É uma arte, como tudo mais.
Nisso sou excepcional.

Faço parecer infernal.
Faço parecer real. Eu

Fazer isso numa cela é muito fácil.
Fazer isso escondida é muito fácil.
É a volta teatral

Já em pleno dia
Ao mesmo posto, mesmo rosto, mesmo grito
Entretido, brutal:

“Um milagre!”
Que me põe a nocaute.
Há um preço

Pra ver minhas cicatrizes, há um preço
Pra ouvir meu coração –
Ele bate mesmo.
E há um preço alto, um alto preço
Por palavra ou apalpada
Ou gota de sangue

Fio de cabelo, trapo de roupa.
Então, então, Herr Doktor.
Então, Herr Inimigo.

Sou tua obra,
Sou teu tesouro,
Bebê de puro ouro

Que se derrete num berro.
Reviro em combustão.
Não pense que subestimo sua preocupação.

Cinza, cinza –
Você cutuca e atiça.
Carne, osso, não há nada lá –

Uma aliança,
Barra de sabão,
Ouro de obturação.

Herr Deus,
Herr Lúcifer
Cuidado Cuidado.

Das cinzas revivo
Com meus cabelos ruivos
E devoro homens como ar

Balões

“Desde o Natal estão com a gente,
Claros e inocentes,
Bichos de alma oval,
Tomando metade do espaço,
Movendo e roçando sua seda

Invisível, o ar os leva,
Gritando e estourando
Quando feridos, murchando até o fim, em convulsão.
Cabeça de gato amarela, peixe azul –
Em vez de uma mobília velha

Com que luas estranhas convivemos:
Esteiras, paredes brancas,
E estes globos peregrinos
Cheios de ar leve, verde ou vinho,
Divertindo

O coração como desejos ou pavões
Livres, abençoando
O antigo chão com suas penas
Folheadas em metal.
Está fazendo
O balão miar feito um gatinho.
Parece ver
Do outro lado um mundo cor-de-rosa, comestível,
Ele morde.

Limite

A mulher está perfeita.
Seu corpo 

Morto enverga o sorriso de completude,
A ilusão de necessidade

Grega voga pelos veios da sua toga,
Seus pés

Nus parecem dizer:
Já caminhamos tanto, acabou.

Cada criança morta, enrodilhada, cobra branca,
Uma para cada pequena

Tigela de leite vazia.
Ela recolheu-as todas

Em seu corpo, como pétalas
Da rosa que se encerra, quando o jardim

Enrija e aromas sangram
Da fenda doce, funda, da flor noturna.

A lua não tem porque estar triste
Espectadora de touca

De osso; ela está acostumada.
Suas crateras trincam, fissura.

Fonte: https://www.awebic.com/11-poemas-da-sylvia-plath-que-te-irao-te-impactar-com-leitura/
https://jornalnota.com.br/2016/04/14/4-poemas-porrada-de-sylvia-plath/
https://jornalnota.com.br/2016/03/24/os-dois-ultimos-poemas-de-sylvia-plath-pouco-antes-de-seu-tragico-suicidio/

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