Os 4 melhores poemas de John Clare

John Clare foi um poeta inglês, filho de um agricultor, que se tornou conhecido por suas celebrações da paisagem rural inglesa e a tristeza por sua destruição. Ao contrário de Wordsworth, Coleridge, Byron, Shelley e Keats, John Clare era da mais humilde origem camponesa, daí advindo o epíteto de “peasant poet” que o imortalizou. Mesmo originário de uma família de iletrados, teve condições de acompanhar algum estudo formal. Ajudava o seu pai na lavoura ao tempo em que começou a publicar os seus livros. Tornou-se um dos maiores nomes da poesia romântica inglesa. Passou os últimos 20 anos de sua vida mergulhado na loucura, internado no Northampton General Lunatic Asylum.


O LAVRADOR ASSUSTADO

Eu fui para o campo na folga que tive;
O estranho talvez riu, não cheguei a ver;
A choça, pronta pra abrigar-me de chuva;
E o livro em meu bolso foi lido sem mora.

O pássaro abrigou-se, mas logo foi embora;
O cavalo veio ver, e alegre quedou;
Ficou em silêncio e mexeu a cabeça,
Parecendo ouvir o poema que eu lia.

O lavrador talvez volte após a lida
Pensando a que tinha vindo aquele ser,
Sentado a um canto, lendo, o dia todo,
A gargalhar ao fim de cada leitura.

Outro pássaro sobrevoou, e se debruça
Onde o corvo grita feito um camponês;
A cotovia no alto me enfeitiçou,
Então sentei e me uni à melodia.

Eu bem pude aturar o tosco campônio:
Seu louvor nada vale, sua censura é inútil;
A fama atiçou-me, e lidei todo o dia
Té os campos poderem viver no meu poema.

EU SOU


Eu sou: o que agora sou ninguém quer saber;
Amigos me abandonaram, fútil haver;
Eu mesmo consumo minhas paixões feéricas
Elas nascem e se esfumam em chão estéril,
Abafados espasmos de amor delirante – :
Mas sou, vivo – como vapores tremulantes

Em meio a um nada ruidoso e escamescente,
Em meio a um vivo mar de sonhos vigilantes,
Onde não há sentido de vida ou alegrias,
Só ‘o cru naufrágio de minhas aporias;
E a mais desejada, que me faz e desfaz,
É-me estranha – ou pior, mais estranha que as mais.

Aspiro a lugares por homem não pisados,
Cenário não visto por mulher, nem pranteado –
Para lá conviver com meu Criador, Deus,
Dormir como na infância, leve, junto aos meus,
Desanuviado, e confortado onde me encontro,
A grama por baixo – por cima o céu redondo

FRAGMENTO


A linguagem não consegue dizer o que Amor prescreve:
A alma jaz enterrada na tinta que escreve.

Fonte

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