Os 10 melhores poemas de Celso Borges

Celso Borges é um poeta maranhense, radicado em São Paulo. Muito conhecido pelo seu trabalho com compositor de grandes letras da música brasileira, também é formado em jornalismo, tendo atuado na área. Na música, foi parceiro de Chico César, Fagner, Criolina, Gerson da Conceição, Assis Medeiros, Nosly e Zeca Baleiro, entre outros.  A partir do final dos anos 70, integrou os principais movimentos de poesia que surgiram na cidade, dando origem a publicações históricas, entre as quais a revista Guarnicê (1983 a 1985). Já tem 11 livros de poesia publicados, entre eles, os mais conhecidos são Pelo avesso (1985); Persona non grata (1990); NRA (1996), XXI (2000), Música (2006) e Belle Époque (2010), sendo os três últimos no formato de livro-CD, com a participação de grandes nomes na música brasileira.

O Notaterapia separou os melhores poemas do autor:

palavra

com
começo
meio
e
fim
não necessariamente nessa ordem: palavra
pavrala
vrapala
lapavra
vralapa
lavrapa
lavoura

urbano

a  tv  ligada  dá  bom  dia
o  site  cedo  me  sitia
e  o  vento  vadio  ventania
no  nu  dilatado
da  vida  vazia

tudo
todo  tempo  parece  em  harmonia
o  carro,  o  cão,   o  mar,  o morro,  o  rato,  a  rodovia

só  a  vida,  quase  morta
viva !
passa  secundária
se  revelando  à  revelia

mea  culpa

falo  blasfemo  grito
como  se  tudo  já  tivesse  sido  dito
em  vão

palavras  loucas ouvidos  moucos

eu  sei
do  céu  ao  chão
do  sol  ao  léu

o  réu  sou  eu

álibi

arredio inconformado às vezes meu poema
que sente náuseas
na Wall Street de Sousândrade
e
dá interferência
na antena parabólica de Ezra Pound
meu poema às vezes
objeto não identificado
nos móbiles de Augusto de Campos
meu poema às sempre
com seu vício coup de dés sem Mallarmé
                     coração e linguagem
às vezes um pra cada lado
e eu sem nunca saber quem vence a batalha

miles davis
um concerto moderno

porque a vida não é um show de miles davis
e que porque se ando nem sempre apresso
mutilo mudo o gesso que molda o braço nu
no braço sob o gesso incesto e veneno
seguindo o trompete
que sopra na boca do viciado miles davis
j’ai ais demais pra te suportar, mundo velho
e
não falo pela boca de um trompete
o mundo novo ouve os aplausos para miles davis

declaração inteira

tenho dez almas:
uma de carne
onde me exponho aos instintos.
a segunda entrego ao zelador
par que o espanador a inflame.
a terceira
quarta
quinta
sexta
sétima
oitava
entrego-as à mulher amada
para seu domínio completo
a nona carrego comigo
para sustentar o que de solidão exala
a décima
o que sobra dessa solidão

haroldiana

de fato uma fada faz parte de uma história malcontada
deum conto do vigário fadado a ter seu fim otário
de fato uma fada é uma falácia
uma flor a mais do lácio despetalada
um sino no exílio um idílio
por quem os signos dobram em delírio
de fato tudo é tudo
quase nada
noves fora fada
mishima urgente
sol— o caroço da vida —
nem arte nem desarte:
desastre.
só assim nasço: aço
um corte pra morte
primeira garantia:
verexistir paralém da palavra.

punk

a pomba da paz não quer mais migalhas
todos os atos são a partir de agora
instrumentos de força e vício
there is no future
declaro findo os elementos de cortesia
nenhuma concessão de praça ou perdão
na palma da mão napalm
eis a urgência da estética de guerra

Fonte
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