As 20 melhores escritoras brasileiras do século XX – Parte I

Que a literatura brasileira está povoada de obras magníficas, isto já é sabido e claro. Mas, infelizmente, ainda hoje, a mulher encontra barreiras e obstáculos a mais do que os homens para ser reconhecida por sua excelência. É fato (comemorável) que esta realidade vem, aos poucos, mudando: estamos cada vez mais ocupando espaços e reafirmando nosso lugar – que é onde nós quisermos.

Para além dos grandes escritores brasileiros, são muitas as escritoras que fazem excelente literatura. É com o intuito de reverberar essas vozes que fizemos uma lista com as que consideramos as melhores escritoras brasileiras do século XX. A lista é divida em duas partes e está em ordem alfabética. Confira a parte I e aguarde a continuação!

1- Adélia Prado (1935-)

Mineira de Divinópolis, Adélia Prado foi professora e escritora. Seus textos, fortemente marcados por leveza, pelo lúdico e pela fé, são leituras belíssimas do mundo, da vida e do amor.

Algumas de suas obras são: Bagagem (1976), Cacos para um vitral (1980), O Pelicano (1987), A Faca no Peito (1988)

(…)
Eu só quero saber do microcosmo,
O de tanta realidade que nem há.
Na partícula visível de poeira
Em onda invisível dança a luz.
Ao cheiro de café minhas narinas vibram,
Alguém vai me chamar.
Responderei amorosa,
Refeita de sono bom.
Fora que alguém me ama,
Eu nada sei de mim.

2- Alice Ruiz (1946-)

Poeta e tradutora, Alice Ruiz começou a escrever na adolescência. Em 2009, recebeu o Prêmio Jabuti por seu livro “Dois em Um”. Foi Paulo Leminski, seu marido, quem descobriu o talento de Alice para hai kais. Traduziu obras japonesas e estudou sobre haikais. Também é compositora, além de ter escrito diversos textos feministas nos anos 70.

Suas principais obras são: Navalhanaliga (1980), Desorientais (1996), Haikais (1998), Dois em Um (2008)

voltando com amigos
o mesmo caminho
é mais curto

3- Ana Cristina Cesar (1952-1983)

Ana C., poeta e tradutora, é um dos principais nomes da Geração Mimeógrafo, nos anos 70, tendo muitas vezes seu nome vinculado à poesia marginal. Ditava poemas para sua mãe antes mesmo de ser alfabetizada, aos 6 anos. Sua obra e cartas se encontram no Instituto Moreira Salles, apesar de que há muitas cartas censuradas pela família, principalmente as recebidas por Caio Fernando Abreu. Um grande nome da literatura brasileira, Ana Cristina Cesar se diferencia por sua escrita potente e forte. Aos 31 anos, se jogou da janela da casa dos pais.

Sua obra mais conhecida é “A teus pés” (1982). Foi lançado, em 2005, “Poética”.

imagino como seria te amar

teria o gosto estranho das palavras
                                                              que brincamos
e a seriedade de quando esquecemos
quais palavras

imagino como seria te amar
desisto da ideia numa verbal volúpia
e recomeço a escrever
                                               poemas.

4- Ana Maria Machado (1941-)

Formada em Letras, Ana Maria Machado foi professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da PUC-Rio. Além de escritora, é também jornalista. Publicou mais de 40 livros na década de 80. Ocupa a cadeira número 1 da Academia Brasileira de Letras. Foi presa em 1969, durante a Ditadura. Exilou-se na Europa e retornou ao Brasil em 1972.

De sua vasta bibliografia, destacam-se as obras Tropical Sol da Liberdade (1988), Canteiros de Saturno (1992),A Audácia dessa mulher (1999).

Gostava de soltar as ideias sem rédea enquanto sentia o vento e a imensidão.




5- Ana Miranda (1951-)

Além de romancista, Ana Miranda escreve roteiros cinematográficos, ensaios e resenhas críticas. Iniciou sua vida literária em 1978, com um livro de poesias.

Sua obra mais famosa é “Boca do Inferno” (1989), que tem como protagonista Gregório de Matos. Em 2002, publicou a novela Clarice, cuja personagem principal é Clarice Lispector.

E quando ali retornares
Verás que nunca nos fomos
Pois o lugar onde estamos
O lugar onde estaremos
É sempre o lugar que somos.

6- Carolina de Jesus (1914-1977)

Filha de meeiros numa comunidade rural em Minas, Carolina de Jesus foi para São Paulo após o falecimento de sua mãe. Construiu sua própria casa com materiais que catava na rua e fez seu sustento e da família como catadora de papel. Guardava cadernos antigos que encontrava para escrever sobre seu dia-a-dia na favela.

Seu diário, “Quarto de despejo”, foi publicado em 1960. Publicou, também, “Casa de Alvenaria” (1961), “Pedaços de fome” (1963) e “Provérbios” (1963).

Aqui, todas impricam comigo. Dizem que falo muito bem. Que sei atrair os homens. (…) Quando fico nervosa não gosto de discutir. Prefiro escrever. Todos os dias eu escrevo. Sento no quintal e escrevo.

7- Cecília Meireles (1901-1964)

Pintora, professora, jornalista e poeta, Cecília Meireles é um do mais conhecidos nomes da literatura nacional.

Publicou muitas obras, entre elas: Espectros (1919), Romanceiro da Inconfidência (1953), Canções (1956), Flores e Canções (1979)

Entre mim e mim, há vastidões bastantes para a navegação de meus desejos afligidos.

8- Clarice Lispector (1920-1977)

Nascida na Ucrânia mas naturalizada brasileira, Clarice sempre fez questão de afirmar que era e sentia-se brasileira. Seu estilo introspectivo e denso está presente em todas as suas obras, que tratam com maestria das coisas da vida e suas reverberações em nós. Uma escritora potente e inigualável na arte de tocar o que há de mais humano do humano.

Entre suas obras, destacam-se: Perto do Coração Selvagem (1943), A Paixão Segundo G.H. (1964), Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres (1969), Água viva (1973), A Hora da Estrela (1977)

Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.

[Acesse AQUI as 10 melhores citações de Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres e, AQUI, os 11 melhores pequenos escritos de Para Não Esquece]

9- Cora Coralina (1889-1985)

Nascida Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, Cora Coralina foi uma importante poeta brasileira. Criou, em 1908, o jornal de poemas femininos “A Rosa”, junto com outras duas amigas. Seu primeiro livro, porém, só foi publicado e 1965, quando ela já tinha 75 anos. Além de ter se consagrado escritora, era doceira. Uma característica de seus escritos é a simplicidade e a doçura.

Seu primeiro livro foi “Poemas dos becos de Goiás e estórias mais” (1965), e destacam-se também as obras “Meu livro de cordel” (1976), “Estórias da casa velha da ponte” (1985) e a obra póstuma “Tesouro da casa velha” (1996)

Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silencio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar.

10- Fernanda Young (1970-)

Escritora, roteirista, atriz e apresentadora de TV, Fernanda Young não é, como as escritoras acima citadas, considerada uma clássica escritora brasileira. Porém, seu talento reside na ironia e na comédia, que ela faz com primazia. Sua linguagem é desbundada, ela é neurótica na autocrítica e sem freios na descrição dos outros e das situações.

Destacam-se as obras “As Pessoas dos Livros” (2000), “Aritmética” (2004) e “O Pau” (2009)

A vida é linda, mas a lindeza do lindo mais lindo que há no lindíssimo é um saco. Um pouco de calma e autocrítica nunca fez mal a ninguém.

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