O nome de Gilka Machado vem recebendo merecido destaque na lista dos nossos — não apenas das nossas — grandes poetas de todos os tempos. Nascida no final do século xix, Machado estreou muito jovem, entre a influência parnasiana e simbolista e a efervescência modernista, mas trouxe desde o início marcas pessoais muito fortes para o cenário da poesia. Sua paixão pelos prazeres da existência é inconfundível. Já em seu primeiro livro, no poema “Sândalo”, o perfume é a “volúpia da terra”: “Odor que o sangue inflama e que um desejo imenso/ de prazeres sensuais em nossas almas ferra”.
Ainda adolescente, Gilka Machado conquistou prêmios com seus versos, mas, se o apuro técnico justificou o reconhecimento de críticos e de seus pares mais ilustres (de Olavo Bilac a Mário de Andrade e Drummond), o erotismo e a liberdade feminista de sua obra sempre foram motivo para difamações no meio intelectual. Não foram poucos os que a atacaram, mas isso não impediu que os leitores e leitoras aplaudissem seu talento.
Em nota autobiográfica escrita em 1978, a poeta afirmou: “Sonhei ser útil à humanidade. Não consegui, mas fiz versos. Estou convicta de que a poesia é tão indispensável à existência como a água, o ar, a luz, a crença, o pão e o amor”. Sem dúvida, a poesia de Gilka Machado — livre, revolucionária, brilhante — é indispensável.
Poesia completa reúne integralmente os livros Cristais partidos (1915), Estados de alma (1917), Mulher nua (1922), Meu glorioso pecado (1928), Sublimação (1938) e Velha poesia (1965), com texto fixado a partir da última edição cuidada pela autora. O volume traz ainda um posfácio escrito pela organizadora, a jornalista Jamyle Rkain; um ensaio de Nádia Battella Gotlib, professora aposentada da Universidade de São Paulo (usp); e um depoimento concedido pela poeta em 1979, a Nádia Battella Gotlib e Ilma Ribeiro.
Sobre a autora:
Gilka Machado nasceu no Rio de Janeiro, em 1893. Ainda muito jovem, em 1910, participou da fundação do Partido Republicano Feminino e atuou na luta pelo direito das mulheres ao voto. Em 1979, recebeu o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras (abl). Faleceu em 1980 em sua cidade natal.