A palavra “vagabundo” carrega muito mais do que uma simples conotação pejorativa. Em um texto inspirado, o professor e músico brasileiro Luiz Antonio Simas ressignifica o termo, trazendo à tona sua riqueza etimológica e cultural. A seguir, o autor explica a origem da palavra e a transforma em um elogio à liberdade, ao movimento e à arte de viver de forma autêntica e transgressora.
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Você sabe a origem da palavra vagabundo?
“Me chamar de vagabundo não ofende. É uma meta de vida. Vagabundo traz o antepositivo latino “vag-“, “que se move de um lugar a outro”, “movimento incerto”. Já o prefixo latino “-bundo”, traz o sentido de “propenso a, cheio, repleto de alguma coisa”.
O “vagabundo” é aquele que é propenso a andar sem rumo definido, em constante deslocamento, capaz de movimentos incertos, surpreendentes (desde o vagar errante pelas ruas até um drible inesperado no jogo, um passo inusitado da passista, etc.).
O vagabundo é um ser em disponibilidade, vagando nos paradoxos da adequação transgressora e do equilíbrio gingado, duas práticas daquilo que chamo, a partir de pontos de Seu Zé Pelintra, de “pelintrações”: modos táticos de praticar sabiamente a vida como drible.
As histórias que conto ou faço, por exemplo, são elegias aos corpos vagabundos, aqueles disponíveis para a sanidade do ser que pratica, onde só se conceberia a morte, a nobre arte de garrinchar o mundo. É isso. Vagabundo, no meu dicionário, é elogio grande.”
Luiz Antonio Simas,
Professor e músico brasileiro