Em tempos de crescentes desafios democráticos ao redor do mundo, a editora compartilha os títulos que ajudam a compreender esse sistema complexo chamado democracia e que está sempre em contínua disputa
Nesta segunda-feira (15), foi comemorado o Dia Internacional da Democracia, data que busca chamar a atenção mundial para a necessidade de defender os princípios fundamentais da inclusão, liberdade, igualdade, paz e desenvolvimento.
Em tempos de crescentes desafios aos regimes democráticos ao redor do mundo, é essencial compreender os mecanismos que os fortalecem ou enfraquecem. Pensando nisso, a Tinta-da-China Brasil, selecionou obras fundamentais que abordam a trajetória da democracia, os perigos do autoritarismo e as lições históricas que não podemos esquecer.
Veja a seleção completa:
Salazar e o poder: a arte de saber durar
Autor: Fernando Rosas
Sinopse: Por que durou tanto o regime de Salazar, a mais longa ditadura europeia do século XX? É isso que o professor, pesquisador e político português Fernando Rosas, especialista na história dos fascismos, procura explicar neste livro que marca o apogeu da sua obra historiográfica. O livro, vencedor do prêmio PEN de ensaios em Portugal, supre uma lacuna na bibliografia publicada sobre Salazar no Brasil.
Com prosa fluida e pesquisa rigorosa, buscando ir além do senso comum, Rosas identifica cinco fatores estruturais da durabilidade do salazarismo: a violência contra as oposições; o controle político das Forças Armadas; a cumplicidade da Igreja; o corporativismo; e a investida cultural no “homem novo”. Em tempos de retorno dos fascismos, urge compreender como triunfaram seus experimentos, para que possamos combater suas novas mutações.
A lei da bala, do boi e da Bíblia: cultura democrática em crise na disputa por direitos
Autoras: Adriane Sanctis de Brito, Luciana Silva Reis, Ana Silva Rosa e Mariana Celano de Souza Amaral
Sinopse: Em meio a um cenário internacional de erosão democrática, quatro pesquisadoras do Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo (LAUT) se propõem a investigar como se construiu, nas últimas décadas, o discurso jurídico de grupos conservadores e reacionários no Brasil.
Entre a bala, o boi e a Bíblia, os temas em debate podem variar, do Estatuto do Desarmamento à descriminalização do aborto, passando pela tese do marco temporal. O que se mantém, entretanto, é a estratégia BBB de usar a linguagem política e jurídica, especialmente noções associadas a pautas progressistas — como garantia de direitos, laicidade, separação de poderes e vontade popular — em sentidos antipluralistas e fragmentados, que favorecem sua própria agenda política. É assim que, nos espaços institucionais do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, as palavras da Constituição podem acabar dizendo o contrário do que deveriam dizer. Protagonistas das forças de segurança, do ruralismo ou do campo religioso são convertidos em bastiões do desenvolvimento, vítimas de um mundo em desordem, enquanto grupos progressistas se tornam inimigos a combater, autores de um discurso ideológico e avesso ao progresso.
Este é o segundo livro da coleção Laut na Tinta-da-China Brasil, e conta com prefácio de uma das principais vozes no combate ao autoritarismo na Europa, Renáta Uitz.
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Despotismo tropical: a ditadura e a redemocratização nas crônicas de Julia Juruna
Autor: Luiz Felipe de Alencastro
Organizador: Rodrigo Bonciani
Sinopse: No calor do momento e na distância do exílio, uma correspondente desconhecida deu notícias da ditadura brasileira na França. Em 1976, o Le Monde Diplomatique começou a publicar sólidos artigos de uma tal Julia Juruna, que tratavam de assuntos como as raízes violentas e o aparato repressivo do nosso país, a participação dos Estados Unidos no Golpe de 1964 e a dependência econômica em relação ao mercado internacional. Quem estava por trás do pseudônimo indígena era o jovem Luiz Felipe de Alencastro, que, em temporada de estudos e pesquisa na França, se tornaria um dos mais importantes historiadores brasileiros. Reunidos pela primeira vez em livro, com organização do historiador Rodrigo Bonciani, os artigos retomam os acontecimentos-chave da abertura política e do processo de redemocratização. Com os olhos no passado colonial e no presente da ditadura (1964-85), Alencastro projeta o leitor para os tempos atuais. Em sua apresentação, Bonciani indaga se, diante da violência de Estado que persiste até hoje, a nossa jovem democracia não passaria de um “enxerto” no antigo conhecido “despotismo tropical”.
O caminho da autocracia: estratégias atuais de erosão democrática
Autores: Adriane Sanctis, Conrado Hübner Mendes, Fernando Romani Sales, Mariana Celano de Souza Amaral, Marina Slhessarenko Barreto
Sinopse: Como democracias consolidadas permitiram a instalação do caos social, cultural e político pela eleição de governantes extremistas? Os pesquisadores do Laut — Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo expõem as táticas de regimes autocráticos em diferentes países do mundo, inclusive no Brasil. Os atos de 8 de janeiro de 2023 deram prova de que o extremismo não se dobra a derrotas eleitorais: é preciso responsabilizar os autores dos ataques à democracia para interromper o caminho da autocracia na política brasileira.
Esquerda e direita: guia histórico para o século XXI
Autor: Rui Tavares
Sinopse: Pontos cardeais da política, eixos da modernidade, a esquerda e a direita têm quase dois séculos e meio de história — e um futuro. Este livro segue essa história e defende, na contracorrente, que não só a esquerda e a direita ainda fazem sentido hoje, como são mais relevantes do que nunca. Os novos desafios da democracia perante as escalas europeia e global ditam a necessidade de reinventar a política e recuperar os seus conceitos de base. Inspirado em dois diálogos com estudantes e escrito em tom coloquial, este guia histórico para o século xxi explica por que é possível outra soberania, e como construir o movimento para a conseguir.
Salazar e os fascismos: ensaio breve de história comparada
Autor: Fernando Rosas
Sinopse: Nas discussões sobre o fascismo, costuma-se deixar de fora dessa classificação o Estado Novo português, que teve António Salazar à sua frente a partir de 1933. Será que esse governo ditatorial, que só caiu na Revolução dos Cravos de 1974, está mesmo distante das outras experiências europeias? Em Salazar e os fascismos: ensaio breve de história comparada, premiado pela Academia Portuguesa da História, Fernando Rosas investiga a tradição autoritária que elegeu líderes como Adolf Hitler e Benito Mussolini, detendo-se sobre o salazarismo numa análise à luz de tais fascismos europeus. A reflexão sobre esse momento histórico o lança para a atualidade, num esforço de apreender as semelhanças com a onda conservadora que toma o mundo nos anos recentes. Lira Neto, autor da celebrada trilogia sobre Getúlio Vargas e de biografias de outras importantes figuras da cultura nacional, assina a orelha da edição.
Diante do fascismo: crônicas de um país à beira do abismo
Autor: Paulo Roberto Pires
Sinopse: O jornalista e editor Paulo Roberto Pires observa nestas 34 crônicas publicadas em sua coluna nas revistas Época e Quatro Cinco Um a ascensão de Bolsonaro à Presidência da República e a implantação de sua política de perseguição às artes, à universidade, ao jornalismo e aos direitos humanos. A partir de episódios do dia a dia do governo, como a nomeação de Regina Duarte (“a noivinha do Brasil fascista”) para a Secretaria Especial de Cultura, Pires mostra como a autoproclamada isenção de intelectuais, jornalistas, políticos e outras figuras do debate público ajudou na instauração de um fascismo à brasileira.