Após quase 80 anos perdido, um quadro roubado pelos nazistas reapareceu. O quadro, que poderia estar em um museu ou negociado em um leilão, está na sala de estar de um chalé em Mar del Plata, Argentina.
A obra reaparecida é o “Retrato de una dama”, do pintor italiano Giuseppe Hislandi (1655-1743) e fazia parte da coleção do marchand judeu Jacques Goudstikker, dono de mais de 1.100 peças saqueadas pelo regime nazista.
Mas como assim, o quadro reapareceu? Desde 1946, o quadro estava oficialmente listado como desaparecido e de maneira muito inusitada ele foi encontrado. Aconteceu que a filha de um ex-alto funcionário nazista, Friedrich Kadgien, colocou a casa da família à venda e no anúncio online, entre fotos de sofás e luminárias, estava “Retrato de una dama”, pendurado na parede.
O jornalista holandês Peter Schouten avistou a peça supostamente desaparecida, que só pôde ser descoberta, porque alguém resolveu vender um imóvel e publicar as fotos em um anúncio. A peça possui um peso histórico imenso e reapareceu displicentemente, como se fosse apenas parte da decoração de um chalé no tradicional bairro Parque Luro.
Esta é uma representação de um trágica mistura entre história, tragédia e acaso, se é que acasos existem. Quem poderia imaginar que uma obra saqueada pelos nazistas, iria atravessar gerações, exposta na sala de uma casa de praia na Argentina, e seria revelada por um anúncio?
A arte imita a vida ou a vida imita a arte?
Pensando no absurdo que é esse acontecimento, compartilho a dúvida: a arte imita a vida ou a vida imita a arte. Na minha opinião, trata-se de uma via de mão dupla e quando a arte e a vida se encontram, vivemos o rompante dos momentos.
Fiz este leve deslize para os limites entre vida e arte porque recentemente assisti ao filme Meu Vizinho Adolf (2022), que trata da história de um homem idoso, sobrevivente do holocausto e que mora no interior da Argentina. Sua vida muito pacata sofre um abalo ao se mudar para a vizinhança um homem, que ele tem certeza ser, Adolf Hitler.
Com o passar dos dias, muitas confusões acontecem e sinais vão aparecendo corroborando com a desconfiança daquele homem que vive ainda sob as sombras do nazismo. O Vizinho recém-chegado, pinta quadros como Hitler e tinha hábitos similares, para além das semelhanças físicas. Fica a dúvida se aquele homem realmente não era o próprio Adolf.
Enfim, a ficção e a não ficção expostas aqui, se passam na Argentina, possuem obras de arte e trazem à tona um dos personagens mais deploráveis da história, Adolf Hitler. Também nos conduz para reflexões sobre como se deu a vinda de nazistas para a América e de como as obras de artes roubadas até hoje são encontradas espalhadas pelo mundo e como movimenta o imaginário das pessoas.
Atualizações sobre o quadro roubado
Após investigações, mais informações sobre o quadro e o responsável pelo roubo da obra foram descobertas.
O falecido pai de Patricia Kadgien, Friedrich Kadgien, foi um dos principais conselheiros de Hermann Göring, segundo comandante de Adolf Hitler no Terceiro Reich alemão. Ele foi responsável pelo saque de milhares de obras em toda a Europa.
Sabe-se neste momento que a obra de arte foi devolvida pelo advogado de Kadgien, presa em regime domiciliar com o marido, depois do tribunal não conseguir encontrar a obra de arte em busca e apreensão na propriedade.
Kadgien e seu marido, Juan Carlos Cortegoso, devem comparecer ao tribunal nos próximos dias, quando provavelmente serão acusados de “ocultação de roubo no contexto de genocídio”.
Ariel Bassano, um especialista em arte que trabalhou no caso, disse à imprensa que a obra estava “em boas condições, considerando sua idade, datada de 1710”. O quadro foi avaliado em “cerca de US$ 50.000”, segundo o jornal local La Capital de Mar del Plata.