Um projeto desenvolvido em uma propriedade em Varjão de Minas, no noroeste de Minas Gerais, possibilitou que 12 trabalhadores de uma fazenda de café pudessem ler, escrever e realizar operações matemáticas em 100 dias de aulas.
Após identificar que trabalhadores da fazenda Guima Café não eram alfabetizados, a instituição filantrópica, Sistema Divina Providência, em parceria com outros institutos da região, desenvolveu o projeto e estabeleceu sua realização durante a entressafra.
Com inspiração no método do educador Paulo Freire, a coordenadora pedagógica da instituição, Marilândia Ferraz, criou o plano do curso e a apostila levando em consideração a realidade dos estudantes. Jogos de memória, poesia de Cora Coralina, músicas de Zeca Pagodinho e Vinícius de Morais fizeram parte das propostas. Além da alfabetização, o objetivo também consistia em garantir autonomia para que os alunos lidassem com as atividades do cotidiano.
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“Queriam um projeto que contemplasse a alfabetização dos trabalhadores, que não poderia ser todos os dias. Pensei o período temporal levando em consideração que eles trabalhavam até 17h. Assim, coloquei duas possibilidades, sendo uma com dois dias na semana e outra com três dias de aulas semanais, ambas com atividades das 18h30 às 22h30”, disse Marilândia.
Nessa situação, um dos maiores obstáculos é o de manter a motivação, já que, em geral, a rotina dos trabalhadores é árdua. No entanto, o resultado do projeto surpreendeu, pois nem a chuva ou a falta de energia impediram que os alunos frequentassem a sala de aula.
“Teve um dia que choveu e a energia acabou na fazenda e os alunos pegaram uma bateria de carro, adaptaram uma lâmpada e colocaram na sala para que pudessem ter a aula”, relatou a coordenadora.
De acordo com a pesquisa da Ação Educativa e do Conhecimento Social, divulgada em maio, 3 a cada 10 brasileiros são analfabetos funcionais e quase 30% dos brasileiros apresentam dificuldades para ler textos básicos ou fazer contas.
Motivo não só de entusiasmo, mas também de satisfação entre os trabalhadores, o curso foi enriquecedor tanto para a realização pessoal quanto para a formação profissional: “Muitos alunos relataram que o curso devolveu a alegria deles, que apresentou um novo desafio. Alguns relataram que não sabiam o que fazer quando o curso terminasse, porque gostaram muito”, destacou a educadora.
O projeto não pretende parar, a intenção é de que os 12 alunos formados prossigam com os estudos com a criação de um módulo mais avançado. Além disso, também existe a possibilidade de que surja uma nova turma na área urbana de Varjão de Minas.