Em 2015, Sebastião Salgado disse em entrevista ao Jornal Público: “[…] Quando terminei Migrações não acreditava na espécie humana, como não acredito até hoje. Fiquei desesperado, porque os humanos eram a minha única referência. Mas depois, quando comecei a replantar uma floresta na nossa quinta no Brasil (Vale do Rio Doce, Aimorés), quando decidimos fundar o Instituto Terra e depois da concretização de Gênesis comecei a viver em paz. Compreendi que se a nossa espécie desaparecer, sobreviverão muitas outras, a das formigas, a dos camaleões, a dos rinocerontes… São espécies tão importantes como a nossa. […] Se não mudarmos o nosso comportamento em relação à natureza, vamos desaparecer. E o certo é que não estamos mudando esse comportamento, pelo contrário, estamos usando cada vez mais espaços que não são os nossos. Mas, hoje, vivo em paz porque me aproximei tanto da natureza que me tornei natureza.”
Em agosto deste ano, como forma de homenagem a Sebastião Salgado, vítima de leucemia decorrente de complicações de uma malária contraída em 2010, ocorreu a cerimônia do depósito de suas cinzas nas raízes de uma muda de peroba no Instituto Terra, em Aimorés, Minas Gerais. O evento contou com a presença de familiares, amigos e autoridades locais que lembraram o seu legado e comprometimento com o meio ambiente. O filho do fotógrafo, Juliano Ribeiro Salgado, destacou o envolvimento do pai com a natureza e seus registros fotográficos, como Gênesis e Amazônia, além da criação do Instituto e sua defesa da preservação ambiental.
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Considerado um dos nomes mais importantes da fotografia mundial, o artista conquistou projeção internacional por seu trabalho documental em preto e branco, retratando não só a natureza, mas também a humanidade.
O local escolhido para as cinzas foi justamente a terra fértil onde ele iniciou o projeto de reflorestamento, transformando a área degradada da fazenda da família em uma floresta com mais de 3,5 milhões de árvore. Esse projeto deu origem à criação do Instituto Terra, fundado por Sebastião e sua esposa Lélia Wanick Salgado, em 1998, tornando-se um dos maiores projetos de restauração ecológica e educação ambiental do país.
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A peroba, árvore que se destaca por sua importância ecológica como uma espécie nativa ameaçada, tornou-se símbolo do Instituto. Nada mais significativo que as cinzas de Sebastião Salgado tenham sido depositadas nesse lugar, reforçando sua integração com a natureza e simbolizando a fertilização da terra.