“Em um contexto marcado pela violência extrema orquestrada por Israel contra o povo palestino e pela tentativa de silenciamento institucional do horror, a Mostra se afirma como espaço de resistência e solidariedade através do cinema”, explicam as curadoras da mostra, Alia Ayman, Analu Bambirra e Carol Almeida.
A Mostra em questão é a Mostra de Cinema Árabe Feminino, que chega em sua quinta edição tratando de História e afetos. Selecionamos seis títulos, sendo três curtas e três longas, imperdíveis do evento:
Curtas-metragens
A CANÇÃO DA BESTA (Sophia Al-Maria, França/Reino Unido)
Esse filme tem como pano de fundo a ficção científica de uma batalha solar, evocada por Etel Adnan em seu poema The Arab Apocalypse. Assim como Adnan usa desenhos e símbolos para comunicar o que não pode ser expresso em palavras, Sophia Al-Maria explora a revisão da história por meio de uma nova linguagem de desenhos, movimento e música que cria uma modulação de sons e imagens contra-hegemônicos. Seus protagonistas refletem sobre as narrativas e línguas que herdaram, e sobre a violência que enfrentam como filhos de legados coloniais. O filme resulta em uma rota de fuga das narrativas dominantes de um passado opressor.
DANÇANDO A PALESTINA (Lamees Almakkawy, Palestina / Reino Unido)
Dançar é relembrar, dançar é rememorar. Enquanto a identidade palestina continua sendo ameaçada de apagamento, palestinos se voltam para a sua dança folclórica, a dabke, como uma homenagem à sua história e cultura, e para afirmar sua existência. Dançando a Palestina é a documentação da corporificação de uma memória coletiva. Assim como se junta as peças da coreografia dabke, juntam-se também suas identidades. A dabke é o testamento do profundo amor dos palestinos pela vida, e dessa forma, é também a necessidade de contribuir para o arquivo da Palestina, para que ele permaneça vivo no presente e nos corpos moventes.
NEO NAHDA (May Ziadé, Reino Unido)
Mona, uma jovem em Londres, encontra uma fotografia antiga de uma mulher árabe crossdresser nos anos 20. Em um ponto, entre as suas fantasias e a realidade, ela começa uma intensa jornada de descoberta de histórias perdidas e de sua própria identidade.
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Longas-metragens
RAINHAS (Yasmine Benkiran, Marrocos/França)
Casablanca, Marrocos.
Zineb escapa da prisão para salvar a filha da custódia do Estado. Mas as coisas rapidamente se complicam quando ela faz Asma, uma motorista de caminhão, como refém. Com a polícia em seu encalço, as três mulheres embarcam em uma fuga perigosa pela Cordilheira Atlas, suas rochas vermelhas e desertos escaldantes…
SUDÃO, LEMBRE DE NÓS (Hind Meddeb, França)
Shajane, Maha, Muzamil, Khatab e a voz do poeta Chaikhoon. Eles estão em seus vinte anos, são politicamente ativos e artisticamente criativos. Este filme é um coro cinematográfico, o retrato coletivo de uma geração que luta pela liberdade com suas palavras, poemas e cânticos. Diante de um exército corrupto e de uma milícia paramilitar responsável por crimes de guerra em Darfur, Cordofão e Nilo Azul, eles poderiam ter desistido antes mesmo de começar. Sem um sonho para os guiar, o poder da imaginação e a força do discurso poético, eles não teriam derrubado o antigo regime. O filme relata a luta desigual que opôs as vozes da revolução ao fogo da milícia.
UM ESTADO DE DEVOÇÃO (Carol Mansour e Muna Khalidi, Líbano, Palestina, Jordânia, Reino Unido, Kuwait)
O filme de encerramento da Mostra não podia ser outro. Após 43 dias terríveis trabalhando 24 horas por dia sob bombardeio constante nas salas de emergência dos hospitais Al Shifa e Al Ahli, em Gaza, o cirurgião reconstrutivo britânico-palestino, Dr. Ghassan Abu-Sittah, emergiu como um rosto da resistência palestina. Com imagens de sua palidez e choque reverberando pelo mundo, ele falou de horrores insondáveis, desde corpos dilacerados a amputações sem anestesia, crianças órfãs sem família sobrevivente e ataques deliberados a médicos e instalações hospitalares.
Esta foi a sexta e mais cruel “guerra” de Ghassan em Gaza. Por que ele faz isso? Onde ele encontra forças para enfrentá-la repetidamente? Como isso afeta sua família? A resposta reside simplesmente na devoção que compartilham esses médicos: a Palestina.
Onde assistir?
Os filmes citados, e outros títulos, são destaque na 5ª Mostra de Cinema Árabe Feminino, que acontece no Recife entre 13 e 17 de agosto e no Rio de Janeiro entre 22 e 30 de agosto, em espaços diversos. Além dos filmes em sessões comentadas, a Mostra será catalisadora de discussões em mesas-redondas e oferecerá uma masterclass online. As sessões são gratuitas.