Chamada de “Usineira de sonhos” por Carlos Drummond de Andrade devido aos sucessivos êxitos no “horário nobre” da televisão brasileira, Janete Clair escreveu 22 novelas de sucesso. Nenê Bonet, Editora Instante, 2025, foi seu único romance. Publicado em 1980, primeiramente em 10 capítulos na revista Manchete, é um tesouro não só para os fãs da autora, mas para qualquer um que deseje ser capturado por uma narrativa com reviravoltas, falsas pistas, personagens enigmáticos e diálogos pungentes que só poderiam ter sido concebidos pela mão talentosa de uma das maiores novelistas da teledramaturgia brasileira.
Ambientado entre o interior e a capital do Rio de Janeiro da década de 1920, Nenê Bonet conta a história de Ernestina, criada em um lar amoroso e tradicional, preparada para ser esposa e mãe. Recém-casada com Julião, rapaz de família defensora da moral e dos bons costumes, ela imagina obter afeto e cuidado, mas depara com a frieza do marido, que se ausenta por longos períodos para tratar de “negócios”.
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Ao ganhar um concurso de charadas promovido por uma chapelaria no centro do Rio, Nenê viaja para buscar o prêmio, e dali em diante nada será como antes. É arrastada para um jogo capcioso, em que precisa descobrir quem de fato é seu marido e qual teria sido a relação dele com Bernarda de Sá, personagem que transita pela narrativa como o espectro da mulher que Nenê jamais pensou em ser: glamorosa, lasciva e livre. Quando decide assumir um pouco da personalidade de Bernarda, Nenê tem sua sanidade questionada e arrisca tudo para se aproximar da verdade.
Sobre a autora:
Janete Clair (1925-1983), mineira de Conquista, nasceu Jenete Emmer, mas adotou seu pseudônimo inspirado em Clair de Lune, de Debussy. Começou no rádio, em 1943, como atriz e escreveu 31 radionovelas. Sua estreia foi na TV Tupi com O acusador (1964). Assinou 22 telenovelas, sendo 19 na Rede Globo, entre elas Irmãos Coragem (1970), Selva de pedra (1972), Pecado capital (1975), O astro (1977) e Pai herói (1979). Foi casada por 33 anos com o escritor Dias Gomes (1922- 1999), com quem teve quatro filhos: Marcos, Guilherme, Denise e Alfredo.