“A Casa de Bernarda Alba”: Um espetáculo que desafia normas e conecta épocas

Após uma temporada de sucesso, a Cia de Teatro Os Satyros retorna com A Casa de Bernarda Alba, peça espanhola escrita em 1936 que possui ainda questões contemporâneas e ainda difíceis para o século XXI.

A Casa de Bernarda Alba é uma tragédia que retrata a repressão e o conflito em uma família rural espanhola. A história se passa na casa de Bernarda Alba, uma viúva autoritária que impõe um luto rígido de oito anos após a morte de seu segundo marido. Ela controla rigidamente a vida de suas cinco filhas solteiras: Angustias, Magdalena, Amelia, Martirio e Adela. A trama gira em torno do conflito gerado pela chegada de Pepe el Romano, um homem interessado em se casar com Angustias, a filha mais velha e herdeira da fortuna da família. No entanto, ele também mantém um relacionamento secreto com Adela, a filha mais nova e rebelde, que se recusa a aceitar a opressão imposta por Bernarda.

A peça escrita por Federico García Lorca em 1936, reflete a luta entre a liberdade individual e as normas sociais impostas, simbolizando a tensão entre o desejo de mudança e a resistência ao progresso que caracterizava a Espanha da época. Lorca também retrata como as mulheres eram subjugadas por uma estrutura patriarcal rígida, com pouca liberdade para expressar seus desejos ou tomar decisões sobre suas próprias vidas. A honra familiar era um valor supremo, e qualquer comportamento considerado imoral era severamente punido.

Foto: Aloander Oliveira – Oin Audiovisual

A Casa de Bernarda Alba da Cia de Teatro Os Satyros consegue construir magia em cena através do uso de poucos elementos, mas todos muito bem trabalhados. Começando pela escolha do elenco dividido em três, um elenco feminino, masculino e uma jam onde o público escolhe quem serão os atores que irão interpretar os personagens na sessão. Apesar da jam criar uma ideia de que os atores serão pegos de surpresa, todos estão preparados para estar em cena, e entregam uma sessão única ao público.

O elenco é muito competente com excelentes atuações, como a performance entregue por Mariana França, Diego Ribeiro e Elisa Barbosa. Todo o elenco está vivo, presente e entregue na montagem de A Casa de Bernarda Alba, permitindo que a obra perdure em suas lembranças durante muito tempo.

Foto: Aloander Oliveira-Oin Audiovisual

Um dos destaques da montagem é a ousadia proposta pelo Satyros ao adicionar a dança flamenca na montagem, pois além de utilizar da beleza do flamenco, com seus movimentos cheios de energia e vivacidade, o grupo permite maior aproximação do público com a cultura espanhola. 

Tecnicamente temos um trabalho impecável. O desenho de luz criado por Flavio Duarte gera uma sensação de espacialidade maior do teatro, criando um efeito de céu quase perfeito, se não fosse pela ausência das estrelas. A cenografia multifacetada de Caio Rosa se encaixa perfeitamente na dinâmica utilizada durante a encenação. 

Foto: Cristiano Pepi

A direção de Rodolfo García Vázquez junto a pesquisa de Ivam Cabral apresenta uma leitura contemporânea da obra de Federico García Lorca, explorando temas como poder, repressão, desejo e liberdade sob uma nova perspectiva.

A Casa de Bernarda Alba, na montagem da Cia de Teatro Os Satyros, reforça a atualidade da obra de Federico García Lorca, mostrando que as questões sobre repressão, liberdade e poder continuam reverberando no século XXI. A peça não apenas nos transporta para a Espanha dos anos 1930, mas também nos convida a refletir sobre as estruturas opressoras que ainda persistem em nossa sociedade. Com uma direção arrojada, um elenco talentoso e uma produção técnica impecável, a montagem prova que o teatro é um espaço potente para discutir temas universais e atemporais, mantendo viva a chama da reflexão e da transformação social.

Ficha Técnica:


Direção Artística: Rodolfo García Vázquez
Assistente de Direção: Renatto Moraes
Elenco: Alessandra Rinaldo, Alex de Felix, André Lu, Anna Paula Kuller, Augusto Luiz, Diego Ribeiro, Elisa Barboza, Felipe Estevão, Gabriel Mello, Guilherme Andrade, Guilherme Colosio, Gustavo Ferreira, Heyde Sayama, Isa Tucci, Isabela Cetraro, Julia Bobrow, Juliana Moraes, Karina Bastos, Luís Holiver, Mariana França, Neni Benavente, Raul Ribeiro, Tammy Aires, Vitor Lins, Wil Campos
Pesquisa: Ivam Cabral
Tradução: Rodolfo García Vázquez
Adaptação: Ivam Cabral
Cenógrafo: Caio Rosa
Aderecista: Elisa Barboza
Iluminação: Flavio Duarte
Desenho de Som: Thiago Capella e Felipe Zancanaro
Canções Originais: André Lu
Trilha Sonora Original: Felipe Zancanaro
Voz Off: Ivam Cabral
Berimbau Gravado: Zé Vieira
Operação de Luz: Flavio Duarte
Operação de Som: Jota Silva
Preparação Vocal: André Lu
Direção de Coreografia e Flamenco: Neni Benavente
Figurino: Senac Lapa Faustolo
Curso livre de criação e desenvolvimento de figurino
Docentes: Maíra D. Pingo e Fábio Martinez
Alunos: Beatriz Angelica Jacob Ferrazzi, Bruna Afonso de Oliveira, Catherine da Silva Mello Alves Branco, Cris Cordeiro, Daniela Aguiar, Gabriel AngeloMorgante de Caires, Gabriela Reis dos Santos, Isabela Cristina Nunes Favaron, Isaque Oliveira Magalhaes, Julia Lie Imamura, Karina GiannecchiniGonçalves, Levy Alves de Souza, Luana Freitas Prates, Luciano Santana Oliveira, Marcos Vinicius Araujo dos Santos, Natalia Giovenale, Vanessa Cardozo Teixeira, Yasmin Gaspar Martins Silva Santos
Idealização: Os Satyros

Escala dos Elencos:

Março:
14 de março – Masculino
15 de março – Jam
21 de março – Feminino
22 de março – Masculino
28 de março – Jam
29 de março – Feminino

Abril:
4 de abril – Feminino
5 de abril – Masculino
11 de abril – Masculino
12 de abril – Jam
18 de abril – Feminino
19 de abril – Jam
25 de abril – Masculino
26 de abril – Feminino

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