“Gazel”: romance-folhetim do século XIX de Luiza Leonardo retrata vivências das mulheres no passado

Ao consultarmos o cânone literário brasileiro são poucos ou quase nulos os nomes de escritoras mulheres presentes, principalmente se pensamos nas autoras do século XIX. Por isso, destacamos a importância em resgatar e divulgar livros produzidos por mulheres desta época, para reafirmar que haviam mulheres produzindo literatura.

Gazel é um romance de Luiza Leonardo, originalmente publicado em folhetim, em 1881, que foi organizado e publicado digitalmente em 2023 pela pesquisadora doutora Rosana Cássia dos Santos através da editora da Universidade Federal de Santa Catarina.

Além do romance-folhetim, o ebook conta com outros seis textos de Luiza Leonardo, em formato de prosa poética.Há uma apresentação na qual podemos conhecer quem foi Luiza Leonardo, uma artista que dedicou-se à literatura, ao teatro e à música, sendo uma exímia pianista.

No romance acompanhamos a história de Gazel, desde a sua infância até a idade adulta. A menina sofre represálias desde muito pequena, por ter todos os seus desejos e caprichos atendidos pelo pai, o que a faria uma menina travessa. Um amigo de seu pai chega a dizer que a menina, com tais hábitos, se tornaria uma cortesã sem pudor.
Isso demarca como desde criança essa menina tem seus comportamentos mal vistos, ainda que seja somente uma brincadeira infantil ela recebe julgamentos severos. Com o desenrolar da história passamos a conhecer Gazel como uma mulher adulta, que continua a ter seus caprichos realizados, até que um acontecimento doloroso muda sua vida abruptamente. Entretanto, tais mudanças não fazem com que a menina perca seus caprichos, continuando a agir do mesmo modo, o que a trará duras críticas.

Rosana, na introdução do livro, aponta como era comum este tipo de narrativa, na qual uma personagem feminina se desvirtuava dos valores considerados adequados à época, recebendo punições por isso. Estas histórias serviam como um ensinamento moral. Entretanto, podemos ainda enxergar como uma crítica sutil às diferentes maneiras como homens e mulheres eram (e em muitos casos ainda são) julgados de maneiras diversas por condutas semelhantes.

Apesar de ter sido publicado no século XIX, muitos dos debates suscitados pelo livro de Luiza Leonardo ainda são presentes na contemporaneidade, o que nos afirma sua importância. A literatura também é um modo de obter informações sobre como as pessoas de determinada época pensavam, quais eram suas atitudes perante a alguns acontecimentos, por isso considera-se tão importante ter a oportunidade de conhecer o que e como pensava uma mulher sobre estes fatos. Sobre isto, Sandra Pesavento, em seu artigo História & Literatura: uma nova velha história nos diz que:

Leia também: “Escritoras silenciadas” resgata obras de Narcisa Amália, Julia Lopes de Almeida e Albertina Bertha

A literatura registra a vida. Literatura é, sobretudo, impressão de vida. E com isto, chegamos a uma das metas mais buscadas nos domínios da História Cultural: capturar a impressão de vida, a energia vital, a enargheia presente no passado, na raiz da explicação de seus atos e da sua forma de qualificar o mundo. E estes traços, eles podem ser resgatados na narrativa literária, muito mais do que em outro tipo de documento.

Enfatizamos, portanto, a importância em termos acesso a esta Literatura que por tanto tempo ficou esquecida, mas que pouco a pouco vem surgindo através do trabalho de pesquisadores/as que se dedicam a estudar e resgatar a Literatura produzida por mulheres no século XIX.

Ler esses romances é também uma maneira de entrar em contato com épocas anteriores, dando voz à opinião e pensamentos das mulheres que ousaram escrever, porém que infelizmente foram esquecidas pelo nosso cânone.

Acesse gratuitamente o ebook do Romance-folhetim Gazel, de Luiza Leonardo

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