“Às vezes esqueço como respirar”, de Madu Sansil: uma ode poética à alma recifense, entre a beleza e a melancolia

Madu Sansil lança “Às vezes esqueço como respirar”: Uma crônica poética da alma
recifense

A autora recifense Madu Sansil lança seu novo livro de poesia, “Às vezes esqueço como respirar”, pela Mondru Editora, uma obra que convida o leitor a uma imersa jornada pelas profundezas da alma humana. O livro apresenta uma série de poemas confessionais que exploram temas como amor, perda, saudade, a relação com a cidade do Recife e a busca por sentido em meio ao caos da vida moderna.

Madu Sansil utiliza uma linguagem poética rica em imagens e metáforas, criando uma atmosfera densa e intimista. A obra se destaca por sua honestidade brutal, expondo as fragilidades e os questionamentos da autora de forma crua e visceral. Os poemas transitam entre a euforia e a melancolia, o amor e a dor, a leveza e a densidade, refletindo a complexidade da experiência humana.

“e eu me lembrei daquele livro que você me deu

a contemplação das coisas herméticas

que quase ninguém sabe enxergar:

os morangos de Caio Fernando Abreu.

e eu pensei no mofo

que se espalhou por aquela gaveta

pela umidade do inferno astral

e eu fui te matando aos poucos

com o correr da estação.

tudo que eu não quis conservar por mal,

o estrago em cada memória.”

O livro apresenta uma narrativa fragmentada, porém coesa, que conduz o leitor por diferentes momentos da vida da autora, desde a juventude até a maturidade. A cidade do Recife surge como um personagem fundamental na obra, servindo como pano de fundo para as reflexões e experiências da protagonista. A autora explora a relação visceral com a cidade, com seus encantos e contradições, entrelaçando a paisagem urbana à sua própria jornada interior.

“Às vezes esqueço como respirar” é uma obra inovadora por sua linguagem poética singular e por sua capacidade de conectar o leitor com as emoções mais profundas da autora. Madu Sansil nos presenteia com uma poesia crua, autêntica e profundamente tocante, que ressoa com a alma recifense e com todos aqueles que já se sentiram perdidos em meio à complexidade da vida.

Resenha de Janaina Luna, graduada em Letras – Português/Inglês pela UFPE , Mestra em Letras pelo ProfLetras da UPE (Campus Nazaré da Mata) e autora do livro “Trilhas indígenas de aprendizagem”, pela editora UICLAP:

“às vezes esqueço de como respirar” é um livro, se só uma palavra puder ser dita, fantástico. Primeiro livro escrito por Madu Sansil, o qual, por 10 anos, foi sendo construído e este ano será publicado. É uma coletânea de poemas que demonstram a conexão de Madu com o Recife, com ela mesma e com o outro.

Apesar da extensão, não é um livro para ser devorado, mas para ler aos poucos e de forma não linear. Percebemos, ao nos debruçarmos sobre ele, que o livro nos apresenta poemas temáticos sobre O EU, O OUTRO e O RECIFE. Porém, os temas não estão separados por “blocos de páginas”, então o leitor pode abrir o livro de forma aleatória e ler um poema que foi “escolhido” para ele, naquele momento. Em sua obra, Madu homenageia a cidade do Recife, seus movimentos musicais e culturais, como o Manguebeat (como vemos no poema “ode assimétrica ao Recife”); descreve-se sem floreios (em poemas como “o que ainda não tem nome”) e relata como sobreviveu a relacionamentos dolorosos (como no poema “outono”).

Leia também: Melancolia e loucura feminina, em “Agualuz”, de Cecília Rogers

Outra coisa interessante é notar como poemas escritos quando Madu tinha 17 anos ou menos ainda se encaixam ao contexto atual. Muitas vezes, parando para ler com calma as estrofes, eu dava uma risadinha discreta de concordância (“[…] eu sussurrava “eu te amo” / ele dizia que era só reação […]”; “[…] decifra-me, eu te imploro / depois volta aqui / e me explica.”); ou fazia uma expressão de questionamento por palavras que não conhecia, fossem elas em português ou em outros idiomas, como o francês, segunda língua que Madu fala e ama (“parestesia”, “ergon”, “téchnē”, “piétons”); ou ainda comemorava quando conhecia a referência no poema, sendo ela a um autor (Gullar, Caio Fernando Abreu, Leminski, Manoel de Barros), a um lugar, que nem sempre é o Recife (Muralha da China, Muro de Berlim, Portugal) ou a uma música (Silêncio de Beethoven, “[…] faz parte do meu show […]”, How soon is now?, Ainda é cedo).

Madu, em seu poema “em um espelho partido”, repete a frase “eu queria ser poeta…”, e eu queria dizer a ela e a vocês, seus futuros leitores, que ela é poeta… No escrever, ela consegue ser recifense, menina e humana ao mesmo tempo… Ela aprendeu a usar as palavras e viu que podia fazer peraltagens com as palavras, lançando um livro cheio de peraltagens… Acredito muito que a mãe de Madu falaria: “Minha filha, você vai ser poeta! Você vai carregar água na peneira a vida toda. Você vai encher os vazios com as suas peraltagens, e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!” (trecho do poema “O menino que carregava água na peneira”, de Manoel de Barros).

Sinto gratidão por Madu ter me feito esquecer de como respirar à medida que lia seu livro e no momento de escrita desta resenha. Termino fazendo um pedido a Madu: “[…] nem tudo é perfeito, mas não abandona a poesia.” (poema “desfibrilador”).”

“Às vezes esqueço como respirar” está em pré-venda pela Mondru Editora até o dia 08/12.

Compre o livro aqui: https://mondru.com/produto/as-vezes-esqueco-como-respirar/

Sobre a autora:

Maria Eduarda dos Santos Silva, mais conhecida como Madu Sansil ou simplesmente Madu, é leonina de 1997, nascida na cidade do Recife/PE. Formada em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco, professora de Língua Portuguesa na rede pública estadual e multiartista, já tendo se aventurado pelo teatro e pelas artes plásticas. Porém foi na literatura que encontrou uma grande e duradoura paixão, escrevendo desde os quatorze anos de idade. Antes de publicar o primeiro livro, a autora compartilhava seus poemas em uma página no Facebook chamada “Maria, espia só”, encerrada no ano de 2016.

Related posts

“sob minhas águas”: poesia para naufragar e ser resgatada, de Michele Magalhães

“No dia em que não fui”: livro de  Andressa Arce destrincha relação íntima entre irmãs através do luto

“Um pequeno engano e outras histórias”: Nikolai Leskov, o narrador por excelência segundo Walter Benjamin