Das imagens fantásticas que compõem a narrativa de Megalópolis, como mãos que pegam luas, um prédio congelado no meio de sua implosão e sombras que dançam durante um desastre, quero destacar duas nada extraordinárias, absolutamente comuns dentro da obra.
Uma é a imagem que encerra o filme, com uma família “tradicional” celebrando o Ano-Novo, com direito a beijo assim que o relógio marca meia-noite. Os casais se beijam enquanto os fogos de artifício colorem os céus, e um bebê olha ao seu redor. A outra envolve o traiçoeiro Clodio Pulcher (Shia Labeouf), no momento em que ele decide ser uma presença política mais forte na cidade. Clodio se junta a uma massa de populares revoltados, alimentando a raiva deles. Uma das palavras que ele usa para torná-los seus seguidores? “Poder ao povo”, com direito a punho em riste.
Destaco esses dois momentos porque o brilho de Megalópolis pode distrair e confundir, fazendo-nos acreditar que se trata de uma obra “inovadora”, algo muito alardeado na campanha de marketing do filme e que muitos críticos ficaram mais do que contentes em reproduzir. Contudo, abaixo do fulgor do épico de Coppola, encontra-se mofo.
Para um filme que fala tanto sobre “iniciar conversas”, “sonhos” e “futuro”, as ideias presentes são bem tradicionais, e não muito distantes do que vemos em qualquer blockbuster que ocupa os cinemas aos montes. Discurso revolucionário colocado na boca do vilão é algo presente em qualquer filme da Marvel. Outro momento notável é quando o narrador comenta sobre “inimigos”, justamente quando um satélite dilapidado da União Soviética atravessa a tela. Requentar conflitos da Guerra Fria, realmente algo nunca antes visto na história do cinema!
Mesmo o que o filme tenta apresentar de novo fica em um campo excessivamente abstrato. Não se explora o que a Megalópolis de fato será para as pessoas de Nova Roma, a cidade palco da obra. O máximo que o protagonista, César Catilina (Adam Driver), consegue expor é que cada adulto terá um “jardim privado” e umas esteiras brilhantes. Para uma obra que se diz tão interessada no espaço urbano, com Coppola citando o planejamento urbano de Curitiba como inspiração, a cidade em si é pouco explorada. Mesmo procurando criticar o espetáculo e a indústria de entretenimento, são suas intrigas e relacionamentos que Megalópolis decide explorar, deixando a metrópole e sua população de lado, resumidas a rostos anônimos atrás de uma cerca.
Megalópolis está mais próximo de uma obra muito querida pelos anarcocapitalistas, A Revolta de Atlas, de Ayn Rand, que coloca um conflito similar em foco: o de um artista/industrial inovador e polêmico que luta contra as forças da sociedade para construir sua visão. A diferença é que Rand odiava pobres, enquanto Coppola possui um sentimento paternalista: basta as massas ouvirem o homem certo para que tudo fique bem. Não há imagens “bonitas” que tornem essa ideia nova e revolucionária de qualquer forma.