“Vou te receitar um gato”: a escrita aconchegante de Ishida Syou

Nos últimos tempos, nos deparamos com diversas obras pertencentes a um novo gênero literário conhecido como healing fiction (literatura de cura), que trazem narrativas simples, em geral tratando de conflitos bem cotidianos, com os quais os leitores podem se identificar. Os enredos dessas obras costumam trazer mensagens e reflexões que podem ajudar a melhorar a perspectiva do leitor sobre sua própria vida. Uma obra de grande destaque pertencente a esse gênero é “Vou te receitar um gato”, da escritora japonesa Ishida Syou.

Nascida em 1975, em Quioto, Ishida sempre amou gatos, o que a levou a torná-los personagens importantes em sua obra, em que gatos são literalmente receitados por um médico a pessoas com problemas. O livro é composto de diferentes histórias em que pessoas vão a uma clínica, sempre recomendada por algum conhecido, amigo ou parente, em busca de ajuda com seus conflitos pessoais. Elas parecem esperar algo como remédios, pensam que o lugar se tratava de uma clínica de psiquiatria, mas voltam para casa com um gato como tratamento.

“A maioria dos problemas se resolve com um gato”, diz o simpático doutor, que após conversar brevemente com cada paciente, chama a enfermeira, a qual aparece com um gato em uma caixa de transporte. O doutor recomenda que os pacientes fiquem com o gato por um determinado tempo, durante o qual a presença do animal em suas vidas acaba por afetá-las positivamente, ainda que a princípio surjam complicações.

A escrita é simples, direta e fluida, e traz uma sensação aconchegante sempre que detalha a convivência dos tutores com os gatos. A autora descreve bem a personalidade de cada animal, assim como sua aparência, trazendo detalhes como a textura do seu pelo, das patinhas, os formatos das orelhinhas, seu ronronar e seus comportamentos em relação aos tutores, às vezes mais retraídos, outras, mais carinhosos. Cada um dos gatos é apresentado de forma bem única, criando uma proximidade do leitor com os personagens felinos que acompanham os pacientes em suas rotinas.

Ainda que a obra tenha como foco a resolução de conflitos bastante realistas, como relações de trabalho, de família e de relacionamentos, há uma aura fantástica em relação à origem da clínica, desde a sua peculiar localização, em um prédio muito antigo, que parece abandonado, e também referente aos profissionais que nela trabalham. Os comportamentos do doutor e da enfermeira variam, muitas vezes causando estranheza e criando efeitos cômicos. No decorrer dos capítulos, ainda que mudem os pacientes, o cenário se repete, e assim vamos descobrindo mais sobre a clínica e seus peculiares habitantes.

Uma leitura aconchegante, leve e divertida, ideal para quem gosta de felinos ou apenas quer conhecer um lugar reconfortante para visitar na ficção.

Adquira o livro aqui, mas se aproxime com cuidado das páginas para que os gatinhos não fujam e você consiga ouvi-los ronronar! Apenas fique ciente de que é possível que você venha a querer adotar um gato, após a leitura, caso ainda não os tenha por perto. Se já tiver gatos, aproveite para ler ao som dos ronrons e apreciar ainda mais a companhia dos felinos!

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