Sempre que assistimos a um filme biográfico estamos diante de um pêndulo entre registros e memórias, relatos de quem viveu e imagens, vídeos, materiais que puderam ser coletados a respeito do tema ou da história do biografado. No caso de Janis Joplin, os entrevistados de Janis – Amores de Carnaval (2024) parecem ter chegado à mesma conclusão: contar sobre a vinda de Janis Joplin para o Brasil no Carnaval de 1970 é como tentar fotografar um cometa que caiu do céu.
Os registros contam que, no ano de sua morte, Janis Joplin queria se desintoxicar da heroína e veio para o Brasil durante o carnaval em busca desse “refúgio”. Ao chegar, foi expulsa do Copacabana Palace por fazer topless e encontrou um jovem na praia que a convidou para ficar em sua casa. Esse encontro, por sinal, é super curioso porque, na ocasião, a cantora dava uma entrevista na areia ao lado do Rei Momo, fato que foi registrado pelo jovem.
É aí que a trama do filme começa a se costurar: este rapaz não era um jovem qualquer, mas Ricky Ferreira, um fotógrafo que na época tinha 21 anos e pode acompanhar Janis em quase todos os lugares em que esteve durante os dias que esteve no Rio. É desse caso que nasce Janis – Amores de Carnaval, Memórias de Ricky Ferreira e Convidados (2024).
O filme é um mergulho intenso durante esses quatro dias, com entrevistados como Baby do Brasil, Casagrande, Alcione, entre outros, tentando capturar a história fugidia de uma das maiores roqueiras de todos os tempos que, apesar disso, ainda era pouco conhecida no Brasil. Pousando por aqui durante o auge da ditadura, após AI-5, Janis vai encher a cara nos inferninhos de Copa, vai dar uma canja na boate em que Alcione cantava, vai cair no choro após ser barrada no baile de Carnaval do Municipal e, principalmente, vai viver muito.
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Longe da heroína, ela mergulha em outras drogas – exceto a cocaína que ela detestava – e vai marcar a vida e a história de todos ao seu redor. Rick, inclusive, tem o privilégio de ter registrado Janis em momentos únicos, como as fotos em cima da pedra pintada de sapo ou as cenas descontraídas em que ela faz topless na Praia da Macumba, o momento em que ela conhece o também cantor hippie e doidão Serguei.
Além disso, claro, temos o registro do momento em que a cantora estava em uma espécie de “camarote” antes da Sapucaí ser inaugurada e resolveu descer para o público e começar a dançar com o povo. Ela logo foi retirada pelos organizadores porque começou a atrapalhar o desfile, mas o momento ficou guardado em uma foto histórica.
Embora o documentário pareça muito mais sobre a memória de pessoas tentando construir um mito que ainda não era mito, ou seja, de uma memória que não foi construída para lembrar daquilo, o que vemos é, ainda assim, um resultado curioso como todo carnaval: muitos sentimentos intensos e pouca memória, tal como a própria vida de Janis.
Não poderia deixar de registrar alguns pequenos furos do roteiro que, diante de tantas lacunas e materiais, acaba repetindo frases aqui e histórias acolá, mas tudo bem, talvez o tempo não seja mesmo cronológico quando misturamos Janis e Carnaval.
Janis – Amores de Carnaval, Memórias de Ricky Ferreira e Convidados é uma história gostosa de ver e contar. E Janis foi mesmo esse cometa que passou pela terra, nos deixando em outubro daquele mesmo ano, ou seja, 8 meses depois dos dias em que esteve por aqui. E, se ela foi um cometa na terra…no Rio ela foi mesmo um furacão.
Veja o trailer do filme aqui:
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