Mesmo não tendo ancestrais nem raízes nessa ilha do Mediterrâneo, sempre que chega à Córsega, “nostalgia” é a palavra que ocorre à Barbara Cassin para descrever a hospitalidade, a experiência do cosmos, “ordem e beleza”, provocadas por seu contorno e seu horizonte. “Uma ilha é, por excelência, uma entidade, uma identidade”, diz a filósofa.
Ligada a esse sentimento ambíguo e acompanhada por textos de Homero, Virgílio e Hannah Arendt, a autora examina a relação do indivíduo com o tempo, a morte e a eternidade, bem como sua relação com a língua materna e a pátria.
Na primeira parte, sua análise se concentra em cenas do poema que narra o “retorno impossível” de Ulisses a Ítaca; entre elas, a cena que opera a explosão literal da metáfora do “enraizamento” e que está na base da nostalgia: o leito nupcial de Ulisses e Penélope encontra-se, com efeito, cavado no tronco de uma árvore, permanecendo ligado às suas raízes.
Em seguida, a filósofa discorre sobre a errância de Eneias que culmina na fundação de Roma e na exigência de um “falar a língua do outro”; momento este em que a língua se torna critério de identidade mais relevante do que o solo ou o território.
Por fim, Cassin reflete sobre o exílio de Hannah Arendt, a filósofa alemã que, mesmo como cidadã norte-americana, sempre cultivou o amor pela língua materna. Pois esta era sua “verdadeira pátria”, o espaço de permanente invenção onde se localizavam “raízes aéreas”.
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Entre os objetivos desta pequena obra, como propõe a autora, está entender as origens da nostalgia amplia nossa visão política sobre as questões do enraizamento, promovendo uma concepção mais acolhedora da alteridade e da pluralidade das culturas; ou ainda, como indica a filósofa, “uma visão do mundo livre de todos os pertencimentos”.
Sobre a autora:
Barbara Cassin é filósofa, filóloga e diretora de pesquisa no CNRS (França) e do Collège International de Philosophie. Em 2018, foi eleita para a Académie Française, entidade da qual havia recebido o Grand Prix de Philosophie pelo conjunto da obra. É autora de Elogio da tradução, Se Parmênides, O efeito sofístico, entre outros livros publicados no Brasil, além de ter sido coordenadora do projeto coletivo Dicionário dos intraduzíveis.
Ficha Técnica:
Título: A nostalgia: quando, afinal, estamos em casa? – Ulisses, Eneias, Arendt
Autora: Barbara Cassin
Tradutor: Cláudio Oliveira
Acabamento: brochura
Número de páginas: 144 pp
Tamanho: 13,5 x 21
ISBN: 978-65-83140-01-2
Preço: R$ 58
Editora: Quina
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