“O conto da ilha desconhecida”: um pequeno grande clássico para ser lido por todas as idades

“Se for ler Saramago, começa pelo O conto da ilha desconhecida”. Não foram poucos os que deram a mesma dica. Um conto convertido em livro; um livro em formato de conto. Nas reduzidas páginas da edição da Companhia das Letras com as aquarelas de Arthur Luiz Piza, encontra-se a essência do que tornou José Saramago reconhecido e celebrado.

A ausência dos pontos finais, as maiúsculas no meio das frases, os diálogos distribuídos contiguamente à narração e descrição. Além da notória quebra do convencional estilístico, O conto da ilha desconhecida pode ser lido como um manifesto de crítica social e do poder dos pequenos gestos revolucionários, mesmo aqueles que acontecem no campo subjetivo. Um pequeno grande clássico, portanto.

A ilha fora da ilha

A história do homem que vai pedir um barco ao rei para buscar a ilha desconhecida reconhece-se na história portuguesa. Ali há o passado monárquico, a aventura no além-mar, a burocracia pautada nos títulos e benesses. Ao mesmo tempo, o conto dialoga com o universal, a se direcionar àqueles que ousam questionar o status quo, se lançam ao movimento, desejam compreender quem são a partir do afastamento do reconhecível. “Que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não nos saímos de nós” é uma das frases mais conhecidas de Saramago e, assim, encontra ressonância na eterna investigação de homens e mulheres em direção a si mesmos.

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O amor na busca da ilha desconhecida

Para mim, foi surpresa reconhecer n’O conto da ilha desconhecida também uma história de amor. Isso porque a relação estabelecida entre o homem e a mulher da limpeza é pautada na admiração, na confiança, na complementariedade, no encontro de duas solidões. Intencionalmente ou não, Saramago sugere que a busca de quem somos só encontra sentido quando existe a figura do outro como referência, modelo, contraponto. Com as relações, é possível navegar mais longe.

Assim, ao ler O conto da ilha desconhecida, penso na vida como exploração infinita rumo ao desconhecido. E que futuras leituras de Saramago podem fazê-la bem mais interessante.

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Sobre o autor

José Saramago foi um escritor, poeta, contista, dramaturgo e jornalista português. É um dos maiores escritores na literatura portuguesa contemporânea. Foi o primeiro escritor em língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1998.

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