Motel Destino (2024): um retrato exuberante sobre ser refém dos próprios desejos 

Imagem: Rolling Stone

Um motel é um lugar onde se pode dar a liberdade para satisfazer os seus desejos mais lascivos e viver as fantasias que quase ninguém vai presenciar. No entanto, este espaço que permite ser tão livre é também um local de confinamento. 

Por essa razão, esse é o ambiente ideal para o que parece ser uma das principais teses de Motel Destino (2024): você é livre para saciar os próprios desejos, mas está fadado ao destino que essa liberdade traz. 

O longa dirigido pelo cearense Karim Aïnouz apresenta a saga de Heraldo (Iago Xavier), um jovem que é refém das próprias vontades, as mais sublimes e as mais carnais. Ele mesmo declara, naquela que pode ser considerada a sua fala mais importante, que tem um alvo no peito e precisa viver escapando da morte. 

Heraldo é um rapaz que cresceu sem pai, mãe e grandes oportunidades, mas quer mudar a sua história. Para isso, planeja mudar-se do Ceará para São Paulo, mas precisa pagar uma dívida antes da partida. Malsucedido no acerto de contas, em razão de sucumbir aos próprios desejos, ele passa a ser jurado de morte e o decadente Motel Destino vem a ser o seu refúgio. 

Imagem: CNN

Como observam alguns críticos, na paleta de gêneros, Motel Destino pode constar como um thriller erótico, repleto de cores vibrantes, surrealismo e toda a textura e sentimento de um filme gravado em película. 

A contraposição entre o enclausuramento do motel e a natureza exuberante do litoral cearense evidencia ainda mais a ideia de que o homem é livre e ao mesmo tempo fadado ao destino das suas próprias escolhas. 

Os momentos de contemplação que o longa oferece são, em boa parte, influência de David Fincher, em quem Aïnouz diz se inspirar para gravar planos em silêncio logo a seguir a cenas de diálogo. 

Com esses elementos e uma dose crescente de tensão, acompanhamos o triângulo amoroso em que Heraldo se enlaça com Dayana (Nataly Rocha) e Elias (Fabio Assunção), os donos do motel. Em mais uma jornada que levará o protagonista a lutar pela própria vida, é inevitável questionar as escolhas de cada personagem. 

Imagem: Pense numa notícia

Motel Destino foi aplaudido de pé por 12 minutos no Festival de Cannes. Uma das razões para ser ovacionado de tal maneira, certamente, é a forma como usa cores locais em pessoas e lugares reais do Brasil para versar sobre questões sem solução da humanidade. Uma delas é a indagação sobre o destino ser algo para além do nosso controle ou simplesmente a soma das consequências dos nossos atos. 

Nesse sentido, a decisão de satisfazer ou não os próprios desejos cumpre um papel direto na escrita do destino. Em meio aos sons e imagens típicos de um motel, um pensamento que pode surgir é: “os desejos nos aproximam da nossa natureza animalesca, como eles podem ter poder sobre o destino que é algo que excede o entendimento?”

Contudo, a trama nos lembra também que há um desejo que nos aproxima tanto da nossa essência animal quanto da nossa essência divina ou dantesca: o desejo de vingança. 

Sucumbir ou não aos próprios desejos nos faz menos refém deles? Se tivesse feito outras escolhas, Heraldo seria capaz de apagar o alvo que leva no peito? Como um grande filme, Motel Destino nos deixa perguntas sem respostas e com a promessa de duas sequências para completar uma trilogia. 

Minha nota para Motel Destino no Letterboxd: 4 estrelas.

Veja o trailer.

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