Paris, a Cidade Luz, iluminou-se com a magia do teatro musical e da literatura em um dos eventos mais aguardados do ano: a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2024. A escolha de representar, dentre outros grandes livros, a obra-prima de Victor Hugo, “Os Miseráveis”, para marcar este momento histórico não foi por acaso.
A conexão entre a obra completa de Victor Hugo e a identidade nacional francesa é impossível de exagerar – o autor efetivamente ajudou a criar a noção de França que muitos têm hoje – e “Os Miseráveis” é muito mais do que um romance: é um retrato vívido da sociedade francesa do século XIX, explorando temas como justiça, desigualdade, redenção e a luta por liberdade que ressoam até os dias de hoje. Victor Hugo, além de um gênio literário, foi um ativista político que usou sua escrita como ferramenta para denunciar as injustiças sociais e inspirar mudanças.
A escolha de trazer o musical – o mais longevo da história, em cartaz desde a década de 80 até a atualidade em Londres – para a abertura foi uma maneira brilhante de homenagear a obra e também sua famosíssima adaptação para o teatro, a mais conhecida versão adaptada do livro com enorme margem. Além disso, serviu como um excelente lembrete – do tipo que os franceses adoram fazer – de que o musical, apesar de ter atingido renome mundial após sua estreia em inglês no West End e depois na Broadway, é uma composição inteiramente francesa.
Mas há um detalhe que costuma passar direto por muitos: a Revolução Francesa, comumente associada à história de “Os Miseráveis”, não é o que o romance representa. Os Miseráveis se passa quase meio século depois da queda da Bastilha… mas também não representa a Revolução de 1848, a outra data que aqueles que prestam mais atenção também costumam associar com o romance de Victor Hugo.
Não, “Os Miseráveis” não se passa durante nenhuma das grandiosas revoluções da história da França: É a Revolta de 1832, um levante popular de pequena escala e que deu terrivelmente errado, mas que atingiu grande significado simbólico exatamente em função da obra de Hugo, que ocupa centenas de páginas na grande obra da literatura romântica francesa e o centro do palco no segundo ato do musical. Isso, por si só, serve como exemplo da forma como as histórias de Victor Hugo tiveram impacto na formação cultural e histórica da França do século XIX e da imagem que temos dela até a atualidade. Afinal, quem poderia imaginar, antes de “Os Miseráveis”, que uma pequena insurreição que não chegou a durar 48 horas seria, hoje, um dos grandes marcos do imaginário revolucionário da França, ao ponto de ser escolhida para representá-la diante do mundo inteiro?
Os Miseráveis de Victor Hugo
“Os Miseráveis”, obra prima do célebre escritor francês Victor Hugo, é um dos maiores marcos não apenas da literatura francesa, mas da cultura da França como um todo. O enorme romance de 1862 – carinhosamente apelidado de “O Tijolo” por seus fãs mais apaixonados – é uma obra da maturidade de Victor Hugo, extremamente diferente de seu outro grande trabalho, “Notre Dame de Paris” – popularmente, mais conhecido como “O Corcunda de Notre Dame” – que escreveu quando ainda estava na casa dos 20 anos. O livro é universalmente considerado uma das maiores obras do século XIX, examinando temas como a natureza da justiça e da lei, o caminho da redenção, e o sofrimento dos pobres e destituídos em um trabalho artístico monumental que fala, ainda, de história, religião, arquitetura, urbanismo, política, filosofia, moral e ativismo – além, é claro, de seu tema central: o amor, seja ele familiar, fraternal, romântico ou mesmo divino.
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“Os Miseráveis” não apenas trata sobre vários temas da história da França: o livro foi responsável, em boa parte, por moldar a compreensão geral que até hoje persiste de um determinado período da história francesa, e é largamente creditado como o singular responsável pela criação do lugar hoje ocupado pela Revolta de 1832 na História – da mesma forma que seu irmão mais velho, “Notre Dame de Paris”, foi o criador da Catedral de Notre-Dame, que até sua publicação estava prestes a ser demolida, como símbolo da cidade de Paris. Victor Hugo não é apenas um gigante na cultura e história francesas: ele é um de seus criadores.
O romance acompanha a vida de Jean Valjean, um ex-presidiário que passou dezenove anos nas galés após roubar um pedaço de pão para alimentar os filhos famintos de sua irmã. Após uma atitude de extrema caridade de um bispo, Valjean decide mudar completamente sua vida em busca de redenção – e, para isso, quebra sua condicional, se tornando um fugitivo da lei. O inspetor Javert, principal antagonista da narrativa, contudo, é incapaz de deixar que esse homem escape da justiça, e o persegue incansavelmente. Ao longo de vinte anos, Hugo leva seu leitor pela história não apenas de Valjean e de Javert, mas também de um elenco de personagens cujas vidas se entrelaçam nas muitas faces da miséria humana.
Há muitos que acreditam erroneamente que “Os Miseráveis” é um romance da Revolução Francesa. Outros, que se passa na Revolução de 1848. Na realidade, o livro começa em 1815, com a derrota última de Napoleão, e tem como clímax a Rebelião de 1832 – uma revolta malsucedida e relativamente pequena que visava derrubar a Monarquia de Julho, e que teria permanecido largamente obscura para a posteridade, se não fosse o trabalho de Hugo, que a alçou à fama. O próprio escritor estava presente no evento, vendo-se envolvido quase que sem querer na luta ao passar cerca de quinze minutos entre o fogo-cruzado, escondido precariamente entre colunas para evitar ser baleado.
Victor Hugo, conhecido por suas políticas progressistas e por seu ferrenho ativismo republicano, se coloca claramente do lado dos revolucionários – Enjolras, o líder ficcional da Barricada de Saint-Dennis, e Gavroche, o moleque de rua de Paris, são dois de seus maiores e mais icônicos personagens, e muitos de seus outros heróis – dentre eles o próprio Jean Valjean, e também personagens como Marius Pontmercy e Éponine Thenardier – se envolvem na luta ao lado dos revoltosos. Javert, o antagonista, atua como espião para o exército. Entretanto, ele também escreve sobre Luís Filipe em termos simpáticos.
A Revolta de 1832
A Revolução Francesa, que teve início em 1789, aboliu violentamente a monarquia Bourbon e originou uma república francesa. Em 1799, com o Golpe do 18 de Brumário, o general Napoleão Bonaparte assumiu o poder como imperador – marcando o primeiro dos muitos retornos da França a algum tipo de governo autocrático após a Revolução. Alguns anos mais tarde, Napoleão seria destituído e preso na Ilha de Elba, enquanto os Bourbon – então encabeçados por Luís XVIII, irmão do rei Luís XVI, que tinha sido deposto e posteriormente decapitado durante a Revolução Francesa – seriam reconduzidos ao trono, na primeira Restauração.
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Napoleão escapou de Elba e conseguiu recuperar sua posição em 1815. Esse novo governo não durou muito, porém – o império cairia mais uma vez cerca de 3 meses após esse retorno fantástico, e o fim do que ficou conhecido como o Governo de 100 Dias também marcaria o fim da era napoleônica como um todo. O imperador terminou seus dias preso em outra ilha, Santa Helena. Chegava assim a Segunda Restauração da casa de Bourbon.
Em 1830, após a Revolução de Julho, o rei Charles X de Bourbon foi deposto. No lugar da abolição da monarquia, porém, a Câmara de Deputados eleita votou pelo estabelecimento de uma monarquia constitucional que colocou o rei Luís Filipe, o primo mais liberal de Charles X, no trono francês. Luís Filipe era um “rei burguês”, conhecido por governar para a classe média – em oposição aos governos notadamente aristocráticos de monarcas anteriores, e governos republicanos vistos como populares.
Essa atitude enfureceu os franceses republicanos, que enxergavam a manutenção da monarquia como uma traição da Revolução Francesa. Ao mesmo tempo, Bonapartistas sofriam pela perda de seu imperador, Legitimistas apoiavam o retorno da família Bourbon ao poder, e parisienses, de maneira geral, estavam descontentes com suas condições de vida e com as gritantes desigualdades sociais na capital francesa, que tinham estado particularmente acentuadas desde 1827 – pois entre aquele ano e 1832, uma série de colheitas ruins gerou falta de comida generalizada, que por sua vez acarretou o imenso aumento de preços de necessidades básicas.
Em Dezembro de 1831, a segunda mais importante cidade da França, Lyon, foi palco de uma revolta trabalhista por melhores condições de vida e trabalho, conhecida como Revolta de Canut, e uma ocupação militar da cidade foi decretada após a repressão da rebelião. Em Fevereiro de 1832, Paris viu surgir outra rebelião significativa – a Conspiração da Rue Des Prouvaires, organizada por Legitimistas para colocar os Bourbon de volta no trono. A situação política da França estava agitada, e Luís Filipe via-se atacado por vários lados.
Para agravar o cenário, a França foi atingida por uma epidemia de cólera na primavera de 1832, que fez mais de cem mil vítimas ao todo – tendo cerca de 18.000 delas sido registradas em Paris, a vastíssima maioria nos bairros pobres, que ficaram devastados pela doença e pela falta de alimentos. A prevalência da doença nas regiões mais carentes da cidade chegou a levantar suspeitas – largamente tidas hoje como infundadas – de que o governo tinha contaminado os poços desses bairros.
A Rebelião de Junho, Levante de 1832, Insurreição Republicana de 1832, ou simplesmente Dia das Barricadas, foi uma rebelião anti-monarquista que ocorreu em Paris entre os dias 5 e 6 de junho de 1832, dois anos depois do estabelecimento da Monarquia de Julho. A epidemia de cólera fez duas vítimas de enorme importância na política francesa: o conservador Presidente do Conselho Casimir Pierre Pérrier, poderosíssimo apoiador do rei Luis Filipe que morreu em 16 de Maio; e o General Jean Maximilien Lamarque, um herói das guerras napoleônicas e amado reformador, muito popular com o povo de maneira geral, que faleceu em 1 de Junho. Essas duas mortes, tão próximas uma da outra, foram golpes duros em Luís Filipe – os conservadores que apoiavam Pérrier já não tinham tanta ligação com o rei, e a população, que amava Lamarque, viu-se roubada de uma de suas poucas esperanças para um futuro mais progressista.
O funeral de Lamarque, um evento grande e público no dia 5 de Junho, era a oportunidade perfeita para uma insurreição. Os envolvidos eram muitos – a juventude parisiense, sobretudo de estudantes universitários, em massa; trabalhadores de Paris (em sua vastíssima maioria da área da construção, mas também donos de pequenos comércios e funcionários burocratas); e um grande número de imigrantes vindos sobretudo da Alemanha, da Itália e da Polônia. Diversas células secretas, encabeçadas pelos republicanos mais radicais, foram as lideranças do movimento, que visava criar focos de protestos e levantes similares aos que tinham ocorrido em 1830.
Esses grupos sequestraram o cortejo fúnebre e o redirecionaram para Praça da Bastilha – local significativo por ter sido o marco do início da Revolução Francesa em 1789. Lá, foram feitos discursos elogiosos sobre as posições políticas de Lamarque – dentre os oradores estava o Marquês de Lafayette, célebre revolucionário francês envolvido não apenas na Revolução de 1789, mas também na Guerra de Independência Americana -, em relativa paz, que permaneceu até o momento em que uma bandeira vermelha carregando os dizeres “La Liberté ou la Mort” – A Liberdade ou a Morte – foi erguida pelo jovem pintor Michel Geoffroy, dando início a uma agitação que foi agravada por uma troca de tiros entre os insurgentes e as tropas do governo. Lafayette pediu por calma, mas foi em vão. A Revolta de Junho tinha começado.
Os insurgentes, cerca de 3.000, conseguiram tomar conta da maior parte dos distritos do centro e do leste de Paris – a região entre Chatelet, o Arsenal e o Faubourg Saint-Antoine, com o centro da insurreição localizado no centro histórico da cidade, onde as ruas estreitas foram bloqueadas por barricadas. As duas mais famosas barricadas foram aquelas da Rue Saint-Martin e, acima de tudo, da Rue Saint-Denis – pois esta última foi imortalizada por Victor Hugo em seu Os Miseráveis. Ameaçava-se que, no dia seguinte, os revoltosos tomariam o Palácio das Tulherias, onde vivia Luís Filipe.
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A manhã do dia 6 de Junho chegou como uma grande tragédia para os revolucionários. A Guarda Nacional de Paris, composta por 20.000 milicianos não-regulares, foi reforçada durante a noite com cerca de 40.000 soldados do exército regular, ocupando os distritos mais periféricos da capital, e Luís Filipe tinha decretado estado de sítio. A revolta tinha falhado em se espalhar, e a população, com a qual os rebeldes contavam para dar tração ao movimento, tinha permanecido em casa. Os últimos rebeldes estavam cercados, presos nas vielas do centro histórico parisiense por suas próprias barricadas, e por militares na intercessão das ruas Saint-Martin e Saint-Merry.
Uma última luta ocorreu no Cloître Saint-Merry, onde os derradeiros esforços da revolta se concentraram em um conflito que terminaria em uma derrota amarga e completa no fim do dia. A luta em Saint-Merry seria, mais tarde, muito utilizada por republicanos para fortalecer sua posição: muitos a compararam com a batalha de Termópilas, onde trezentos soldados de Esparta, liderados pelo rei Leônidas, foram dizimados após heroicamente lutarem contra o imenso exército do império Persa. Os insurgentes tiveram 93 mortos e 291 feridos. O exército e a guarda nacional, combinados, 73 mortos e 344 feridos. Quase nada da insurreição havia sobrado.
Luís Filipe saiu fortalecido da rebelião, pois demonstrou muito mais espírito e presença que seu predecessor, Charles X, tinha feito em 1830. Seu governo – nascido ele próprio de uma revolução – começou imediatamente a distanciar-se de seu próprio passado revolucionário. A monarquia só seria deposta dezesseis anos mais tarde, com a Revolução Francesa de 1848, dando lugar à Segunda República Francesa – que foi desfeita com imensa rapidez, contudo.
Les Mis, de Paris ao West End
Em 1980, uma versão musical do romance de Victor Hugo teve sua premier em Paris, no Palais de Sports, com música de Claude-Michel Schönberg, letra de Alain Boublil e Jean-Marc Natel, direção por Robert Hossein e livreto por Schönberg e Boublil. O musical adapta de maneira bastante fiel – embora reduzida – a história do livro original. Em 1985, uma produção em inglês por Cameron Mackintosh – produtor de grandes sucessos como Cats, O Fantasma da Ópera, Mary Poppins, Miss Saigon e Hamilton -, com letras de Herbert Kretzmer, foi aberta em Londres pela Royal Shakespeare Company no Barbican Theatre, antes de ser transferida para o West End, onde até hoje está em cartaz.
A produção londrina teve sucesso tão estrondoso que levou à abertura do show na Broadway – onde ficou em cartaz de 1987 até 2003, e desde então teve duas revivals – e, posteriormente, a uma série de produções internacionais que até hoje correm o mundo.
O segundo ato do show inteiro está focado na Rebelião de 1832, incluindo seus antecedentes e suas consequências. A música que marca, no espetáculo, o início da revolta no funeral do general Lamarque – “Do you hear the people sing?” (“Você ouve o povo cantar?”) – se tornou uma música de protesto internacionalmente conhecida, que até hoje é cantada em revoltas e protestos ao redor do mundo – em 2019, figurou proeminentemente, por exemplo, nos protestos em Hong Kong. Seu refrão, sobretudo, ainda é um hino de revolta conhecido mundialmente:
“Do you hear the people sing? “Você ouve o povo cantar?
Singing the song of angry men. Cantar a música dos homens com raiva.
It is the music of a people who É a música de um povo que
Will not be slaves again. Não será escravo outra vez.
When the beating of your heart Quando o bater do seu coração
Echoes the beating of the drums Ecoar o bater dos tambores,
There is a life about to start Há uma vida prestes a começar
When tomorrow comes” Quando vier o amanhã”
Foi ela a música que figurou, em sua versão francesa – A La Volonté du Peuple (“Pela vontade do povo”) – na abertura das olimpíadas em Paris nesse final de semana. A apresentação contou com uma versão adaptada da barricada, cenário proeminente do segundo ato do musical, que aparece no palco, e envolveu a encenação de momentos da luta da Rebelião de 1832.
Os Miseráveis nas Olimpíadas e o legado de Victor Hugo
A escolha de “Os Miseráveis” para a abertura das Olimpíadas de Paris não foi apenas um tributo a uma obra-prima da literatura, mas também um reconhecimento do poder da arte de moldar a história e a cultura. Victor Hugo, com sua escrita visceral e sua visão humanista, imortalizou a Revolta de 1832, elevando um evento histórico relativamente obscuro ao status de ícone da luta por liberdade e justiça.
O legado de “Os Miseráveis” transcende as fronteiras da França. A história de Jean Valjean e a mensagem de esperança contida nas páginas do romance, e a força da música que até hoje é cantada todas as noites em palcos ao redor do mundo, continuam a inspirar gerações. A adaptação musical, com sua trilha sonora memorável e suas cenas épicas, ampliou ainda mais o alcance da obra ao tornar-se um fenômeno cultural global por mérito próprio.
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A apresentação de “Os Miseráveis” na cerimônia de abertura das Olimpíadas foi um momento de celebração da cultura francesa e um convite para que o mundo inteiro refletisse sobre os valores universais presentes na obra de Victor Hugo. Em um mundo cada vez mais dividido, a história de “Os Miseráveis” nos lembra que a luta por um futuro mais justo e igualitário é uma jornada contínua. A mensagem de Victor Hugo continua a ser relevante hoje, inspirando movimentos sociais e incitando a reflexão sobre os desafios da nossa sociedade.
Ao homenagear “Os Miseráveis”, o país não apenas celebrou sua rica história e cultura, mas também reafirmou sua visão histórica de si mesma como um farol de liberdade, igualdade e fraternidade para o mundo. A obra de Victor Hugo, com sua força e sua beleza, continuará a ecoar por gerações, lembrando-nos sempre da importância da luta por um mundo mais humano e solidário. Pois, nas palavras do próprio autor na abertura de sua obra:
“Enquanto existir nas leis e nos costumes uma organização social que cria infernos artificiais no seio da civilização, juntando ao destino, divino por natureza, um fatalismo que provém dos homens; enquanto não foram resolvidos os três problemas fundamentais: a degradação do homem pela pobreza, o aviltamento da mulher pela fome, a atrofia da criança pelas trevas; enquanto, em certas classes, continuar a asfixia social ou, por outras palavras e sob um ponto de vista mais claro, enquanto houver no mundo ignorância e miséria, não serão de todo inúteis os livros desta natureza”.