Quando li a sinopse e vi que E se?, de Nicole Pedroti Venturin Padilha, publicado pela Viseu, em 2024, era sobre duas pessoas que têm suas vidas alteradas pelo amor e pelo destino após diversos encontros e desencontros, logo me veio à mente Um dia: Vinte anos, duas pessoas, romance de David Nicholls que já foi adaptado para o cinema e mais recentemente transformado em uma série. Na história, Dexter e Emma sabem que após a faculdade seguirão caminhos diferentes, mas um dia juntos deixou marcas profundas. Pelos próximos vinte anos, em todo dia 15 de julho, acompanhamos alguns flashes do relacionamento deles, seus encontros e desencontros.
Aqui, o caminho é diferente: temos cinco anos, duas pessoas que criam uma conexão inexplicável. Paola e Freddie moram em cidades diferentes e estão vivendo momentos distintos de um processo de recomeço. Ela, vindo de um relacionamento tóxico. Ele, de um grave acidente que quase lhe custou a vida. Ela mergulhada em dor e melancolia pelo que foi e pelo que não será. Ele decidido a aproveitar essa nova oportunidade para ser feliz.
Com tudo para terem rumos distintos pela frente, Paola e Freddie se encontram aleatoriamente em uma cidade que não lhes pertence.
Alternando o ponto de vista dela e o ponto de vista dele, Nicole nos dá o mapa do tesouro. A visão de ambos os personagens do mesmo acontecimento, os diferentes receios, as diferentes expectativas, emoções, reações, o significado dos silêncios. Todo esse caldeirão despertado a partir de um abraço inesperado em meio às lágrimas que caiam copiosamente pelo rosto de Paola em dia ensolarado na orla de Maceió.
Era um daqueles cenários perfeitos, mas mesmo sentindo que deveria estar feliz, Paola não consegue conter o sofrimento que a assola internamente. Vendo a cena, Freedie não se segura mesmo sabendo o quão estranho é ir até uma desconhecida perguntar por que ela está chorando, porém a vontade de conhecê-la é mais forte do que ele.
Após esse primeiro toque atribulado, sem contatos trocados, o adeus era inevitável, claro. Mas será mesmo? Bom, parece que o destino tinha outros planos e um novo encontro casual os colocou juntos novamente, como se uma força magnética os repelisse e os atraísse um do outro, um para o outro.
“Vou ter que deixar o destino decidir isso por mim…Eu acredito que, se for para ficarmos juntos, nós ficaremos. E algo me diz que assim será. Não sei onde, nem quando, mas, um dia, estaremos juntos! Devo estar meio louco…”
Porém, Freddie logo sentiu o muro que ela havia criado ao redor de si mesma. Impenetrável. Afastando qualquer possibilidade de um vínculo mais profundo, porém Paola não contava com o poder da água salgada, aquela que lava tudo, que cura tudo. Água que também corroi muros, reais e abstratos. Assim, em um daqueles cenários paradisíacos que só Milagres pode fazer acontecer, uma brecha se abre, porém não o suficiente, não o suficiente, ainda. E lá vamos nós com mais encontros e desencontros.
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Ela fechada, ele aberto. Cada um em um continente imaginando coisas sobre a vida do outro, sobre os caminhos tomados pelo outro e sem ideia se mais encontros aconteceriam e em quais circunstâncias. O destino no comando. Ele manda pistas, mas também é ardiloso.
“Nããããão, não é justo!
Destino, que brincadeira de mau gosto é essa?”
Um casal tão compatível em tantos sentidos, um verdadeiro amor à primeira vista, mas destinados à distância? Será o destino tramando das suas?
Com um toque melodramático, emoções intensas e reviravoltas surpreendentes, em singelas 72 páginas, Nicole cria uma narrativa curta que se encaixa bem na rotina de quem é fã de histórias curtas e ao estilo “garota conhece garoto” e com o plus de um final que exige que o leitor tome decisões difíceis.
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Sobre a autora:
Nicole Pedroti Venturin Padilha é psicanalista e escritora. Graduada em Publicidade e Propaganda e em Psicologia pela Universidade de Caxias do Sul, tem formação em Psicanálise pelo Centro de Estudos Psicanalíticos de Porto Alegre/Serra.
Hoje, atua como supervisora clínica e coordenadora de seminário e de grupo de estudos no CEPdePA Serra. Venceu o Prêmio Doro do CEPdePA em 2020, e o Prêmio da Jornada da SBPDEPA, em 2023. Está cursando a especialização em Psicanálise Vincular do Instituto Contemporâneo e escreve artigos e capítulos de livros em publicações de instituições psicanalíticas. Também é uma das editoras e uma das autoras do livro Pluralidades : a Psicanálise entre o Feminismo, o Racismo, a autora dos livros Cocô de Pombo e E se?, além de idealizadora e criadora de conteúdo do perfil Psicanálise sem Espetáculo.