“Ponciá Vicêncio”: adaptação do clássico de Conceição Evaristo leva escrevivências para o palco

Adaptação cênica para o clássico “Ponciá Vicêncio”, de Conceição Evaristo, espetáculo inédito dirigido por Tatiana Tiburcio e Renato Farias leva à cena as peculiaridades da escrevivência em diálogo com a referência negra feminina nas recordações da autora.

O encanto com a literatura de Conceição Evaristo tem levado a consagrada escritora mineira a merecidos espaços de reconhecimento. Muito antes disso, em 2006, numa sala de aula de um curso de pós-graduação, estava o atento Renato Farias como seu aluno. Ao se deparar com a escrita de Conceição – que, à época, ainda não havia recebido o reconhecimento devido – teve o ímpeto de adaptar o livro “Ponciá Vicêncio” para o teatro, pedindo licença diretamente à sua autora que, de pronto, lhe concedeu a bênção.

Inspirado e construído a partir das palavras da prestigiada autora, o espetáculo traz para a cena o conceito de escrevivência criado por Conceição e apresenta um diálogo de sua escrita com as suas próprias recordações. Como elementos de costura, os seus poemas. As três atrizes em cena reverberam a trajetória de Ponciá Vicêncio a partir de suas vivências, vozes e corpos pois, em um território como o Rio de Janeiro, a referência negra feminina se faz profundamente cotidiana na construção da identidade cultural.

No pensamento, nos ensinamentos, no afeto, no cuidado, na comida, na roupa, no ritmo, na cantiga, no matriarcado das comunidades, elas são eco de uma ancestralidade que insiste em ser e estar presente numa espiral que é tanto do tempo, quanto de resistência, força, fé e ressignificação. “Acho que nosso maior desafio é justamente traduzir cenicamente o conceito de escrevivência. No entanto, como mulher negra, é um conceito que eu compreendo em um sentido muito profundo e identitário. Então bastou colocar essa escuta sensível em prática e o diálogo se estabeleceu de forma orgânica”, pondera Tatiana Tiburcio.

“Uma adaptação literária para o teatro deve ser um equilíbrio entre o respeito e o desrespeito pela obra original. Respeito no que toca aos conceitos da escrita e ao universo da escritora, sobretudo em termos éticos e políticos. Desrespeito para transportar de uma linguagem para outra o recorte desejado da história, ainda que isso signifique subverter tempos e priorizar trechos. O maior desafio nesse caso foi manter a alta voltagem poética da escrita de Conceição sem perder a oralidade que está na base da sua gramática do cotidiano”, complementa Renato Farias.

Além de trechos de “Ponciá Vicêncio”, a adaptação traz alguns poemas que serão ditos em off por atrizes convidadas, lado a lado com recortes de entrevistas da própria Conceição, propondo na cena um diálogo entre ficção e realidade já proposto pela escritora em sua obra literária. Dentre as convidadas estão a própria Conceição EvaristoDja MarthinsLeda Maria MartinsLetícia SoaresOlívia Araújo e Vilma Melo.

“Através de pontos de intercessão entre Conceição e Ponciá, buscamos achar a convergência com nossa existência de mulher negra para compreender esse ponto de forma ampla, coletiva. Posso adiantar que os elementos da natureza, cantigas e movimentos buscam cumprir essa função. Mas não só. Todas somos uma a partir de Conceição e sua criação”, reitera Tatiana.

Leia também: “Canção para ninar menino grande”: Conceição Evaristo desenha mosaico afetuoso de experiências negras

Foto: Rodrigo Menezes

Sendo a ancestralidade das pessoas negras algo vivido no cotidiano, a abordagem da ancestralidade da mulher negra presente na obra de Conceição foi levada para este trabalho a partir da diretora Tatiana Tiburcio, em diálogo com as outras duas atrizes.

“Acredito que precisamos ser espelhos de nós para que nunca se tenha dúvida de onde viemos, onde estamos e para onde desejamos ir. Temos história que se reflete no nosso presente para construirmos o futuro que queremos e merecemos”, reforça Tiburcio.

Se por um lado quem conhece o livro pode querer conferir sua ‘versão cênica’, Renato acredita que levar a obra de Conceição Evaristo aos palcos também pode tornar a obra e a autora ainda mais populares, ou mesmo estimular novos leitores. “Ainda há muita gente que desconhece Ponciá. Assim como há muita gente que conhece Conceição sem ter lido nada seu. Acredito que a potência do teatro atinge o espectador por canais diferentes da literatura e que podem ser bastante sedutores para criar novos desejos de leitura. O diálogo entre as linguagens aproxima os espectadores de teatro da leitura, assim como os leitores da experiência teatral”, encerra Renato.

Compre o livro aqui!

SERVIÇO:

“PONCIÁ – CONCEIÇÃO EVARISTO”

Temporada: 25 de julho a 18 de agosto de 2024

Horário: 5ª feira a domingo, às 20h

Ingressos: R$ 7,50 (associado do Sesc), R$ 15 (meia-entrada), R$ 30 (inteira)

Local: Arena do SESC Copacabana

Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana – RJ

Informações: (21) 2547-0156

Bilheteria: Terça a sexta – de 9h às 20h; Sábados, domingos e feriados – das 14h às 20h

Lotação: 288 lugares

Classificação Indicativa: 14 anos

Duração: 75 minutos

Gênero:  Drama Poético

Instagram: @ponciaespetaculo

FICHA TÉCNICA:

Texto: Conceição Evaristo

Dramaturgia: Renato Farias

Direção: Tatiana Tiburcio e Renato Farias

Direção Musical: Muato

Elenco: Damiana Inês, Luciana Lopes e Tatiana Tiburcio

Poesias (off) / Autora e Atrizes convidadas: Conceição Evaristo, Dja Marthins, Leda Maria Martins, Letícia Soares, Olívia Araújo e Vilma Melo

Iluminação: Ana Luzia Molinari de Simoni

Figurino: Ricardo Rocha

Cenário: Cachalote Mattos

Direção de Movimentos: Tatiana Tiburcio

Técnica/Operadora de Luz: Jessica Catharine

Técnico/Operador de Som: Bob Reis

Costureiras: Izabel Rocha e Teresa Santos

Cenotécnico: Dodô Giovanetti

Intérprete de Libras: Claudia Chelque

Design Gráfico: André Senna

Fotos e Vídeo: Rodrigo Menezes

Mídias Sociais: Taís de Amorim Manoel

Assessoria de Imprensa: Marrom Glacê Comunicação – Gisele Machado & Bruno Morais

Produção Executiva: Rafaela Marques e Taú

Direção de Produção: Damiana Inês

Idealização: Cia Teatro Íntimo

Related posts

“Não corre, menino!”: peça retrata violência policial sobre corpos pretos e periféricos

“As Belas Coisas da Vida”: espetáculo infantojuvenil celebra a simplicidade dos bons momentos

“A Lira dos 20 Anos – O Musical”: peça retrata luta, memória e resistência durante a ditadura militar