Bando da Leitura: Professora incentiva o contato com a literatura através de projeto voluntário

Há 17 anos a professora Lucélia Clarindo abria as portas de sua própria casa pela primeira vez e convidava seus ex-alunos e toda a comunidade para adentrar ao mundo mágico da literatura. O projeto chamado Bando da Leitura, em Ponta Grossa, no Paraná, uma ação voluntária da professora, tem contribuído e incentivado muitas crianças, jovens e adultos a terem contato com os livros, com a arte, com novas formas de expressar-se e compreender o mundo.

Os encontros, como mencionado, acontecem sempre na casa da professora, que disponibiliza os livros de sua biblioteca pessoal, além de seu espaço, seu tempo e seu afeto nesta jornada na qual busca cativar os jovens através da leitura. Para conhecer um pouco mais do projeto, fizemos algumas perguntas para a professora Lucélia:


1. Você poderia contar um pouco da sua história com a literatura? Como decidiu ser professora e contadora de histórias?

R: Minha história com a literatura começou antes de nascer, pois minha mãe guardou as revistas que meu tio trazia para ela durante a sua mocidade . Ele serviu o exército no RJ e quando vinha visitar os pais que moravam em Itaiacoca e depois no Parque Estadual de Vila Velha . Era a revista O Cruzeiro e Manchete com várias colunas literárias como Ziraldo e Raquel de Queiroz. Ela contava histórias, bem como minha avó e meu tio .

Foi nesse universo de poucos livros lidos à luz de velas e muitas histórias que me criei. Nunca esqueço que aos oito ou nove anos lia escondido o livro da história do Lampião. O primeiro livro que ganhei foi Marcelino Pão e Vinho.
Minha mãe queria muito ter sido professora , alfabetizou muitas crianças e sempre quis ser professora.

Meu nome é uma homenagem à filha da professora que ela mais gostou. Não foi fácil pois eu morava longe da cidade, morava numa casa sem luz elétrica, mas realizei meu sonho .

Sempre gostei de ler e contar histórias. E foi numa escola em que trabalhei em 1988 que fui convidada para coordenar a sala de leitura. Ali me descobri contadora de histórias e assim foi até os dias de hoje.


2. Quando e como surgiu a ideia de criar o projeto Bando da Leitura?

Foi quando decidi me aposentar na escola Frei Elias, onde também trabalhava na sala de leitura em 2006. Em 2007 duas meninas, a Bianca e a Ana Paula, de 9 anos, me procuraram para continuar nossas rodas de leitura como era na Frei Elias, aqui em casa. E foi assim que no dia 14 de março , dia da poesia, que começamos a nos encontrar aqui em casa com outras crianças que começaram a vir uma vez por semana. Propuseram a votação de um nome e o escolhido foi Bando da Leitura por sugestão da Bianca. São 17 anos.

3. Onde são realizados os eventos e quem os organiza?


Do Bando são na minha residência onde tem uma sala de leitura com mais de dois mil livros, ateliê de artes , um quintal grande e uma varanda onde acontecem as apresentações artísticas dos artistas locais.
Temos também as rodas com o Bando Mulheres e o Bando da Saudade com a terceira idade.


4. Quais foram as principais mudanças no projeto ao decorrer do tempo?


O dia da semana, atendendo a pedidos, mudou de quarta para sexta-feira tendo em vista o ensino em tempo integral.
A procura por aulas particulares. A procura pelos artistas para realizarem apresentações aqui. A parceria com o Rotary Alagados .

5. Como foram as primeiras reações dos participantes do bando?


Apesar do espaço ser bem precário, pois era na varanda, sem cobertura, as crianças vinham a pé, em mais de quinze a vinte por semana . Gostavam de fazer dramatizações e se caracterizar dos personagens dos contos lidos .

6. Para a professora, qual a função da literatura na sociedade?

A literatura abre horizontes. Vejo por mim, por minha mãe que sempre teve uma visão de mundo a frente do seu tempo e num tempo que ” mulheres não podiam estudar” ela não mediu esforços para que estudássemos . A Literatura é necessária para a compreensão do mundo e de nós mesmos .

Leia também: Qual a importância da literatura no aprendizado de uma língua?


7. Como você enxerga o impacto social provocado na vida das crianças e jovens que entram em contato com a leitura e a arte através do projeto?


De forma bem positiva. Ao longo desses 17 anos , sempre ouço : ” já fui no bando , o bando mudou minha vida , o bando fez a diferença na minha infância , marcou minha infância…”.Teve uma advogada que falou que as leituras em voz alta ajudaram ela na atuação como advogada , outra que está terminando Direito que,graças ao bando,ela pegou o gosto pela leitura que ajuda muito na graduação.
Só tenho visto bons retornos sobre o bando, não importa a profissão escolhida pelos ex bandoleiros .


8. ⁠Como podemos apoiar o projeto Bando da Leitura?


Esse interesse em saber mais já é um apoio. O bando já foi tema de diversos trabalhos de conclusão de curso, temos estágios em parceria com a UEPG também.
Apoiar o bando ajudando a divulgar e se fazendo presente nas nossas sextas feiras às 14h no lugar de sempre!


Lucélia Clarindo, professora, licenciada em Pedagogia pela UEPG, especialista em Metodologia do Ensino da Arte, Literatura para crianças e jovens e Contação de Histórias e Aperfeiçoamento pela FATUM em Curitiba . Atua na área de Mediação de Leitura e Contação de Histórias há 36 anos .
Atualmente é professora no Projeto de Contação de Histórias na UATI – Universidade Aberta para a Terceira Idade há 7 anos
Contadora de histórias na Livraria Curitiba há projeto Hora do conto há 2 anos
Coordena o Bando da Leitura há 17 anos

Clique para saber mais sobre o projeto Bando da Leitura

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