5 romances que tratam de aborto para você se aprofundar na questão

O aborto nunca foi uma discussão que saiu de cena, no entanto, com o novo projeto de lei (PL 1904 24) que na última quarta-feira (12) foi tomado como urgência pela câmara dos deputados, urge um tensionamento e informatização mais empático da questão. A PL basicamente equipara o aborto de gestação acima de 22 semanas ao homicídio, inclusive em casos de violência sexual, e prevê detenção de seis a vinte anos para a gestante em todos os casos de aborto após 22 semanas. 

Quando se trata de aborto, há a difusão de muita desinformação. Diante disso, muitos tratam os casos de aborto como uma questão moral e política, apesar de que, na verdade, se qualifica primordialmente como algo que concerne á saúde física e mental da mulher e de pessoas que engravidam. Mas, se tratando do corpo e mente da mulher, sabemos que muitos anos se sucederam, e ainda permanecem, longe da autonomia.

A discussão sobre o tema do aborto não é religiosa, não é política, não é uma disputa entre direita e esquerda, não é sequer um tema polêmico como muitos tentam transformar. É, na verdade, um tema de saúde pública e de sobrevivência das mulheres. É, sim, sobre autonomia dos corpos femininos, mas também sobre uma realidade em que mulheres têm direito de fazer escolhas seguras em sua trajetória.

O aborto é sobre isso: histórias, vivências e experiências de mulheres e pessoas que engravidam.

Portanto, para que você, leitor, possa se aprofundar na questão, nada melhor do que literatura, que nos permite calçar os sapatos dos outros, criar empatia e compreender diferentes realidades. Assim, para desmistificar a questão separamos 5 livros sobre aborto para você se aprofundar.

Leia também: Um Brasil de “aias”: a distopia do mundo real acontece aqui

O Acontecimento, Annie Ernaux

Em 1963, Annie Ernaux tinha 23 anos e engravida do namorado que acabara de conhecer. Sem poder contar com o apoio dele ou da própria família numa época em que o aborto era ilegal na França, ela vive praticamente sozinha o acontecimento que tenta destrinchar neste livro quarenta anos depois.

Escrevendo, devo às vezes resistir ao lirismo da cólera ou da dor. Não quero fazer neste texto o que não fiz na vida naquele momento, ou que fiz muito pouco – gritar e chorar.

Annie Ernaux, em ‘O Acontecimento’.

As Mães, Brit Bennett

Nadia é a primeira da família a cursar uma universidade. Ela se envolve com o filho do pastor da igreja, Luke Sheppard. Nadia fica grávida ainda adolescente e decide realizar um aborto. Anos depois, eles ainda vivem à sombra das escolhas da juventude e da insistente dúvida: e se tivessem feito diferente?

Talvez a gente nunca saiba quem vai ser no mundo, pensou ela. Talvez a gente seja uma pessoa diferente em cada lugar em que more.

Brit Bennet, em ‘As Mães’.

As Meninas, Lygia Fagundes Telles

Neste livro, a escritora Lygia Fagundes Telles trata uma série de tabus como drogas, masturbação e também aborto, temas que perpassam a vida das protagonistas Lorena, Lia e Ana Clara.

Quero te dizer também que nós, as criaturas humanas, vivemos muito (ou deixamos de viver) em função das imaginações geradas pelo nosso medo. Imaginamos consequências, censuras, sofrimentos que talvez não venham nunca e assim fugimos ao que é mais vital, mais profundo, mais vivo. A verdade, meu querido, é que a vida, o mundo dobra-se sempre às nossas decisões

Lygia Fagundes Telles, em ‘As Meninas’.

Manual da Faxineira, Lucia Berlin

Lucia Berlin teve uma vida repleta de eventos e reviravoltas. Aos 32 anos, já havia vivido em diversas cidades e países, passado por três casamentos e trabalhado como professora, telefonista, faxineira e enfermeira para sustentar os quatro filhos. No último conto, “Mordidas de Tigre” o tema do aborto aparece na história de uma jovem que vai a uma clínica ilegal para fazer realizá-lo.

A expressão de tristeza no rosto de Mark, a mesma que vi mais tarde no rosto de todos os meus filhos no decorrer da vida deles. Uma ferida causada por um acidente, um divórcio, um fracasso. A ferocidade da minha ânsia de protegê-los. A minha impotência.

Lucia Berlin, em ‘Manual da Faxineira’.

Palmeiras Selvagens, William Faulkner

O livro entrelaça duas histórias independentes, em capítulos alternados, mas que se iluminam mutuamente. Uma delas conta a paixão vivida em poucos meses entre Wilbourne, um médico recém-formado, e Charlotte, uma mulher casada, com duas filhas. A história começa como uma tragédia anunciada: na noite em que Wilbou­rne pede ajuda a um outro médico para salvar Charlotte das complicações de um aborto clandestino que a levarão à morte.

Dizem que o amor morre entre duas pessoas. É mentira. Não morre. Simplesmente abandona você, vai embora, se você não é bom o bastante, digno o bastante. Não morre; quem morre é você.

William Faulkner, em ‘Palmeiras Selvagens’

Fonte

Related posts

10 poetas da Primeira Guerra Mundial que você precisa conhecer

Em “Recontagem”, os defeitos do sistema eleitoral americano são mostrados com ironia

Christian Dunker destrincha o amor em seu novo livro: “A arte de amar: uma anatomia de afetos, emoções e sentimentos”.