Love Lies Bleeding – O Amor Sangra (2024): um quase sensível thriller de vingança

Para fazer um filme essencialmente contemporâneo é preciso mais do que só ser um contemporâneo, mas aprender a atirar com as armas que o próprio tempo dá. Essa é a melhor qualidade de Love Lies Bleeding – O amor sangra (2024), novo filme de  Rose Glass, a mesma de Saint Maud. 

O filme conta a história de Lou Lou, interpretada por Kristen Stewart, que conhece a aspirante a fisiculturista Jackie (Kate O’Brian). As duas começam a desenvolver uma relação que começa a ir ladeira abaixo quando a história da família de Lou Lou se soma aos efeitos dos anabolizantes em Jackie. 

Em alguns momentos senti um pouco a onda da série Vingança Sabor Cereja (2021), tanto pela estética violenta nas cores e nos enquadramentos, quanto na tentativa de dar à perspectiva feminina – mas não de uma visão “de mulher” – o que seria pensar, planejar e executar, ou não, uma vingança. 

E o mais interessante é justamente isso: uma tentativa de reelaboração de uma narrativa de vingança que tem se tornado cada vez mais comum no cinema, como no mal-sucedido Bela Vingança. No caso de Love Lies Bleeding, temos o investimento nas figuras de três personagens femininas: temos Lou Lou, a lésbica repleta de traumas do passado; Jackie, aquela que abandonou sua casa para procurar um sonho impossível onde vivia; e a irmã de Lou Lou, personagem que vive um relacionamento abusivo. 

Leia também: “Conduzindo Madeleine” (2022): toda viagem é uma companhia nas sutilezas do cinema frânces

Essa tríade, parece, amplia vontades e desejos desse arco amplo, infinito e ambivalente chamado “mulher” em relação ao que fazer diante de uma mesma situação: sofrer, agir ou aceitar? E é neste ponto em que a narrativa é mais bem sucedida. 

Da metade para frente, o filme ganha toques de thriller com a estranha figura do pai de Lou Lou e a tentativa de se escapar de um crime, abrindo espaços, inclusive, para um flerte com o fantástico, cena que muitos vão achar risível(e é), mas que faz todo sentido na lógica narrativa que brinca com os efeitos brutais dos anabolizantes e a própria história do cinema (por que não uma She-Hulk?)

No mais, é um filme que entretém e diverte, que discute temas importantes e, como disse no começo, sabe ser contemporâneo na medida certa. Como numa escola de tiro, aprende a atirar com as armas do seu próprio tempo e acerta. Love Lies Bleeding – O Amor Sangra (2024) deixa um gostinho de quero mais e isso já é muita coisa hoje em dia. 

Related posts

17 Filmes brasileiros indicados pelo Selton Mello!

Marcelo Rubens Paiva revela que “Ainda Estou Aqui” só pôde ser escrito por causa da Comissão da Verdade do governo Dilma

“Horizon: Uma Saga Americana Parte 1” (2024) – Terra da oportunidade e da violência