Para fazer um filme essencialmente contemporâneo é preciso mais do que só ser um contemporâneo, mas aprender a atirar com as armas que o próprio tempo dá. Essa é a melhor qualidade de Love Lies Bleeding – O amor sangra (2024), novo filme de Rose Glass, a mesma de Saint Maud.
O filme conta a história de Lou Lou, interpretada por Kristen Stewart, que conhece a aspirante a fisiculturista Jackie (Kate O’Brian). As duas começam a desenvolver uma relação que começa a ir ladeira abaixo quando a história da família de Lou Lou se soma aos efeitos dos anabolizantes em Jackie.
Em alguns momentos senti um pouco a onda da série Vingança Sabor Cereja (2021), tanto pela estética violenta nas cores e nos enquadramentos, quanto na tentativa de dar à perspectiva feminina – mas não de uma visão “de mulher” – o que seria pensar, planejar e executar, ou não, uma vingança.
E o mais interessante é justamente isso: uma tentativa de reelaboração de uma narrativa de vingança que tem se tornado cada vez mais comum no cinema, como no mal-sucedido Bela Vingança. No caso de Love Lies Bleeding, temos o investimento nas figuras de três personagens femininas: temos Lou Lou, a lésbica repleta de traumas do passado; Jackie, aquela que abandonou sua casa para procurar um sonho impossível onde vivia; e a irmã de Lou Lou, personagem que vive um relacionamento abusivo.
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Essa tríade, parece, amplia vontades e desejos desse arco amplo, infinito e ambivalente chamado “mulher” em relação ao que fazer diante de uma mesma situação: sofrer, agir ou aceitar? E é neste ponto em que a narrativa é mais bem sucedida.
Da metade para frente, o filme ganha toques de thriller com a estranha figura do pai de Lou Lou e a tentativa de se escapar de um crime, abrindo espaços, inclusive, para um flerte com o fantástico, cena que muitos vão achar risível(e é), mas que faz todo sentido na lógica narrativa que brinca com os efeitos brutais dos anabolizantes e a própria história do cinema (por que não uma She-Hulk?)
No mais, é um filme que entretém e diverte, que discute temas importantes e, como disse no começo, sabe ser contemporâneo na medida certa. Como numa escola de tiro, aprende a atirar com as armas do seu próprio tempo e acerta. Love Lies Bleeding – O Amor Sangra (2024) deixa um gostinho de quero mais e isso já é muita coisa hoje em dia.