Baghead: A Bruxa dos Mortos (2023): o terror é uma propriedade privada e íntima 

A história de Baghead começa com uma cena de maldição antiga típicas de filmes de terror. O mistério está lançado. Depois disso, entramos em contato com Iris (Freya Allan), uma jovem menina que invade a própria casa de onde foi expulsa para buscar suas coisas. Sem família, sem abrigo e sem ter como sustentar, uma amiga lhe oferece companhia. 

Velozmente, a cena corta para um sujeito mais velho que mora em uma velha casa com um bar vazio, fechado, meio em ruíinas. Esse homem – que descobriremos ser pai de Isis – recebe a visita de um sujeito atormentado que deseja ver sua ex-esposa através de um espírito que mora no porão. A partir daí o destino faz com que Isis herde a casa do pai e as histórias do passado se entrecruzam com o presente. 

A primeira coisa que me chama atenção na história de Baghead, embora isso não seja novidade, é como os assombros, as maldições, as bruxas e os demônios dos filmes de terror são estritamente seres da propriedade ou da intimidade. Via de regra, são filhos, pais, mães ou avós atormentados durante séculos. Via de regra, eles habitam casas, prédios, fazendas que existem por séculos e foram sendo herdadas por diversas outras famílias. 

Isso veio até mim durante o filme porque Isis é uma jovem com uma série de problemas sociais bastante graves. Durante um fala, ela chega a dizer que viveu e cresceu em um abrigo. Ela está sem casa e sem dinheiro. Ela perdeu a mãe cedo, vive sendo despejada, não tem contato com o pai e interrompeu os estudos, porém o que assombra não são questões sociais, mas justamente aquilo que seria próprio de seu progenitor: é o seu pai quem lhe traz, ao mesmo tempo, a maldição e a benção. E o espírito que vive no porão da casa só poderá ser enfrentado se ela enfrentar também seu passado, seu pai e seus próprios espíritos. 

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Em termos técnicos, Alberto Corredor faz um filme de terror até bastante corajoso que nos mostra realmente a face do mal que assombra, sem medo de monstros, mulheres pálidas, seres que se arrastam pelas paredes ou sustos repentinos. Ele também não tem medo de uma trama íntima, com poucos personagens e que gira entorno de fantasmas externos e internos. A Bruxa dos Mortos também não tem medo ir até o fim nas próprias propostas, o que é um grandessíssimo mérito. 

Por fim, podemos dizer que “Baghead: A Bruxa dos Mortos” é um gostosinho entretenimento assustador que não deixa de refletir, espelhar ou desdobrar questões muito contemporâneas. E embora o papel não seja realmente discorrer sobre nenhuma delas, só de tudo isso aparecer dentro de um filme já é excelente e torna tudo mais real e mais palpável para se ver. 

Veja o trailer do filme aqui:

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