Os Rejeitados (2024): nem tão atrapalhado, mas com certeza divertido

“Atrapalhado e divertido” é como se descreve, e por se tratar de uma comédia, toda vez que leio “atrapalhado” já me ocorre “pastelão”. Mas longe disso. Aqui ‘entre nous’, Os Rejeitados, filme de Alexander Payne conquista e é perfeito para o clima de fim de ano. Já no início da projeção fui surpreendida positivamente ao ver a vinheta antiga da Universal ambientando o filme que se passa nos anos 70, na verdade se passa em 1970 especificamente. O ruído do som e os defeitos visuais que dão o efeito de quem está assistindo a um VHS foram o ponto alto, além da introdução da história com a trilha melancólica no violão com imagens de ambientação que nos colocam dentro do filme.

A sensação vendo Os Rejeitados é de estar assistindo a um clássico da sessão da tarde em época natalina, como “Esqueceram de mim”, tanto pela narrativa quanto pela montagem, que usa de artifícios que se encaixam perfeitamente nessa memória afetiva.

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O rabugento professor de antiguidade (se é que o descreveria desta forma, porque com certeza ele teria um adjetivo muito melhor para se auto descrever) precisa ocupar o papel de tutor dos alunos que ficaram na escola durante as férias escolares de fim de ano. Desta forma temos a velha história do tutor e o aprendiz, onde, vocês sabem, o tutor também aprende com o aprendiz. Uma história conhecida, mas com muito bom humor, um drama que não se estende, mas é presente e preciso, luto e relacionamentos interpessoais. Por mais que seja previsível nos simpatizamos com os personagens e rimos alto em várias cenas (bom, pelo menos o amigo ao meu lado na sala do cinema riu, bem, bem alto).

Deixo destaque aqui para as atuações impecáveis de Paul Giamatti e Da’vine Joy Randolph que mereceram seus Globos de ouro. Paul por dar vida a este personagem caricato, completamente intransigente, intelectual, que tem características muito especificas como um olho de vidro, uma doença que o faz ter um odor fétido e fazer sempre analogias do presente com histórias da antiguidade. E Da’vine Joy Randolph que interpreta uma mãe que acabou de perder seu filho para a guerra, rigorosa, firme, de origem humilde que contrapõe o cenário cheio de filhos de ricos mimados, consciente e enlutada, passando pela maior dor de todas, mas sem exageros.

Há cenas muito compatíveis com a realidade onde essa dor que ela sente extrapola seus limites e aí que o filme ganha densidade. Existe também aquela moral sobre as diferenças de classe que não fica taxativo, muito pelo contrário, é necessário. Já que absurdo como as bolhas se comportam e é preciso estar na pele de uma pessoa com outra realidade para que haja empatia e consciência, para dizer o mínimo.

Assista ao filme com o propósito de se divertir, apenas. Bom filme!

Saiba mais sobre o filme aqui!

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