Você sabe o que é poesia ecfrástica? Conheça a arte poética de Luciana Moraes

Tentei chegar aqui com estas mãos: Um mergulho na correnteza da poesia ecfrástica de Luciana Moraes

Tentei chegar aqui com estas mãos é o livro de estreia da escritora carioca Luciana Moraes, que tem como base a poesia ecfrástica, uma linguagem poética que conecta o texto à experiência estética de determinadas obras de arte visuais: seus poemas dialogam, assim, com quadros e esculturas, abrindo esta ponte entre duas diferentes formas de expressão.

A écfrase na contemporaneidade vem a ser entendida como um texto escrito a partir da experiência estética do/da poeta diante de uma obra de arte, explica no prefácio a professora Carla Miguelote, da Unirio.

A escrita singular e por vezes “desenhada” de Luciana, que compõe seus poemas com grande visualidade e liberdade — deixando de lado regras e convenções —, demonstra, segundo ela, um “amálgama de sensações do corpo feminino pulsando entre euforia, dor, lapsos e rememoração do tempo”.

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Tentei chegar aqui com estas mãos é dividido em duas seções: “Diálogos Ecfrásticos”, cujos poemas aludem aos quadros de Frida Kahlo, Egon Schiele, Portinari e muitos outros, além de trazer uma sub-seção especial para experienciar — em versos — as obras pictóricas de Clarice Lispector (autora de diversos quadros); já na segunda parte, “Cotidiano Tocado à Espreita”, os poemas provocam o leitor a sentir o cotidiano, com atenção ao que as coisas, das mais ínfimas às mais imensas, têm a dizer.

O livro está disponível no site da editora Isto Edições, em outras plataformas online e em livrarias parceiras. Nas capas internas a edição traz as obras que se relacionam com os poemas da primeira seção — 31 imagens de obras ao todo.

Para comprar o livro, acesse o site:
www.istoedicoes.com.br

Veja dois exemplos de poesia ecfrásica através de dois poemas do livro:

Não propriamente sobre o vírus /

Parir azuis sem o Último A

Vida,

Lá_Bios grandes pra te perceber

abrindo e fechando, nada

na correnteza do rio e do mar

Já La_vei mãos demais, tudo

E flechas solapavam

uma v(e)Ia (in)sustentável

Se isto não fosse um delírio

Mãos outras cuidando do ar

sustentam o abdômen

Abrigo energético

quando esteve ereta

Um caminho que escorre

Natural passagem, sorve

Avalanche de dias e fragmentos

sem previsão do tempo

para nos regar os planos

Recuos, apenas na dança

E atravessaríamos

as grandes espirais

como contadores de histórias

Arrebatados por uma gota

de sangue

[O poema dialoga com a obra Nude with Blue Stockings, Bending Forward (1912), de Egon Schiele]

Rosa do Campo

Para dizer descoberta saia da sala rosamarela> Secante reta se tisna perdida + convide a chegada

do tupi <

Para dizer eureca tome em sua mão a geografia

do átimo

da

última

rosa

do

campo

que

.

[O poema dialoga com a obra Fairfield pink (1951), Mary Abbott.]

Sobre a autora:

Luciana Moraes (1993) é poeta carioca, graduada em Letras pela Unirio. Atualmente, integra a equipe do portal “Fazia Poesia”, o coletivo “Escreviventes” e atua como revisora literária. Participou do coletivo “Oficina Experimental de Poesia” (2017-2018).

Sobre a editora:

A Isto Edições é uma editora independente do Rio Grande do Sul que foi criada com a ideia de publicar livros de poesia tanto brasileira quanto estrangeira, com destaque para a poesia contemporânea e livros de poetas mundiais inéditos no país.

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