Monteiro Lobato: O “Editor Revolucionário”

Monteiro Lobato

Pouca gente sabe, mas Monteiro Lobato foi mais do que um grande escritor. Ele é considerado por muitos como um “editor revolucionário”, já que, durante mais de duas décadas, editou e lançou diversos livros de forma inovadora para a época. 

A história de Lobato como editor

As livrarias, no final do século XIX, passaram por uma crise financeira e, por isso, publicou-se pouco. Mas, nas duas décadas iniciais do século XX, o nicho de livros didáticos cresceu, principalmente na cidade de São Paulo. É nesta época que Lobato começou sua caminhada como editor.

Já conhecido do mundo literário, principalmente por sua obra Urupês, ele começou a editar livros em 1918, na seção de Obras de O Estado de São Paulo e na Revista do Brasil, este último do qual era diretor e, posteriormente, dono. Ali, percebeu que existiam muitos poucos pontos de venda de livros no Brasil, e buscou aumentá-los, aumentando de 30 para 200 livrarias. 

Além disso, escreveu para todos os agentes postais do Brasil solicitando o nome de bancas de jornais, papelaria, farmácias e armazéns que pudessem vender os seus livros, aumentando para 2 mil distribuidores. Também publicava livros de diversos amigos, como José Antonio Nogueira, Ricardo Gonçalves e Lima Barreto.

Em 1920, formou a Monteiro Lobato e Cia., com Octalles Marcondes Ferreira, que teve o capital ampliado, em 1922. Em 1924, criou a sociedade anônima Cia. Ghaphico-Editora Monteiro Lobato, expandindo os negócios em um prédio que possuía 5 mil metros quadrados, 197 operários, entre homens e mulheres, e uma estrutura moderna. 

Capa do catálogo geral da Cia. Ghaphico-Editora Monteiro Lobato

Porém, após uma série de problemas econômicos, a empresa teve que solicitar falência. Ainda não derrotado, mesmo depois de perder muitos bens criou, também com Octalles, em 1926, a Cia. Editora Nacional, permanecendo até 1929, quando vendeu suas ações para o sócio.

Um editor revolucionário?

Em 1943, em entrevista à revista Leitura, Lobato afirmou ter sido um revolucionário nos métodos empregados, que seriam apontados por ele como:

A criação de uma rede nacional de distribuição de livros

Como comentamos, Lobato criou um sistema de difusão de livros, que enviava os títulos para diversos cantos do país, em jornais, papelarias, farmácias ou armazéns que pudessem estar interessados em vender livros, somando até dois mil pontos de venda. Isso era uma novidade no Brasil, que até esse momento só vendiam livros em livrarias.

O pagamento de direitos autorais

Diferente da maioria das editoras, os direitos para os autores eram financeiramente dignos, sendo pagos muitas vezes antes da publicação da obra. E o interessante é que Lobato pagava esse valor tanto para autores renomados, como para novos autores.

A renovação gráfica dos impressos

Lobato também diversificou a própria edição dos livros. Ele ficaram mais limpos e claros, com uma nova diagramação. Já as capas se tornaram mais modernas, oferecendo ilustrações e cores berrantes, para chamar a atenção do público. Em 1919, começou a importar o papel e criou sua própria oficina gráfica. Em uma carta de 22 de fevereiro deste ano, Lima Barreto escreveu “Estamos montando oficina e logo podemos iniciar edições decentes”.

Com isso, ele introduziu um novo formato no Brasil, 16,5 x 12 cm, o tamanho aproximado de um folheto de cordel. Essa modificação, juntamente com o menor custo unitário, pela produção em maiores tiragens, permitiu a redução do preço do livro.

As inovações publicitárias

Segundo o historiador Laurence Hallewel, Lobato revolucionou mais um setor do mundo editorial: o publicitário. Se muitos livreiros consideravam indigno publicar propagandas nos jornais, Lobato não se importou em divulgar, em uma página inteira, o livro A menina do narizinho arrebitado, em 1921. Afinal, para ele, se os editores queriam vender livros como sabão, deveriam ser anunciados da mesma forma. 

Conheça mais sobre Lobato clicando no vídeo abaixo!

Conhecia algumas dessas curiosidades sobre Monteiro Lobato? Conhece mais alguma? Compartilhe com a gente!

Referências

O Livro no Brasil – Laurence Hallewell

Monteiro Lobato: editor revolucionário? – Cilza Carla Bignotto. In: BRAGANÇA, Aníbal; ABREU, Márcia. Impressos no Brasil: dois séculos de livros brasileiros. São Paulo: Editora Unesp, 2010

Indicações de leitura

Figuras de autor, figuras de editor: As práticas editoriais de Monteiro Lobato  – Cilza Carla Bignotto

Monteiro Lobato, livro a livro: obra adulta – Marisa Lajolo (Org.)

Monteiro Lobato – o Editor do Brasil – Cassiano Nunes

Site: https://www.lobato.com.vc/

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