“Língua Nativa”: sci-fi feminista se alia a Conto de Aia contra mundo masculinista

Como seria nossa sociedade se, daqui alguns anos, a economia mundial dependesse das transações intergaláticas entre humanos e extraterrestres? Esqueça boa parte do que você já viu sobre ficção científica e embarque comigo em Língua Nativa, de Suzette Haden Elgin.

Veja a resenha em vídeo pela Babi Kosloff. Prefere em texto? Então só descer um pouquinho mais!

Língua Nativa é um livro de 1984, publicado pela Editora Aleph aqui no Brasil, e se enquadra no que chamamos de ficção especulativa, ou seja, narrativas que especulam um passado, presente ou futuro, em um universo que já conhecemos ou não, podendo abranger diferentes gêneros literários.

Neste caso, vamos para uma sociedade entre final de 2100 e começo de 2200 em que o direito feminino ao voto e sua participação política é zero. As mulheres são consideradas úteis apenas em cargos específicos, mas sempre subordinadas aos homens. Se você assistiu ou leu O Conto de Aia, é tipo essa atmosfera mesmo que você está pensando. Aliás, ambas histórias foram lançadas no fervor político e feminista estadunidense dos anos 80.

Voltando ao livro, as mulheres só seriam úteis quando descendem de uma linhagem de linguistas e que atuam como mediadoras da língua humana e extraterrestre para as transações econômicas e políticas. Sua participação, claramente, vai além da língua em si, uma vez que a língua é uma extensão da linguagem e comunicação, portanto um conhecimento cultural daquilo que está sendo exposto. Como boas conhecedoras da comunicação, algumas mulheres resolvem criar uma nova língua, que apenas elas podem se entender. Essa língua se chama láadan e foi, genialmente, criada de verdade pela autora do livro.

Leia também: “Língua nativa”: clássico do sci-fi feminista de Suzette Haden Elgin

Acompanhamos três narrativas interligadas, sendo a primeira a história principal, do nascimento do láadan, a segunda é uma tentativa do governo de quebrar o monopólio das linhagens de linguistas e a terceira linha é de uma mulher não linguista que resolve trilhar um caminho vingativo a partir de um trauma que viveu. Essas três narrativas se cruzam, dando vida à este livro inteligentíssimo que é Língua Nativa.

Eu achei que amaria este livro e amei. É de uma escrita tão tão tão profunda e inteligente, uma sociedade como parece ser a nossa, mas especulando esse futuro em que a organização social está completamente diferente. Foi um soco em cada capítulo, porque é como as mulheres são vistas desde sempre: apenas reprodutoras, esposas, mães, terapeutas, mas elas se organizam, fazem um trabalho de base, estudam e vão pra cima.

O livro também é bastante atual em tecnologia futurista, ou seja, não senti defasagem, o que auxilia bastante na imaginação. E a problematização da binariedade da língua e como ela foi moldada para a realidade masculinista, que é simplesmente genial.

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