Neste breve romance em que a atmosfera onírica se mescla à transcendência, um homem começa a dirigir sem rumo e, desconhecendo as próprias motivações, conduz seu carro até uma floresta. Logo escurece e começa a nevar. Obedecendo à lógica trágica e misteriosa que opera nos pesadelos — ou no encontro inescapável com o destino —, em vez de procurar ajuda, ele decide se aventurar pela mata escura, onde se depara com um ser de brancura reluzente.
Como as vozes que o protagonista escuta em sua errância, tudo nesta breve narrativa é ao mesmo tempo estranho e excessivamente familiar. Num jogo de claro e escuro, concreto e sublime, Jon Fosse tensiona a escrita num fluxo de consciência que escala depressa para uma voltagem inesperada, tragando o leitor e fazendo-o experimentar fisicamente a radicalidade de seu projeto literário.
Considerado um dos maiores escritores europeus da atualidade, frequentemente comparado a Beckett, Ibsen e Bernhard, Fosse é dono de uma vasta obra que se debruça sobre questões existenciais como a morte, o amor, a fé e o desespero. Sua escrita é construída de modo a replicar o ritmo e a repetição de uma oração, e a precisão obsessiva de seu trabalho fez com que ele ultrapassasse os limites do estilo para forjar algo próximo de uma nova forma literária, na qual a relação com a metafísica vai além do conteúdo, inscrevendo-se também na composição formal. Por isso, a experiência de ler seus livros é comparável à da meditação.
A singularidade da voz de Fosse também se deve ao fato de que ele é um dos poucos autores a escrever em neonorueguês, ou nynorsk — variante minoritária da língua, uma compilação de dialetos falados sobretudo na costa da Noruega e criada em meados do século 19, durante o nacional-romantismo.
Brancura é a primeira obra de Jon Fosse após Septologia, o monumental romance que o consagrou como um clássico contemporâneo. Meticulosamente traduzido por Leonardo Pinto Silva, que soube preservar o lirismo e a oralidade do idioma original, esta breve narrativa é uma excelente porta de entrada para a literatura do maior autor norueguês vivo e uma experiência literária única.
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Leia um trecho de Brancura:
“Está tão escuro agora […] e bem na minha frente avisto a silhueta de alguma coisa que parece uma pessoa. Uma silhueta luminosa que se torna cada vez mais nítida. Sim, um contorno bem perceptível no escuro, na minha frente. Que estaria distante ou perto de mim. Não sei dizer com certeza. É impossível dizer se está perto ou longe. Mas está lá. Uma silhueta branca. Brilhante. Acho que ela vem caminhando na minha direção. Caminhando é modo de dizer. Porque caminhar ela não caminha. Ela apenas se aproxima, cada vez mais. A silhueta é completamente branca. Agora percebo nitidamente. Que é branca. A brancura.”
Sobre o autor:
Jon Fosse nasceu em 1959 na Noruega e recebeu inúmeros prêmios, tanto em seu país quanto no exterior. Estreou em 1983 com o romance Raudt, svart. Desde então, tem se aventurado por diversos gêneros: romance, poesia, conto, ensaio, literatura infantil e teatro — com mais de quarenta peças encenadas em cinquenta idiomas —, além de traduzir literatura estrangeira para o norueguês. Brancura foi finalista do National Book Award.