Ainda no ano passado, a filósofa e escritora Sueli Carneiro recebeu o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Brasília (UnB). Essa foi a primeira vez na história da UnB que uma mulher negra recebeu o reconhecimento.
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Ela é doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), fundadora e diretora do Geledés: Instituto da Mulher Negra, organização da sociedade civil que atua em defesa de mulheres e negros. Considerada uma das mais relevantes intelectuais do feminismo negro brasileiro, é também ativista do movimento antirracista e defensora dos direitos humanos. Defendeu o sistema de cotas para o ingresso de estudantes negros e indígenas na UnB, quando o STF discutiu a medida. Além disso, participou do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Cidadania da mesma instituição.
Esse título é dado a pessoas com “relevante projeção nacional ou internacional, que tenham contribuído de modo notável, para o progresso das Ciências, Letras, Artes ou Cultura em geral e/ou que tenham beneficiado de forma excepcional à humanidade ou o país”, conforme a instituição. “Com esse gesto, a UnB dá mais uma demonstração de reconhecimento do valor da diversidade para a construção do conhecimento e de seu empenho no combate ao racismo. Eu me orgulho da decisão tomada pelo Consuni. Fará parte das comemorações dos 60 anos da Universidade”, disse a reitora.
“É um título que recebo com a humildade de quem o compreende como o reconhecimento da justeza das lutas de mulheres e homens negros que clamam por um novo pacto civilizatório que desaloje os privilégios consagrados de gênero e raça que o experimento colonial forjou em todas as dimensões da vida social”, afirmou. “Significa o reconhecimento da legitimidade desses discursos e atos que protagonizamos, produzidos por lágrimas insubmissas. É o reconhecimento dessa escrevivência, que ‘não é para adormecer os da casa grande, e sim para incomodá-los em seus sonhos injustos’, como apontou nossa magistral escritora Conceição Evaristo”, destacou Sueli em seu discurso na cerimônia.
A pensadora já recebeu outros reconhecimentos ao longo de 20 anos, entre eles: Prêmio Bertha Lutz, Menção honrosa no Prêmio de Direitos Humanos, Prêmio de Direitos Humanos da República Francesa, Prêmio Itaú Cultural 30 anos e Prêmio Especial Vladimir Herzog. Estão entre alguns títulos publicados: Mulher negra (1985), Escritos de uma vida (2018), Racismo, Sexismo e Desigualdade no Brasil (2011), entre outros.