Depois da formatura dos indígenas dos povos Guajajara, Krikati, Gavião e Kanela pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e dos Yanomamis pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), agora foi a vez dos indígenas do Vale do Javari pela Universidade Estadual do Amazonas (UEA). A primeira turma de 33 indígenas dos povos Matis, Mayoruna, Marubo e Kanamari concluiu este mês o ensino superior em Pedagogia – Licenciatura Intercultural Indígena.
Leia também: Universidade Estadual do Maranhão forma a primeira turma de professores indígenas
Os formandos iniciaram o curso em 2016, mas desde 2001 dedicam-se a atividades do magistério. Em 2001, eles fizeram parte do projeto Pirayawara, uma formação para professores indígenas, habilitando-os para atuar nas escolas das suas comunidades. Com previsão de duração de 4 anos e meio, o curso levou mais de uma década para ser concluído.
Por isso, para alcançar o tão aguardado sonho da graduação, foram 21 anos de espera e estudos, enfrentando desafios como a falta de políticas públicas, a distância e o transporte. Hoje, no entanto, comemoram uma vitória histórica na luta pela educação indígena no território.
“Para nós, é um sonho se formar, ter esse conhecimento e passar para o nosso povo. A gente poder mostrar o que é isso para eles, correr atrás dos nossos direitos e ver os nossos deveres”, disse a professora Maria Magalhães, formanda do povo Kanamari, em entrevista.
Eles já trabalham na educação infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental como professores em 48 escolas municipais distribuídas na localidade. Com a conclusão do curso, podem trabalhar também como assessores pedagógicos representando seu povo nas sedes das secretarias do município de Atalaia do Norte.
“São os alunos do nosso curso que estão ocupando esses espaços, então é uma quebra de paradigmas se nós considerarmos que muito recentemente a maior parte dos espaços da educação escolar indígena no Vale do Javari eram ocupados por professores não indígenas num período anterior por missionários, por religiosos”, destacou o professor Luciano Cardenes.
A formatura da turma estava prevista para junho de 2022, mas teve que ser adiada em decorrência do assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. De acordo com a coordenadora Célia Bettiol, quando Bruno atuava como servidor na Fundação Nacional do Índio (Funai) apoiou o trabalho e articulou junto ao órgão ações que possibilitaram a implantação do curso.
A cerimônia de colação de grau dos estudantes contou com a participação da vice-reitora, professores, coordenadores e autoridades locais.