“Fragmentos completos”, reúne os principais escritos de Anacreonte, o poeta lírico da Grécia antiga
Um dos principais poetas líricos da Grécia antiga, ao lado de Safo, Píndaro e outros, Anacreonte nasceu na cidade de Teos, no século VI a.C., viveu em Samos e Atenas e conquistou enorme fama ainda em vida, cantando como nenhum outro os prazeres do amor e do vinho. Segundo testemunhos antigos, sua obra era vasta, distribuída em cinco livros, dos quais sobreviveram apenas fragmentos.
“Eu quero, eu quero enlouquecer.” “Eu quero, eu quero amar alguém.” “Eu quero beber e dançar!” “Quero ser jovem contigo.”
Anacreonte
Esta é a primeira reunião em língua portuguesa da totalidade desses fragmentos, bem como das Anacreônticas, o corpus de poemas tardios, anônimos, feitos em sua homenagem ou imitando seu estilo, e celebrados ao longo dos séculos por poetas-tradutores como Lord Byron e Almeida Garrett. Nuns e noutros, alternam-se os temas da brevidade da vida e da necessidade de desfrutá-la (carpe diem), da paixão homo e heterossexual, do jogo erótico, da leveza e do antibelicismo, entre outros sentimentos insuflados por Baco e Afrodite. Também recorrente é a imagem do poeta já velho que, apesar dos cabelos brancos, não se furta aos prazeres, antes os procura com ainda mais avidez.
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Responsável pela tradução e apresentação da obra, Leonardo Antunes, professor de língua e literatura grega na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tece também comentários detalhados a cada poema ou fragmento, indicando suas fontes, interpretando-os e elucidando as opções de tradução, sempre lastreadas pelo rigor do pesquisador acadêmico e pela sensibilidade do tradutor que é também músico e poeta.
Na orelha do livro, André Malta conta que as poesias de Anacreonte “revelam uma importante vertente da produção literária grega antiga: a que se concentra nos prazeres do amor e do vinho. Diferentemente de outras poesias breves suas contemporâneas, com as quais às vezes confina, voltadas para o riso zombeteiro (como a de Arquíloco), o sofrimento amoroso (como a de Safo) ou a reflexão mais pessimista sobre a efêmera condição humana (como a de Mimnermo), esta traz em seu centro a leveza do hedonismo insuflado por Afrodite, a deusa do desejo, e Dioniso, o deus da bebida.
E, em meio a essa temática tradicional que se destaca a imagem do homem de cabelos brancos disposto a “brincar”, paízein em grego, verbo que significa “agir como criança”, “divertir-se”, mas que nesse tipo de canção adquire também conotação sexual. Trata-se de uma espécie de representação interna do próprio Anacreonte, idoso que, apesar da passagem do tempo (ou por causa dela), também deve se entregar ao gozo”, conclui Malta.
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Quem foi Anacreonte?
Segundo a tradição, Anacreonte, poeta do amor e do vinho, nasceu na cidade jônia de Teos, na Ásia Menor, por volta da metade do século VI a.C. Por conta dos ataques de Harpago, general de Ciro, contra as cidades gregas da região, os habitantes de Teos se viram obrigados a fugir, tendo rumado para a Trácia, onde fundaram Abdera em 540 a.C.
Anacreonte depois passou pela corte do tirano Polícrates, em Samos (533-22 a.C.), e por Atenas em seguida, à época governada pelos dois filhos de Pisístrato, quando possívelmente conviveu com Simônides, outro importante poeta lírico do período. A obra de Anacreonte foi compilada posteriormente, no período helenístico, em cinco volumes. Desses cinco volumes, restam-nos alguns poemas em estado mais ou menos fragmentário, além de um corpus mais amplo de poemas tardios, feitos à sua moda, ou em sua homenagem, conhecidos como Anacreônticas.
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Sobre o tradutor:
Leonardo Antunes (São Paulo, 1983) é poeta, tradutor e professor de língua e literatura grega na UFRGS. É autor de João & Maria: dúplice coroa de sonetos fúnebres (Patuá, 2017), que recebeu os prêmios AGES (melhor livro de poesia) e Açorianos (melhor livro de poesia e livro do ano), Lícidas (Zouk, 2019) e Casa dos Poetas (Zouk, 2021). Tradutor do Édipo Tirano de Sófocles (Todavia, 2018), atualmente dedica-se a uma tradução da Ilíada e da Odisseia de Homero em decassílabos duplos.