O romance de 1980 de Umberto Eco, O nome da rosa, gira em torno da vida em um mosteiro beneditino durante o século XIV, no qual houve as mortes suspeitas de sete monges. Ao final da história, descobre-se que a causa da morte foi a leitura de um volume da Poética, de Aristóteles, que se dedicaria à comédia (sendo a existência desse livro apenas fictícia). No período da Idade Média em que se passa a história, sabe-se, o riso era tido como um pecado: por isso, a obra de Aristóteles teve suas páginas envenenadas para que, o leitor, quando umedecesse os dedos para virá-las, ingerisse o veneno.
Algo parecido foi descoberto na Universidade do Sul da Dinamarca: três livros raros da coleção de História da universidade foram encontrados com uma quantidade considerável de arsênico nas suas capas. Datados do século XVII e XVIII, os livros foram levados para o laboratório por conta de uma descoberta de que suas capas foram feitas de fragmentos reciclados de manuscritos da lei romana.
Nos séculos XVI e XVII, era comum que a encadernação de livros costumava ser reciclada de pergaminhos antigos. Os pesquisadores da universidade dinamarquesa declararam no site The Conversation que tentaram identificar os textos em latim dos quais foram feitas as capas dos livros encontrados, mas foi descoberto que essas continham uma extensa camada de tinta verde que obscurecia os manuscritos. uma análise feita com o micro raio X fluorescente detectou que essa camada consistia em arsênico, um dos elementos químicos mais tóxicos do mundo.
Os pesquisadores supõem que o arsênico encontrado no livro, entretanto, não tinha como objetivo envenenar leitores de livros “subversivos”; até o século XIX, a tinta verde com doses de arsênico era comum e não era conhecida sua toxicidade. Por muito tempo, o arsênico era considerado seguro a ponto de pessoas usá-lo para tingir selos (que eram feitos para serem lambidos) e vestidos.
Somente no século XX que os cientistas descobriram o potencial mortal da inalação do gás. Os pesquisadores da universidade suspeitam de que a tinta encontrada nos livros era utilizada para protegê-los de insetos e vermes.
De qualquer forma, o perigo para a saúde de quem os manuseia é uma realidade, uma vez que as 3 peças foram isoladas num local ventilado e serão digitalizadas assim que possível de modo a minimizar o seu manuseamento.