“Sobre a profissão do ator”, de Bertolt Brecht, edição inédita para conhecer o teatro épico

SOBRE A PROFISSÃO DO ATOR, de Bertolt Brecht, é lançado pela primeira vez no Brasil e fala sobre a interpretação no teatro épico

Sobre a profissão do ator, até agora inédito em nosso país, é um livro que vai trazer uma grande contribuição para a formação dos profissionais do teatro no Brasil, e em especial para as montagens de Brecht entre nós. Em mais de sessenta textos curtos, esclarece muitos pontos sobre como um dos mais inovadores dramaturgos da história entendia o modo de atuar no teatro épico. Sobretudo quanto ao famoso efeito de distanciamento, que até hoje gera dúvidas em atores, encenadores e público. Na ausência desse procedimento, as encenações podem ficar apenas no plano moral das boas intenções e não alcançar o nível estético-político imaginado por Brecht.

Sobre a profissão do ator tem escritos de extensão e natureza diversa. E alguns deles possuem força para se sustentarem sozinhos, como o fundamental “Breve descrição de uma nova técnica de atuação que produz um efeito de estranhamento” ou os extraordinários perfis dos atores Jean Mercure (“Um velho chapéu”) e Helene Weigel (“Descida de Weigel à glória”). Mas o que imanta o conjunto, sem torná-lo um receituário dogmático, é a experiência prática de Brecht em diferentes situações e com atores os mais variados.

Concebido por Werner Hecht, um dos organizadores das obras completas do escritor, Sobre a profissão do ator ganha nesta edição brasileira uma esclarecedora introdução e notas elaboradas por Laura Brauer e Pedro Mantovani — estudiosos que, além de lastreados pela prática teatral, fizeram pesquisas em arquivos e bibliotecas alemães. Completa o volume um conjunto de fotografias selecionadas a partir de Trabalho teatral (1952), precioso documento do processo de trabalho brechtiano nas encenações com o Berliner Ensemble.

Bertolt Brecht e o teatro épico pra ator

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Sobre o autor


Bertolt Brecht nasceu em Augsburg, na Alemanha, em 1898. Em 1917 muda-se para Munique, onde se matricula no curso de Medicina, mas já no ano seguinte estreia como autor teatral com a peça Baal. Em 1922 sua peça Tambores na noite ganha o Prêmio Kleist. Nessa época conhece a atriz Helene Weigel, que se tornaria sua companheira de toda a vida. Em 1924 transfere-se para Berlim, onde trabalha no Deutsches Theater até 1926. Nesse ano publica seu primeiro livro de poemas, o Manual de devoção de Bertolt Brecht. Em 1928 sua Ópera dos três vinténs alcança grande sucesso de público e crítica. O incêndio do Parlamento alemão em 28 de fevereiro de 1933 assinala a tomada do poder pelo nazismo; Brecht foge de Berlim no dia seguinte e dá início a um périplo por vários países na condição de exilado: Tchecoslováquia, Áustria, Suíça, França, Dinamarca, Suécia, Finlândia, União Soviética e Estados Unidos. Entre 1932 e 1937, viaja e acompanha encenações de suas peças em Moscou, Paris e Nova York.

Em 1941, estabelece-se com a família em Santa Mônica, Califórnia, onde colabora em roteiros para Hollywood e escreve, entre outras, a peça O círculo de giz caucasiano. Em 1947, após depor para o Comitê de Atividades Antiamericanas, embrião do macartismo, Brecht decide voltar à Europa. Estabelece-se em Berlim Oriental em 1949, após ter sua permanência vetada na Alemanha Ocidental. Funda, com Helene Weigel, o Berliner Ensemble, grupo cujas montagens percorreriam o mundo e consagrariam Brecht como autor fundamental no teatro do século XX. Faleceu em Berlim, em 1956.

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Sobre o organizador


Werner Hecht (1926-2017) estudou com Hans Mayer e Ernst Bloch em Leipzig e escreveu sobre a trajetória de Bertolt Brecht em direção ao teatro épico. Em 1959, foi chamado por Helene Weigel para o setor de direção e dramaturgia do Berliner Ensemble, onde permaneceu até 1974, em grande medida se ocupando do contato com o público do teatro. Nos anos 1970 desliga-se do Berliner Ensemble e, a pedido de Weigel, inicia com Elisabeth Hauptmann o trabalho de edição dos escritos de Brecht, processo que culmina na publicação das obras completas do autor (Große kommentierte Berliner und Frankfurter Ausgabe), da qual foi um dos organizadores. Como pesquisador, publicou livros sobre o escritor alemão e Helene Weigel, e foi roteirista de diversos filmes, alguns deles sobre a vida e a obra de Brecht.

Sobre os tradutores

Laura Brauer é atriz, diretora e professora de interpretação. Especializou-se em Teatro Político. Estudou Teatro do Oprimido com Augusto Boal e a metodologia do trabalho do ator de Bertolt Brecht na Alemanha. Obteve bolsas da Secretaria de Cultura Argentina, do Goethe Institut e do International Theater Institut (ITI) para realizar pesquisas acerca do trabalho de direção e atuação de Brecht em Berlim. Nessa cidade, participou de cursos de atuação e direção na Escola Ernst Busch e realizou experiências com teatro documentário no Berliner Festspiele. Realizou diversos trabalhos teatrais vinculados a estas propostas no Brasil, no Uruguai, na Alemanha, em Portugal, na Inglaterra e na Argentina, em instituições como presídios, escolas, organizações sociais e teatros.

Pedro Mantovani é professor, pesquisador, diretor de teatro e tradutor. Formado em filosofia e artes cênicas, realizou mestrado e doutorado sobre O declínio do egoísta Johann Fatzer, traduzindo essa peça inacabada de Bertolt Brecht, no Departamento de Filosofia da FFLCH-USP. Realizou pesquisa teórica no arquivo Brecht em Berlim. Desde os anos 2000, participou de diversos experimentos épicos com coletivos teatrais da cidade de São Paulo. Realizou trabalhos de investigação cênica prática na Argentina e no México. Deu aulas teóricas e práticas na Escola Livre de Teatro de Santo André, entre outras instituições.

Como sublinham Laura Brauer e Pedro Mantovani na introdução a esse volume, o modo de atuação proposto pelo dramaturgo alemão pode “estabelecer uma nova relação entre palco e plateia, que supera, em sentido forte, o ritual e a empatia, e transforma o teatro em um espaço no qual os assuntos tornam-se objeto de discussão graças a um trânsito entre cena e público fundado no que Brecht definiu como estranhamento (Verfremdung). Que não apassiva o espectador convertendo-o em consumidor, mas estimula a sua capacidade de demolir ilusões e enxergar acontecimentos sociais como processos históricos”.

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