Os 8 melhores poemas de Arseni Tarkóvski

Você conhece os 10 melhores poemas do poeta Arseni Tarkóvski? Arseny Tarkovski nasceu em 24 de junho de 1907, na cidade de Elisabetgrad (atual Kirovohrad). Cresceu em um ambiente artístico, filho de pais amantes da literatura e do teatro, que escreviam poemas e peças teatrais, que eram representadas em reuniões familiares.

Seu pai, Aleksandr Tarkovsky, o levava a saraus de poesia aos quais acorriam os mais importantes poetas da época. Todo esse intenso convívio com a literatura e com a poesia o levou a escrever, como se houvesse sido predestinado a tanto: “o destino ia atrás dele, como um louco com uma navalha na mão”.

A gente separou os 10 melhores poemas do poeta Arseni Tarkóvski que você precisa conhecer e ler!

VIDA, VIDA

Não acredito em pressentimentos, e augúrios
Não me amedrontam. Não fujo da calúnia
Nem do veneno. Não há morte na Terra.
Todos são imortais. Tudo é imortal. Não há por que
Ter medo da morte aos dezessete
Ou mesmo aos setenta. Realidade e luz
Existem, mas morte e trevas, não.
Estamos agora todos na praia,
E eu sou um dos que içam as redes
Quando um cardume de imortalidade nelas entra.

Vive na casa e a casa continua de pé
Vou aparecer em qualquer século
Entrar e fazer uma casa para mim
É por isso que teus filhos estão ao meu lado
E as tuas esposas, todos sentados em uma mesa,
Uma mesa para o avô e o neto
O futuro é consumado aqui e agora
E se eu erguer levemente minha mão diante de ti,
Ficarás com cinco feixes de luz
Com omoplatas como esteios de madeira
Eu ergui todos os dias que fizeram o passado
Com uma cadeia de agrimensor, eu medi o tempo
E viajei através dele como se viajasse pelos Urais

Escolhi uma era que estivesse à minha altura
Rumamos para o sul, fizemos a poeira rodopiar na estepe
Ervaçais cresciam viçosos; um gafanhoto tocava,
Esfregando as pernas, profetizava
E contou-me, como um monge, que eu pereceria
Peguei meu destino e amarrei-o na minha sela;
E agora que cheguei ao futuro ficarei
Ereto sobre meus estribos como um garoto.

Só preciso da imortalidade
Para que meu sangue continue a fluir de era para era
Eu prontamente trocaria a vida
Por um lugar seguro e quente
Se a agulha veloz da vida
Não me puxasse pelo mundo como uma linha.

* Tradução de Jefferson Luiz Camargo.

O VERÃO PARTIU

O verão partiu

e nunca devia ter vindo

será quente o sol

mas não pode ser só isto

tudo veio para partir

nas minhas mãos tudo caiu

corola de cinco pétalas

mas não pode ser só isto

nenhum mal se perdeu

nenhum bem foi em vão

à luz clara tudo arde

mas não pode ser só isto

agarra-me a vida

sob a sua asa intacto

sempre a sorte do meu lado

mas não pode ser só isto

nem uma folha se consumiu

nem uma vara quebrada

vidro límpido é o dia

mas não pode ser só isto

EURÍDICE

Temos um só corpo

singular, solitário

a alma teve que baste

ali dentro fechada

caixa com olhos e orelhas

do tamanho de um botão

e a pele – costura após costura –

cobrindo a estrutura óssea

sai da córnea voando

para o cálice celeste

para o gelado raio

da roda voadora das aves

e escuta pelas grades

da sua cela viva

o crepitar do bosque e da seara

e a trombeta dos sete mares

corpo sem alma é pecado

é um corpo sem camisa

nada feito sem intenção

sem inspiração, nenhuma linha

insolúvel charada:

quem no fim irá voltar

à pista de dança quando

ninguém houver para dançar?

sonhei com uma alma outra

de um modo outro vestida:

ardia na fuga

da timidez à esperança

espirituosa e límpida

como o fogo habita a terra

sobre a mesa pondo lilases

para que lembrada seja

corre, criança, não pares

pela pobre Eurídice

rola o arco e a gancheta

no mundo roda

até subires uma oitava

no tom alegre, e calma

porque a cada passo a terra

faz soar guizos nos teus ouvidos

* Traduções de Paulo da Costa Domingos, publicada na revista escamandro.

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Não acredito

Não acredito em presságios e maus agouros.
Não temo. De mentira nem veneno
Eu não fujo. Não há morte na Terra.
Todos são imortais. Tudo é imortal.

Não se deve
Temer a morte nem aos dezessete anos,
Nem aos sessenta. Existe somente o real e a luz,
Não há escuridão, não há morte neste mundo.
Estamos todos na beira do mar.
Eu sou daqueles que retiram as redes
Quando a imortalidade passa.

2

More na casa — a casa não cairá.
Eu evocarei qualquer um dos séculos,
Nele entrarei e uma casa construirei.
Por isso seus filhos estão comigo
E suas esposas estão à mesma mesa
— E a mesa é uma só para o bisavô
e o neto:
O futuro acontece agora
E se eu levanto a mão,
Todos os cinco raios ficaram com vocês.
Cada dia passado como escora.
Com minhas clavículas sustentei,
Medi o tempo com a corrente do agrimensor
E por ele passei como através dos Urais.

3


Escolhi um século à minha altura.
Fomos para o sul, levantamos poeira na estepe;
O capim fumegou; o grilo brincou,
Tocou as ferraduras com seu bigode e profetizou,
Ameaçou-me de morte como um monge.
Prendi meu destino à sela;
Também agora, em tempos futuros,
Como um menino levanto-me nos estribos.

Para mim a minha imortalidade basta,
Para meu sangue fluir de século em século.
Por um canto quente e seguro
Eu pagaria com a vida prontamente,
Quando sua agulha esvoaçante
Não me guiasse como uma linha pelo mundo.

Nas manchas da luz, no caos das linhas:
Encontrei-me como um irmão encontra um irmão:
O besouro festeja bem no miolo
Da rosa das quatro coordenadas.

Não sei quem sou e de onde vim,
Onde fui concebido — no paraíso ou no inferno —
Sei somente que por esse milagre
A minha imortalidade entrego.

Nada lembra a pátria
Remexendo as pétalas do universo
A quinta coordenada do mundo
É uma alma consciente.

Tradução de Zoia Prestes

Cai a noite

Cai a noite sobre as montanhas da Geórgia;

À minha frente ruge o Aragva.

Estou em paz e triste; há um lampejo em meus suspiros,

Meus suspiros são todos teus,

Teus, e de mais ninguém… Minha melancolia

Está insensível a angústias e apreensões,

E meu coração arde e ama mais uma vez,

Pois nada pode fazer além de amar.

Todo instante que passávamos juntos

Era uma celebração, uma Epifania,

No mundo inteiro, nós os dois sozinhos.

Eras mais audaciosa, mais leve que a asa de um pássaro,

Estonteante como uma vertigem, corrias escada abaixo

Dois degraus por vez, e me conduzias

Por entre lilases úmidos, até teu domínio

No outro lado, para além do espelho.

Enquanto isso o destino seguia nossos passos

Como um louco de navalha na mão.

Fonte:
https://www.escritas.org/pt/arseni-tarkovski
https://escamandro.wordpress.com/2012/09/03/arseny-tarkovsky/
http://www.antoniomiranda.com.br/poesiamundialportugues/arseni_takovski.html
https://deanimaverbum.weebly.com/de-anima-verbum/arseny-tarkovski-redes-repletas-de-imortalidade
https://anaveextraviada.blogspot.com/2016/05/tres-poemas-de-arseni-tarkovski.html

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