Poeta Cláudio Guimarães dos Santos lança coletânea sobre as metamorfoses ambulantes de sua vida e escrita

o poema, converto em permanente
A fugaz experiência do divino,
Em lucidez, o mistério do eterno, (…)
TEMPUS FUGIT

Cláudio Guimarães dos Santos considera que o termo “metamorfose ambulante” poderia, com algumas ressalvas, aplicar-se a ele, tendo em vista a diversidade e as múltiplas facetas da sua trajetória existencial. O poeta — que é médico, mestre em artes, doutor em linguística e, atualmente, diplomata de carreira —, atuou como professor e pesquisador na área das neurociências, expôs pinturas e esculturas nos principais museus de São Paulo e fez incursões no cinema. “Eu vivi intensamente cada uma dessas fases, que considero verdadeiras ‘encarnações’, mas a poesia esteve sempre presente — onipresente — desde a adolescência, e é ela que, no fim das contas, sintetiza, unifica e dá o sentido maior ao meu estar no mundo”, afirma o autor, que está lançando sua quarta coletânea de poemas, GAUGAMELA, pela editora Francisco Alves.

Muito embora o seu primeiro livro — “Definições Fundamentais” (Nhambiquara, São Paulo,) —, tenha sido lançado no Brasil, em 2014, foi no exterior — principalmente em Portugal e na Espanha — que Cláudio Guimarães dos Santos se tornou mais conhecido e respeitado. Como Chefe do Setor Cultural do Consulado do Brasil em Faro (Algarve), Cláudio maravilhou-se — assim como, no passado, o também diplomata João Cabral de Mello Neto igualmente surpreendera-se — com o meio cultural efervescente do sul de Península Ibérica e com as relações literárias, fluidas e numerosas, entre o Algarve e a Andaluzia (Espanha). E assim surgiu o seu segundo livro, “Coleção de Epifanias/Colección de Epifanías”, editado em Madri, em 2017, pela Editora Bohodón, obra bilíngue português-espanhol, com tradução do poeta andaluz Manuel Moya, considerado, atualmente, o melhor tradutor de Fernando Pessoa para o espanhol. A obra teve calorosa recepção da crítica e foi objeto de apresentações na Espanha, em Portugal e também no Brasil (em 2019). A terceira coletânea de poemas veio em 2018 — “Tempos Ocos/Temps Creux” — publicada em Coimbra, por Grácio Editor, em edição bilíngue português-francês, com introdução do ensaísta hispano-belga Jaime-Axel Ruiz Baudrihaye, prefácio do poeta francês François Luis-Blanc e nota do próprio editor.

Cláudio confessa que refletiu bastante antes de tomar a decisão de publicar a presente coletânea:

 “Relutei em lançar um livro em meio ao feroz embate ideológico-partidário que contamina, negativamente, as iniciativas culturais em todo o mundo, especialmente no Brasil. O Embaixador Renato Prado Guimarães, porém, grande amigo e apreciador do meu trabalho, acabou por convencer-me, argumentando que a poesia que escrevo é necessária ao nosso tempo, que ela é capaz de fazer com que as pessoas voltem a surpreender-se com o mistério da existência, com as epifanias que nos cercam e pelas quais passamos muitas vezes distraídos”.

Quase todos os 25 poemas de GAUGAMELA foram amadurecidos nos últimos dois anos e carregam, por isso mesmo, as marcas desses tempos difíceis, complexos e confusos. Na Apresentação incluída no livro, o professor Leandro Garcia afirma: 

“se uma das características do clássico é a permanência, creio que a máxima segundo a qual certos livros já nascem clássicos aplica-se perfeitamente à presente obra, pois ela permanecerá — não tenho dúvida — pela força e pela qualidade estética dos seus poemas, bem como pela profundidade das reflexões filosóficas que marcam cada um deles. Trata-se de característica que contrasta nitidamente com a irrelevância dos modismos literários, tão comuns em nossos dias, e dos quais Cláudio Guimarães dos Santos passa ao largo, construindo sua refinada poética de maneira consistente (…)”.

Sobre o título do livro

O título do livro — GAUGAMELA — também é o nome do poema que fala de uma batalha fundamental para a história da humanidade, na qual se opuseram Alexandre, o Grande, da Macedônia, e o persa Dario III. Trata-se, ainda segundo o professor Leandro Garcia, de um poema “caudaloso, complexo, narrativo, dramático, essencialmente épico. Nele, a presença da inspiração homérica é clara e benfazeja, bem como o são as heranças de Virgílio, de Dante e de Camões”. Inevitável a comparação desse crucial enfrentamento bélico, ocorrido em 331 a.C., com as tensões e conflitos — abertos ou velados — que marcam nossa época.

Outro poema que chama a atenção, quando pensamos na atualidade, é “Depois da peste”. Segundo o autor, esse poema, apesar de ter sido escrito durante a pandemia que assolou o mundo — e de ecoar, justamente por isso, esses momentos difíceis —, tem um foco simultaneamente mais amplo e mais restrito:

 “Nele, eu falo da superação de uma crise pessoal profunda, na verdade da superação de qualquer crise essencial, e é certamente por isso que os leitores se identificam tanto com ele”.

Quando a peste for embora,

Se, com ela, eu não partir,

Passarei alguns momentos

A contemplar o Nada,

Todos os dias.

(…)

Darei graças pela vida renascida,

Por ter preservado a lucidez

E a clareza concentrada da poesia,

Que perfura como um laser,

Que prescruta muito além dos fatos brutos,

Que consegue ler os signos mais herméticos

E elevar os corações de chumbo, (…)

Sobre o AUTOR: 

Cláudio Guimarães dos Santos nasceu em São Paulo. Formou-se médico pela Escola Paulista de Medicina/UNIFESP, tem mestrado em Artes pela Escola de Comunicações e Artes da USP e doutorado em Linguística pela Universidade de Toulouse-Le Mirail (França). Como articulista, colaborou com diversos veículos de comunicação no Brasil e no exterior, entre os quais o jornal Folha de São Paulo (seção “Tendências/Debates” – Página A3) e o jornal “Sul Informação” (Portugal). Como médico, trabalhou na área do diagnóstico e do tratamento de disfunções cognitivas relacionadas à memória e à linguagem. Realizou pesquisas nos domínios da neuropsicologia, da psicoterapia, da semiótica e da filosofia da mente, sempre com uma abordagem transdisciplinar. Como artista plástico, participou de diversas exposições em SP. Escreveu e dirigiu o filme “O Atentador”, um longa-metragem em Super-8, nos anos 1980. É diplomata de carreira desde 2010 e já serviu no Consulado-Geral em Frankfurt (Alemanha), na Embaixada em Montevidéu (Uruguai) e no Consulado-Geral em Faro (Portugal). Atualmente, integra a Delegação do Brasil junto à Organização de Aviação Civil Internacional, em Montréal (Canadá).

LIVRO: GAUGAMELA                 

AUTOR: CLAUDIO GUIMARÃES DOS SANTOS

EDITORA: FRANCISCO ALVES                   

CAPA: RICO LINS

132 PÁGINAS             

PREÇO: R$ 42,00

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